Saturday, 1 October 2011

LONDON, LONDON ...

LONDINIUM 

Fernanda Torres, Revista VEJA - Rio


Passei uma semana em Londres. Na última vez em que estive lá, multiplicava-se o preço em libras por sete para saber quanto as coisas custavam em reais. Agora, pasmo, o caro é sobreviver aqui no Rio.

O verão londrino é tão frio quanto o outono/inverno carioca. Isso faz pensar na falta de sol que aquela ilha deve enfrentar de outubro a maio todos os anos. Saí de casa com pena de perder os dias frescos, mas bastaram algumas horas de espera no vergonhoso terminal do Aeroporto do Galeão para ser tomada pelo desejo incontrolável de ir embora.

Depois de deixar a polícia, o turista desavisado dispõe apenas de uma lanchonete encardida e um diminuto free shop para resolver as emergências. Não há farmácia e, detalhe impressionante, não há nem uma banca de jornal nos portões de embarque.

Qualquer rodoviária tem jornaleiro, será que a porta de saída do Rio de Janeiro é um negócio tão arriscado que não vale a pena montar nem uma desgraça de uma tenda de revistas no corredor de tapumes do Tom Jobim?

Deixei a prova do desmantelo fluminense para trás e cruzei o Atlântico.

Londinium é reconhecida como um centro de comércio e prosperidade desde os tempos do historiador romano Tacitus, 900 anos atrás. Durante séculos, aprimoraram-se, ali, as regras da convivência e o limite da liberdade pessoal.

Meu filho menor, em um movimento digno de uma tartaruga ninja, puxou a alavanca vermelha de emergência ao lado do assento do metrô. O alarme disparou dentro do túnel e continuou zumbindo até chegarmos à próxima estação. Ninguém brigou, não houve cara feia. O vagão riu com sobriedade e voltou para a sua rotina de sempre. Isso em plena era de ameaças terroristas. Um senhor me aconselhou a informar o funcionário da estação sobre o ocorrido, o que fiz prontamente.

Não houve bronca, mas também não senti bom-mocismo em ninguém. É através do pragmatismo cortês que o inglês espera que o resto da humanidade aprenda as regras de sua civilidade.

Um taxista leva quatro anos para tirar a carteira e dirige com a propriedade de quem possui curso superior. De 100 inscritos, apenas um ganha o direito de conduzir nas centenárias ruas. Sabem de cor as mais de 10 000 vielas e avenidas da capital e servem de guia quando preciso.

Com um distanciamento caloroso, eles devotam a mesma atenção aos bêbados, às senhoras idosas, aos bebês barulhentos e aos compatriotas cientes da etiqueta.

Tenho um casal de amigos que se mudou para Richmond, um subúrbio belíssimo distante trinta minutos de metrô do centro de Londres.

Conversando sobre a estranheza dos hábitos em além-mar, meu amigo observou que o inglês come pouco, virando o garfo para baixo para equilibrar uma porção reduzida de alimento sobre a curva enviesada do talher.

Mãe de suas duas filhas, minha amiga sentiu o disparate entre a nossa cultura e a deles na intimidade das festas infantis. Segundo ela, não se contratam decoradores nem animadores profissionais. Os adultos vêm comidos, não se bate palma no Parabéns e o bolo é cortado e colocado em uma bolsa que as crianças levam para comer em casa.

Eu gosto de bater palmas e acho que engolir o bolo sozinha não tem a mesma graça. Além disso, ficaria frustrada de não empurrar um caminhão de comida goela abaixo com o garfo devidamente virado para cima, mas o Brasil está desenvolvendo uma escravidão consumista para a qual deveríamos ficar atentos. A indústria das celebrações infantis é um exemplo enervante dessa tendência emergente.

“No Brasil, eu era madame, aqui, sou classe média”, disse minha amiga. “É muito bom ser classe média, é uma vida mais simples, libertadora de certa forma.”

A Inglaterra, apesar da rainha, do Parlamento, da libra, do luxo e do Rolls-Royce, é um país de classe média. A rua é um bem comum usufruído por todos e os parques são jardins dignos da realeza ocupados por plebeus educados.

Defendo a tese de que o inglês tem pena de quem não é inglês. O Homo sapiens sapiens é inglês. Os outros podem até ser chamados de Homo, alguns poucos de sapiens, mas só o bretão ostenta essa definição elevada à segunda potência.


Monday, 18 July 2011

I LOVE MY PET!

Amor aos animais está em alta porque não tem cobranças, diz especialista

CÁREN NAKASHIMA* 
Colaboração para o UOL

O homem tem bicho de estimação desde que vivia nas cavernas. O cachorro, por exemplo, aparece nas mais antigas pinturas rupestres. Hoje, porém, os animais domésticos alcançaram status de membro da família. Existe um mercado voltado para eles, quase como se fossem crianças. "Nós, certamente, estamos vivendo uma época de enorme atenção em relação aos animais", afirma o professor doutor César Ades, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que o que mudou, também, é que a sociedade ficou mais individualista. "As pessoas sentem-se mais sós e os bichos passaram a ser excelentes companhias. Houve, de certa forma, uma humanização dos animais."

Para a psicóloga Malu Favarato, há muitas pessoas cada vez mais satisfeitas com a convivência com seus bichos -e até casais que preferem criar um animal a ter um filho. O amor aos animais é completamente diferente do amor entre humanos: não tem cobrança e é sempre divertido. "Está tão em alta porque é um amor que gratifica e quase não exige", afirma Mirian Goldenberg. "As pessoas percebem mais reciprocidade do que nos relacionamentos convencionais, onde se sentem constantemente cobradas e criticadas."

Não há dúvida de que o animal não pede nada, além de carinho e cuidados básicos. "Conheço muitas pessoas que dizem receber mais amor e compreensão dos bichos do que dos filhos ou amigos. E não é por falta de convívio social", diz a antropóloga. Para a psicóloga Malu, essa troca afetiva intensa entre o bicho e o dono, muitas vezes, supera relações menos positivas estabelecidas entre pessoas.

Juliana Bussab, jornalista de 35 anos, ama os animais, em especial os felinos. Fundadora da ONG Adote um Gatinho, ao lado de Susan Yamamoto, ela se dedica a resgatar, cuidar e encontrar um bom lar para gatos abandonados. "Eu sou mole. Sofro um pouco por cuidar de um bichinho e depois ter de doá-lo. Mas se eu não fizer isso, vai virar colecionismo", diz. A ONG nasceu há oito anos e tem um abrigo na zona oeste de São Paulo. Conta com 40 voluntários e salva cerca de 80 gatos por mês. Desses, por volta de 30 não conseguem ser doados.

Mas Juliana tem os felinos dela. Em sua casa, vivem oito gatos permanentes, mas lá também funciona como lar temporário para os animais resgatados que precisam de cuidados especiais, como os recém-nascidos, feridos ou em recuperação de uma cirurgia. "Claro que o meu marido adoraria ter o banheiro do escritório livre para usar, mas sempre tem uma mãe com seus filhotinhos por lá. Tenho sorte de ele perceber que é isso que me faz feliz e me apoiar."
  • Haroldo Saboia/UOL
    "Não me sinto mais sozinho", diz Rafael Martins, publicitário que é dono da Alaska

Rafael Martins, publicitário de 30 anos, é dono da Alaska, uma cadela de raça com nome complicado: west highland white terrier. Ela foi abandonada por um canil, após não ser mais útil para dar crias. Resgatada por uma organização de proteção animal, foi adotada por Rafael. "Como moro sozinho, a minha vida mudou. Acordo mais cedo para levá-la passear, ela assiste à televisão comigo, fica no meu pé enquanto estou no computador ou me observando quando estou cozinhando... Está sempre me seguindo, abanando o rabinho. Não me sinto mais sozinho", conta. "Minha preocupação era exclusivamente comigo. Agora, tenho que me dividir com ela. E isso está me fazendo muito feliz. É bom dar carinho para um animal que, provavelmente, nunca recebeu isso antes."

A fisioterapeuta Egle Della Paschoa, de 29 anos, é noiva e seu futuro marido terá de adotar Beatriz, sua cadela vira-lata, pois, dela, Egle não abre mão. "Ela é minha filha, sim, e não me importo com o que as pessoas pensam disso. Eu não faço questão de manter muita proximidade com quem não gosta de animais", diz.

Segundo o psicólogo Guilherme Cerioni, cuidar de animais é uma forma de receber de volta o amor que doamos. "As pessoas, hoje em dia, sentem dificuldade de se relacionar ou de estabelecer um vínculo social, por diversos fatores da forma de vida contemporânea. Penso que é nesse gesto recíproco, entre animal e seu dono, que encontra-se aquele sentimento de carinho e amor sem quaisquer interesses, puramente sincero e com a ausência de palavras". Ainda assim, lembre-se de que é impossível viver sem o afeto humano. “O animal não pode se tornar uma armadilha de isolamento afetivo e social", afirma a psicóloga Malu Favarato.

*Com colaboração de Jhennifer Moises e Vladimir Maluf

Tuesday, 5 July 2011

CAMBRIDGE - UK ! It´s such an amazing dream...


Cambridge - UK,  por dentro

Exame quase não reprova, mas aluno precisa expor pensamento original em entrevistas



Geraldo Vidigal Neto, Especial para o Estado - Estadão.educação


Arquivo Pessoal
O doutorando Geraldo Vidigal Neto: 'Cambridge é uma bem-sucedida universidade moderna.

A primeira impressão do visitante em Cambridge é a de ter voltado no tempo. Professores e alunos em togas pretas caminham por prédios medievais e fazem refeições em enormes mesas coletivas. Por baixo das curiosidades, entretanto, está uma bem-sucedida universidade moderna, que nos leva a questionar  nossas ideias sobre o ensino superior.
Começo pelo mais chocante. Uma graduação leva três anos; o mestrado, normalmente um só. Por semestre o aluno cursa quatro matérias, a maioria eletivas. As aulas acontecem em anfiteatros, sem lista de presença, e a maioria das provas não conta para a nota final; quase não há reprovação.
O pressuposto é o de que o aluno selecionado já sabe fazer boas provas: a tarefa da universidade é ensiná-lo a pensar o conhecimento adquirido.
Nos períodos de aula, o trabalho é intenso: o estudante apresenta, quinzenalmente, um texto sobre um tema de cada curso. Tem então uma hora de discussão/avaliação individual, com um professor ou pós-graduando. Para discutir Hobbes, precisa sentar e ler Hobbes. Deve entender seu pensamento, situá-lo historicamente e apontar incoerências, e não reproduzir palavras de um professor. Em vez do acúmulo de informações, exige-se a capacidade de encontrá-las, entendê-las e transformá-las em algo relevante para os demais.
A mentalidade se estende ainda mais fortemente aos pós-graduandos. O controle do tempo é do aluno; confia-se nele para saber, por exemplo, se precisa de mais uma semana ou um mês para terminar um relatório. Às vezes, para obter mais prazo ou financiamento, basta uma troca de e-mails com seu orientador.
O controle, é claro, existe. Mas é feito sobre os resultados. Um aluno ou professor que repetidamente descumpre obrigações, ou não atinge certo padrão de qualidade, recebe num primeiro momento atenção, e num segundo, alertas sobre seu desempenho. Na pós, professores que continuamente escolhem trabalhos estéreis terão menos verbas e podem ser questionados pela universidade.
Fazer funcionar esse sistema requer que a universidade ofereça meios. Desde o primeiro ano da graduação, cada aluno recebe a chave de uma biblioteca, normalmente ao lado do dormitório, com computadores e livros essenciais, usada dia e noite. Pós-graduandos e professores têm acesso 24 horas às grandes bibliotecas específicas e estudantes de Exatas e Biológicas, aos laboratórios. Todos esses equipamentos custam caro e precisam ser atualizados a cada poucos anos.
O financiamento do sistema é a questão do momento na Inglaterra. Desde 1998, alunos pagam parte do custo da universidade pública – se desejarem, após a entrada no mercado de trabalho. Em 2012, o preço atual deve triplicar. Mas não será metade do que cobram as universidades americanas mais prestigiosas, com as quais as inglesas querem competir.
A mudança tem sido vigorosamente combatida nas ruas, com o argumento de que um estudante não deve começar sua vida profissional em dívida. O governo responde que o principal beneficiário do ensino superior é o próprio aluno, e não há por que a sociedade arcar com os custos dessa fase da educação.
Esse debate tem relevância no Brasil? Nosso modelo é o europeu continental: a sociedade financia o ensino superior, e considera-se que a formação universitária é um valor em si. Mas, na Europa, a massificação desse modelo de ensino, sem aporte de novos recursos, gerou efeitos perversos. Cada vez mais comuns, os diplomas significam cada vez menos.
Embora estejamos bem atrás de outros países sul-americanos em porcentagem de jovens na universidade, em 2011 mais de metade dos adolescentes completará o ensino médio na idade correta (em 1992, era um em cada seis). A expansão do ensino superior, público e privado, tem sido feita por atalhos e fundos especiais. O salto qualitativo exigirá que repensemos as bases do sistema: como fazer, em termos de meios e formato de cursos, para que em nossas universidades jovens talentosos se tornem grandes pensadores – e como vamos dividir essa conta.
* GERALDO VIDIGAL NETO É DOUTORANDO EM DIREITO INTERNACIONAL EM CAMBRIDGE E BOLSISTA DO SIDNEY SUSSEX COLLEGE. ADVOGADO FORMADO PELA USP, FEZ MESTRADO NA SORBONNE (FRANÇA)

Friday, 1 July 2011

YOU ARE NOT WELCOME!


Veja dicas para evitar ser barrado em aeroportos no exterior.

Comprovar vínculo com o país diminiu as chances de ser barrado no aeroporto


  • Comprovar vínculo com o país diminiu as chances de ser barrado no aeroporto
SÃO PAULO – Em 2010, 6.072 brasileiros foram impedidos de entrar na Europa, segundo dados da Agência Europeia de Controle de Fronteiras (Frontex).

Os brasileiros representam 12% do número total de entradas recusadas. Segundo a agência, a maioria dos recusados tentava entrar em Portugal e na Espanha. “O brasileiro tem fama de querer tentar a vida fora do País, e como não precisa de visto antecipado, eles arriscam mais nos países de língua portuguesa ou latina, como Portugal e Espanha”, explica o gerente de Treinamento da Agência de Intercâmbios Experimento, Maurício Pivetta.

De acordo com o gerente, a entrada nos Estados Unidos foi dificultada, e isso chamou a atenção dos brasileiros para os países da Europa. “A diferença entre ser barrado pelos EUA ou pela Europa, é que ao pedir o visto americano a pessoa é barrada no Brasil, já na Europa, ela só descobre quando já está lá”, completa.

Para quem pretende viajar por meio de agências de Intercâmbio, mesmo para os países que mais vetam a entrada dos brasileiros, é mais fácil, pois o curso já está pago, dessa forma fica mais simples provar que o brasileiro tem dia e hora para voltar. “O maior problema dos brasileiros é provar que tem vínculo no Brasil”, comenta Pivetta.

Em alguns casos, como citado pelo gerente, os agentes de imigração separam os amigos que viajam juntos e interrogam de maneiras diferentes, e é nessa hora que os brasileiros são vetados. Outro caso são os brasileiros que viajam tendo algum amigo no exterior. “Os agentes de imigração são treinados e algumas perguntas servem para surpreender o viajante. Muitos perguntam se a pessoa conhece alguém no país e, ao receber a resposta negativa, anunciam o nome da pessoa e pedem para que quem está esperando por ela vá até a imigração. Nessa hora, se a pessoa for até os agentes, o viajante é barrado na certa”, conta o gerente.

Visados
De um modo geral, todos os brasileiros que desembarcam são vistos como suspeitos de quererem se instalar no país, mas alguns perfis são mais visados que os outros.

Conforme explicado por Pivetta, mulheres sofrem mais preconceito dentro dos aeroportos europeus, por conta de uma ideia de que muitas vão para o exterior à procura de trabalho dentro da prostituição.

Pessoas de 18 a 30 anos também são mais avaliadas. “Imagine uma pessoa com 23 anos, que acabou de se formar e quer viajar para o exterior. A primeira coisa que o agente de imigração vai pensar é que o sujeito não tem vínculo com o País nativo e quer tentar a vida fora”, comenta Pivetta.

Provar que quer voltar
Segundo o gerente, a maior dificuldade dos brasileiros é provar que querem retornar para o Brasil depois de conseguirem entrar em outro país. “O brasileiro precisa aprender a provar o vínculo que tem com o Brasil”, completa.

Muitos recursos podem ser utilizados para provar o vínculo, desde holerites, carteira profissional, até escritura de imóveis e declaração do imposto de renda. “Além de provar o vínculo, a pessoa tem que provar que tem dinheiro para se manter durante sua estadia e mostrar passagem de volta. No caso de turismo, passagens com trinta dias geralmente não são bem vistas. É difícil para o agente de imigração acreditar que o indivíduo vai fazer turismo durante trinta dias”, explica Pivetta.

De um modo geral, no setor de imigração dos aeroportos, sempre haverá um intérprete da língua portuguesa. Caso não tenha, uma pessoa que fale o idioma será solicitada. "Caso venha a ser barrado, o brasileiro aguarda no próprio aeroporto o primeiro voo para seu país de origem. Caso a empresa que o passageiro viajou não tenha vaga, o mesmo é direcionado para outras companhias", finaliza Pivetta.

Dicas para entrar no exterior sem problemas *

HospedagemLevar reserva de acomodação, mesmo em casos de estadia em albergues;
Casa de amigosPode entrar sem problemas, desde que prove que o dono da casa, no caso de barsileiros, esteja legal no país;
SaúdeLevar comprovante de seguro-saúde;
FériasSe for passar as férias do trabalho ou estudos fora do Brasil, levar uma carta da universidade ou da empresa que trabalha dizendo o período de férias;
Vínculo empregatícioCarteira profissional e holerite podem provar que a pessoa possui vínculo e estabilidade no Brasil;
RoupasA pessoa deve se vestir de acordo com o motivo da viagem. Por exemplo, um indivíduo que vai fazer turismo não deve chegar na imigração de terno;
Outros documentosEscritura de imóveis ou extrato bancário também prodem ajudar a provar o vínculo;
MenoresEmbora tenham mais facilidade de entrar, menores devem levar documentos que provem estabilidade financeira dos pais, como declaração do imposto de renda dos pais, escritura de imóveis ou documento de veículos em nome dos pais.
* Fonte: Agência de Intercâmbio Experimento


Wednesday, 29 June 2011

BEING A WINNER IN LIFE...


27/06/2011 - 08h25


Cientistas explicam um dos segredos do sucesso


Foi divulgado no mês passado, em uma das principais universidades americanas (Duke), um estudo que dá uma nova visão sobre um dos segredos do sucesso. A julgar pela repercussão, as descobertas vão influenciar a educação no mundo. O estudo revela que, mais importante que a inteligência, o sucesso profissional está associado à habilidade do autocontrole, ou seja, saber gerenciar impulsos e lidar com as frustrações (o detalhamento desse estudo está no www.catracalivre.com.br).

Essas descobertas são baseadas em observações de 30 anos em crianças (algumas delas gêmeas) que demonstraram autocontrole, mantendo o foco no que é relevante. Viram que, além das notas melhores, elas, quando adultas, tendiam a ter mais sucesso profissional, a cuidar melhor da saúde e a ficar longe das drogas e do abuso do álcool.

Há um componente genético, afirmam os cientistas. Mas, segundo eles, é algo que, em parte, pode ser treinado. Justamente por isso, escolas nos Estados Unidos estão usando técnicas para desenvolver o autocontrole em crianças a partir dos 3 anos de idade, com resultados positivos pelo menos do ponto de vista acadêmico.

Afinal, manter o foco no estudo, ainda mais numa era tão dispersiva, exige saber lidar com a frustração.
Gilberto Dimenstein
Gilberto Dimenstein, 53 anos, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha.com às segundas.

Wednesday, 22 June 2011

IS BRAZIL THE NEW SHANGRILÁ?


Crise na Espanha empurra imigrantes latino-americanos para o Brasil

Passageiros forma fila para check-in em aeroporto

  • Passageiros forma fila para check-in em aeroporto
    Anelise Infante
    Em Mad

  • Entre 2003 e 2007, a Espanha recebeu dezenas de milhares de imigrantes, mas a crise econômica que persiste no país está alterando o fluxo migratório. Sem emprego no presente e sem perspectivas para o futuro, os estrangeiros procuram saídas em outros lugares. E o Brasil virou meta para os latino-americanos de baixa formação.

    De acordo com quatro relatórios que investigam as respostas dos imigrantes diante da crise, o Brasil aparece entre os três destinos preferidos de sul-americanos hispânicos (junto com Estados Unidos e Argentina) como opção para conseguir emprego.

    Uma pesquisa da agência de empregos Randstad revelou que 65% dos imigrantes ilegais na Espanha estão pensando ou decididos a trocar a Europa por outro mercado se não encontrarem trabalho até 2012.

    Os estudos antecipam um fluxo que já pode ter começado. Em 2010, pela primeira vez nos últimos 35 anos, a Espanha registrou uma taxa de saída de população ativa maior do que a de entrada.

    No ano passado, 48 mil imigrantes chegaram e 43 mil estrangeiros retornaram aos seus países de origem, mas 90 mil espanhóis também foram morar no exterior.

    O ritmo de redução é tão vertiginoso que em cinco anos o fluxo de chegada pode ser praticamente nulo. Pelas previsões da Fundação de Estudos de Economia Aplicada, se a crise se mantiver como agora, em 2014 chegariam apenas 3 mil imigrantes.

    Saídas

    Josep Oliver, professor de economia da Universidade Autônoma de Barcelona e um dos autores do Anuário de Imigração da Espanha, do Ministério do Interior, disse à BBC Brasil que "80% dos imigrantes não têm outras saídas além do aeroporto rumo a mercados com melhores opções, como o Brasil, que oferece oportunidades sólidas".

    A pesquisa Mobilidade Laboral, da Randstad, indica que a Espanha perdeu interesse para o trabalhador estrangeiro de baixa formação.

    A razão é o perfil destes imigrantes, cujos currículos se limitam a ofícios relacionados a áreas que não se reativam, como serviços e construção.

    O setor de construção foi precisamente o que detonou a crise de desemprego. De 2008 a 2010 quebraram mais de 200 mil empresas do ramo, que davam trabalho a 70% dos imigrantes sul-americanos, segundo dados oficiais.

    Os estrangeiros entrevistados na pesquisa responderam que querem sair da Espanha, mas temem crises políticas e econômicas na América Latina e só vêem bonança financeira no Brasil, onde criticam a falta de segurança pública.

    Mais ainda assim estão convencidos de que se não encontrarem emprego até 2012, o caminho é o aeroporto. Estados Unidos, Brasil ou Argentina, na ordem dos mais votados.

    Alta formação

    O Brasil também aparece como opção para espanhóis de alta formação.Um estudo elaborado pela consultora Adecco e pela Universidade de Navarra indica que os espanhóis com alto grau de formação e que também foram atingidos pela crise colocam o Brasil como um dos seis destinos preferidos para emigrar por emprego.

    O mercado brasileiro é visto como opção para 55% dos entrevistados, junto com Alemanha, França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Argentina.

    O perfil médio dos interessados em cruzar o Atlântico é de homens, entre 25 e 35 anos, com formações em engenharia, arquitetura, informática, medicina, biologia e investigação científica.

    "Que engenheiro ou arquiteto não quer ir para o Brasil, de olho nas obras de infraestrutura? Está tudo por fazer, e agora há também recursos, referências de empresas espanholas já estabelecidas e a abertura ao (idioma) espanhol", disse à BBC Brasil o professor de Economia da Universidade de Navarra Sandalio Gómez, autor do relatório apresentado em janeiro.

    "Essas pessoas entendem que insistir aqui é uma perda de tempo. O Brasil cresce a uma velocidade que nenhum país da Europa pode se comparar", concluiu.

    Os dados do Instituto Nacional de Estatística confirmam a tendência. Até janeiro de 2011, havia 1,8 milhão de espanhóis morando em outros países; 92.260 no Brasil, um aumento de 10.071 pessoas em um ano no território brasileiro.

    Problemas

    Mas, apesar das oportunidades, o país perde para outros destinos em vários quesitos.

    Os entrevistados da pesquisa ressaltam insegurança, falta de serviços públicos de qualidade, instabilidade econômica e jurídica para quem quer criar um negócio próprio e a distância de seus lugares de origem como barreiras a levar em consideração.

    O governo espanhol reforça estas conclusões. A diretora-geral do Departamento de Emigração, (que estuda as condições dos espanhóis em outros países), Pilar Pin, define como impedimentos as carências nos sistemas de seguro-desemprego, rede púbica de saúde e educação e a legislação trabalhista.

    Em um relatório oficial apresentado em maio depois de uma visita a Brasília, Pin afirmou que o Brasil tem "enorme potencial com seus iminentes eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, além de obras para abastecimento de energia, proteção ambiental e turismo".

    Apesar disso, o relatório observa: "A legislação de implantação de empresas no Brasil é restritiva demais. Nossos trabalhadores vão com licença de obra. No final do contrato encontram muitas dificuldades para estabelecer-se por conta própria".

    Mesmo assim, segundo o relatório, as autoridades brasileiras calculam que faltam 1,9 milhão de profissionais de alta qualificação. Uma lacuna que os espanhóis poderiam ocupar.

Monday, 13 June 2011

MAKING DIFERENCE ON THE INTERNET!


Salman Khan - Some Cool Photoshoots of Salman
Renata Betti, Revista VEJA


O extraordinário sucesso de um jovem matemático do MIT mostra como a internet pode ser uma poderosa ferramenta para o ensino - e revolucionar a maneira como as pessoas assimilam conhecimento - Renata Betti

Diante de uma plateia formada por alguns dos mais bem-sucedidos empresários do Vale do Silício, na Califórnia, o americano descendente de indianos Salman Khan, 34 anos, recebeu aplausos especialmente efusivos vindos de um canto do auditório. O espectador mais entusiasmado era Bill Gates, fundador da Microsoft. que subiu ao palco para dizer que o jovem à sua frente estava dando uma contribuição decisiva para a utilização da internet na educação. Formado em matemática. ciência da computação e engenharia elétrica pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Sal, como ficou mais conhecido, é o fenômeno atual da internet, digamos, séria. O site da Khan Academy (www khanacademy. org) está chegando rapidamente aos 60 milhões de acessos de pessoas interessadas em assistir gratuitamente a algumas de suas mais de 2000 aulas. Elas duram de dez a vinte minutos, tempo em que Sal explica de maneira milagrosamente simples fenômenos complexos de quarenta áreas do conhecimento. São aulas cujos temas variam do cálculo da hipoteca de um imóvel à diferença entre os vírus e as bactérias ou que ensinam como os materiais radioativos se desintegram.Sal usa apenas sua voz e um mouse pad. com que escreve ou desenha os símbolos necessários para se expressar. O nível de dificuldade vai dos primeiros anos do ensino fundamental, abrangendo operações básicas de soma e subtração. ao MBA. Com lições sobre venture capital e as flutuações no preço do ouro.Diz Sal: "Meus professores eram enfadonhos. Dou aulas como as que gostaria de ter tido".À primeira vista. suas aulas não parecem exatamente atraentes. Na tela do computador, surge a reprodução de uma lousa preta, e ao fundo se ouve o timbre grave da voz de Sal. Um de seus méritos reside em dirigir-se aos estudantes em uma linguagem didática e compreensível. Outro é oferecer a seus seguidores desafios constantes. Só passa ao nível seguinte quem acerta pelo menos dez exercícios consecutivos, propostos ao cabo de cada lição. O próprio ambiente virtual (ainda que. nesse caso, sem uso de grandes recursos tecnológicos) funciona por si só, como um poderoso chamariz para as crianças e os jovens que ali navegam. Cada um aprende no seu tempo, repetindo a explicação quantas vezes julgar necessário. "A internet estimula a apreensão de informações de forma autodidata e exerce um magnetismo sobre as novas gerações que não pode mais ser desprezado pelos educadores", observa José Armando Valente. do núcleo de informática aplicada à educação da Universidade Estadual de Campinas.A estreia das aulas de Sal na rede deu-se em 2006, de maneira despretensiosa. Na época. ele trabalhava como analista do mercado financeiro e era frequentemente requisitado pelos três primos - de idade entre 10 e 12 anos - para que lhes tirasse duvidas de matemática. Como eles moravam em cidades diferentes. Sal teve a ideia de começar a produzir, de casa mesmo, vídeos com explicações bem curtas. em estilo já bastante parecido com o das aulas atuais. Punha o material na web via YouTube. Para seu espanto, não apenas os primos mas muitas outras pessoas passaram a acompanhá-lo.Foi em 2009. já com acessos na casa dos milhões e uma vultosa poupança. que Sal deixou o emprego em um fundo de investimemo para dedicar-se exclusivamente ao que se tornara a Khan Academy. Sem fins lucrativos. virou um negócio que ele mantinha apenas com dinheiro próprio até receber um inesperado telefonema de Bill Gates. O fundador da Microsoft foi direto ao ponto: contou que os três filhos. e ele próprio. eram seus "seguidores incondicionais"- e doou à Khan Academy 1.5 milhão de dólares. A revista americana Formne, Gates disse: "Morro de inveja desse cara. Não consigo ensinar meus filhos como ele faz" Outra doação veio do Google. que destinou 2 milhões de dólares ao matemático. para que seu site fosse traduzido para pelo menos dez línguas. inclusive português - com prazo até 2012. Parte dos vídeos já recebeu traduções amadoras. que circulam na rede em blogs e sites de estudantes e professores.O sucesso de Salman Khan é a prova de que o ensino pela internet tem um potencial que ainda não foi utilizado como poderia. Os especialistas atribuem o uso precário que se faz da web na educação ao despreparo dos professores. Alguns dos exemplos de sucesso obtidos em diversas partes do mundo ocorrem quando os mestres vencem suas próprias barreiras e inibições e passam a se sentir mais à vontade no ambiente da internet. Em escolas do Japão ou da Coreia do Sul, os alunos são encorajados a ficar conectados, engajando-se em debates on-line ou fazendo experimentos científicos na rede -- em que cada um seja responsável por uma etapa do projeto. No Brasil, o colégio Integral, de Campinas, ainda em regime experimental, distribuiu tablets a estudantes do ensino médio. Os alunos agora discutem geopolítica em rede e compartilham seus esforços na resolução de problemas. Eles foram apresentados às aulas on-line de Sal na Khan Academy. "E uma tentativa de despertar a atenção de jovens que perderam o interesse pelo aprendizado da forma como ele 6 apresentado pela escola - uma instituição que parou no tempo", avalia o diretor Ricardo Falco.Sal Khan guarda um traço comum a jovens que, como ele, acumularam dinheiro e desfrutaram certa notoriedade muito cedo: a excentricidade. Toma apenas uma refeição diária ("como os animais que vivem no zoológico") e faz reuniões de trabalho enquanto se exercita correndo pelas ruas da cidade de Mountain View, na Califórnia, onde mora. "A lógica de Sal é sempre fazer no mínimo duas coisas ao mesmo tempo, com uma empolgação quase infantil". define o amigo Ariel Poler, 44 anos, fundador de cinco empresas de internet - uma delas vendida à Microsoft. Só recentemente Sal, casado com uma médica e pai de um menino de 2 anos, abandonou um cômodo acanhado de sua casa e instalou sua fundação educacional sem fins lucrativos em uma sala comercial. Contratou sete funcionários. mas ele próprio continua sendo o único responsável pelas aulas invariavelmente ministradas na lousa digital. Ele trabalha oito horas diárias, além daquelas dedicadas a estudar assuntos em que não é especialista - caso da Revolução Francesa, cuja origem é explicada por Sal como o resultado esperado da coexistência de uma maioria de pessoas que trabalham, passam fome e ainda têm de sustentar com impostos alguns poucos "parasitas esnobes que se concedem títulos pomposos".

HOMOSAPIENS or NEANRDHETAL?


Os seres humanos não são apenas animais mais inteligentes

Prospect
Raymond Tallis*



Nem todas as ideias erradas são dignas de se contestar. Existem algumas, porém, que não podem ser ignoradas. Aquelas que interpretam erroneamente questões de suprema importância, ou atrapalham nosso pensamento sobre elas, ou têm sérias consequências, devem ser discutidas.
Uma dessas ideias é a de que os seres humanos são essencialmente animais; ou no mínimo muito mais animalescos do que havíamos pensado. Ela leva a alegações de que somos apenas macacos inteligentes, de que nossas mentes não passam de sinais elétricos no cérebro.
Existem inúmeras manifestações desse "biologismo". Ele é explicado em milhares de livros e artigos sobre a chamada neuroestética, teoria dos memes, neurodireito e em abordagens neuroevolucionistas da política e da economia. Seus defensores afirmam, por exemplo, que somos capazes de compreender melhor a arte visual rastreando o cérebro para estudar sua reação, ou que a criminalidade é melhor explicada por um desequilíbrio entre os lobos frontais e o corpo amigdaloide.
Passei mais de 30 anos argumentando contra o biologismo, e recentemente escrevi "Aping Mankind: Neuromania, Darwinitis and the Misrepresentation of Humanity" ['Macacando' a humanidade: Neuromania, darwinite e a representação errônea da humanidade]. A principal suposição que sustenta o biologismo é que os seres humanos são essencialmente organismos, em vez de pessoas. Para realmente compreendê-los, diz a teoria, é preciso admitir que eles não são agentes conscientes, mas pedaços de matéria viva sujeitos às leis da biosfera.
O biologismo tem duas correntes, que eu chamo de neuromania e darwinite. A neuromania se baseia na crença de que a consciência humana é idêntica à atividade cerebral. Existem, é claro, correlações entre a atividade cerebral e aspectos da consciência. Estas podem ser demonstradas observando-se que partes do cérebro se "acendem" quando os sujeitos relatam determinadas experiências. No entanto, isso não quer dizer que a atividade neural é uma causa suficiente desses aspectos da consciência: que, por exemplo, os eventos vistos no córtex orbitofrontal quando vemos um objeto bonito sejam toda a causa de nossa experiência da beleza, e ainda menos que eles sejam nossa experiência da beleza.
Na verdade, não há uma explicação neural concebível de muitos aspectos da consciência humana. Um registro de impulsos neurais não pode explicar a simultaneidade e multiplicidade de um momento. Estou consciente, por exemplo, da tela do computador à minha frente, das letras que se espalham por ela, da luz do sol lá fora e de pássaros cantando. Essas coisas são experimentadas separadamente, e no entanto como pertencentes a um único momento presente. Este muitos-em-um é uma noz muito mais dura de quebrar do que o mistério da Trindade.
Mais importante ainda, a atividade neural não oferece explicação sobre a fonte da "referencialidade": a qualidade essencial da consciência, que significa que minhas percepções, crenças e esperanças se referem a algo diferente de impulsos neurais. A referencialidade dos conteúdos da consciência - que os filósofos tradicionalmente chamam de "intencionalidade" - é plenamente desenvolvida nos seres humanos, que são conscientes de si mesmos como separados de seus mundos de objetos, signos e conceitos. E a intencionalidade é a origem última da esfera humana: a comunidade de mentes, tecida por um trilhão de apertos de mão cognitivos ou atenção compartilhada, dentro da qual nossa liberdade opera e nossas vidas narradas são conduzidas.
O outro pilar do biologismo - a darwinite - também decorre do erro de identificar a mente com o cérebro. Se o cérebro é um órgão que evoluiu para otimizar as probabilidades de sobrevivência, segundo essa teoria, a mente também é. A darwinite, consequentemente, confunde a evolução biológica da espécie com o desenvolvimento de nossa cultura. A teoria da evolução descreve os processos da seleção natural que sem dúvida deram origem ao Homo sapiens. Mas é errado concluir que se aceitarmos essa teoria também teremos de procurar uma explicação evolucionista da gênese e da forma da cultura humana.
Mas a darwinite é ainda mais vulnerável a ataques que a neuromania. Veja a diferença entre uma hora de vida animal e uma hora de vida humana. Admito que apreciar a diferença é mais difícil quando falamos em linguagem que animaliza o comportamento humano e humaniza o comportamento animal. Daisy, a vaca, bate em um arame elétrico e a partir de então o evita. Eu decido que quero melhorar minhas chances na vida, então me matriculo em um curso que começa no ano que vem e contrato uma babá para que eu tenha mais tempo para estudar. Tanto Daisy como eu podemos ser descritos como praticantes do "comportamento aprendido", mas isso oculta diferenças profundas. Estas incluem meu complexo sentido de tempo e o fato de que estou lidando com estruturas e hábitos abstratos. Nós conduzimos nossas vidas, regulando-as por narrativas compartilhadas e individuais, enquanto os animais meramente as vivem.
Muitas pessoas acreditam que o biologismo decorre inevitavelmente da teoria evolucionista. As pessoas muitas vezes pensam que sou um criacionista ou um prosélito de alguma religião. Para constar, sou um ateu humanista, um médico e neurocientista para quem a ciência é nosso maior monumento intelectual. Sou um agnóstico ontológico, não um dualista cartesiano. Só porque eu nego a identidade da mente com a atividade cerebral, não significa que eu considere a mente como um fantasma no maquinário do cérebro.
Acredito que há muito trabalho a ser feito para dar sentido a um mundo que contém objetos materiais como seixos ou cérebros e itens mentais como pensamentos e experiências. Não aceito que a única alternativa a um relato sobrenatural da humanidade seja um naturalista. Entre o nascimento e a morte, habitamos uma comunidade de mentes, um mundo humano que vai além da natureza, onde podemos conscientemente usar o que aprendemos sobre as leis da natureza para fins não pretendidos na biosfera.
Isto levanta perguntas sobre como chegamos a ser tão diferentes, onde se situa a mente humana no universo material e quais são os limites de nossa capacidade de nos transformarmos. Se rejeitarmos a ideia de que a atividade neural é idêntica à consciência, como deveremos entender o papel central que o cérebro tem em nossa vida consciente? Mas não faremos progresso com essas perguntas enquanto pensarmos que já as respondemos. Em particular, enquanto ignorarmos os aspectos irredutivelmente relacionais da consciência humana - sua referencialidade, sua participação na comunidade de mentes, em que sujeito e objeto são parceiros inseparáveis -, ficaremos pendentes de perguntas estéreis sobre onde ela se localiza, senão no cérebro.
O biologismo também importa porque defende uma concepção degradada da humanidade. Não é histeria sugerir que relatos de pessoas como organismos vorazes, dominados por imperativos biológicos dos quais não têm consciência, poderiam se autorrealizar.
Enganos que têm uma aceitação tão ampla quanto os que acabei de descrever não poderiam ficar sem consequências. Eles impedem nosso caminho para melhores respostas, para o que somos e para uma melhor compreensão de nossa relação com o mundo físico que nos cerca.
*Raymond Tallis foi eleito "fellow" da Academia de Ciências Médicas por sua pesquisa sobre acidente vascular-cerebral e epilepsia?
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Tuesday, 7 June 2011

S O S EARTH!


O planeta é capaz de suportar mais dois EUA?


International Herald Tribune

Chandran Nair*
George El Khouri Andolfato


Planeta não tem condições de abrigar o desenvolvimento econômico nos mesmos moldes que vêm sendo adotados até agora
Planeta não tem condições de abrigar o desenvolvimento econômico nos mesmos moldes que vêm sendo adotados até agora.

Tente imaginar um mundo com mais três Estados Unidos. Três potências econômicas gigantes, com cidadãos que compram, vendem e consomem, tudo na busca de suas versões do Sonho Americano. Difícil imaginar? Mas é nesta direção que os economistas dizem que estamos seguindo.

O amplo consenso é de que a China superará os Estados Unidos para se tornar a maior economia do mundo em duas décadas. E em 2050, a Índia será igualmente grande.

Essa perspectiva empolga muita gente –as do mundo dos negócios acima de tudo, mas também os governos asiáticos. Após décadas de trabalho árduo e luta, centenas de milhões estão à beira da abundância da classe média.

De acordo com as tendências atuais, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional esperam que o produto econômico global cresça entre seis e sete vezes entre 2005 e 2050. Desse modo, o PIB total da Ásia cresceria dos cerca de US$ 30 trilhões atuais para cerca de US$ 230 trilhões.

Esse é um número impressionante. Mas ele é realmente desejável –ou mesmo possível?

Se aos Estados Unidos se juntarem duas outras massas econômicas tão grandes (ou mesmo maiores, já que segundo as tendências atuais a economia americana triplicaria em tamanho até a metade do século), nosso planeta se tornará inimaginavelmente estressado.

Nós já ultrapassamos a capacidade regenerativa do planeta, mas isso não costuma ser computado em projeções econômicas sobre o crescimento.

Veja o exemplo da energia. Se os chineses e indianos usarem tanta energia per capita quanto os americanos, o consumo total de energia deles seria 14 vezes maior do que o dos Estados Unidos.

Mesmo se os asiáticos se restringirem ao menor uso de energia dos europeus, eles ainda assim consumiriam de oito a nove vezes mais energia que os Estados Unidos atualmente.

Independente do modo como olhemos, o mundo não pode suportar tamanho crescimento do uso de energia. As formas convencionais de geração de energia produziriam carbono em tamanho volume que nosso planeta estaria condenado a uma mudança climática inimaginável, enquanto as alternativas –até mesmo a energia nuclear– simplesmente não são viáveis dentro dos prazos mencionados.

Ou veja o exemplo dos carros. As estimativas sugerem que se a China, Índia e outros países em desenvolvimento atingirem o mesmo nível de propriedade de automóveis do Ocidente, o número de carros poderia chegar a 3 bilhões no mundo, quatro vezes o total atual, em quatro décadas. De onde viria o combustível para esses veículos e qual seria seu impacto ambiental?

Cálculos semelhantes podem ser feitos para tudo, de frangos a iPads. Colocando de modo simples, este mundo não possui o suficiente para mais dois Estados Unidos movidos pelo consumo.

Políticos, economistas e empresários permanecem em negação, usando a muleta da tecnologia, do livre mercado e das finanças para gerar mensagens de inovação e esperança. Mas esperança não é um plano.

Os governos asiáticos devem rejeitar as visões tacanhas daqueles que pedem para que os asiáticos consumam incessantemente –seja por economistas e líderes ocidentais, que desejam que a região se transforme em um “motor de crescimento” e assim reequilibrar a economia mundial, seja por governos asiáticos, convencidos de que economias em expansão constante são o que suas populações precisam.

Isso não é o mesmo que sugerir que as pessoas permaneçam pobres. Também não é um argumento contra o desenvolvimento econômico. Em vez disso, é um pedido para moderação no consumo, canalizado de modo a não aumentar a demanda da base de recursos; não esgotar ou degradar nosso meio ambiente; não produzir mais emissões e poluentes, e nem colocar em risco o sustento e saúde de milhões.

Para que a Ásia obtenha prosperidade para a grande maioria de sua população, os países da região devem encontrar formas alternativas de promover o desenvolvimento humano e econômico. O que a Ásia deve priorizar são incentivos que recompensem atividades “mais é menos” –aquelas que, diferente da anterior, não desvalorizem recursos nem externalizem seus verdadeiros custos. Isso seria um afastamento do capitalismo extremo atual, um remodelo que atenda às necessidades de um século 21 saturado.

Esses incentivos precisam ser poderosos. De novo, considere a China. Para que atinja sua meta de ser “moderadamente próspera” até 2050, com um PIB per capita real de aproximadamente quatro vezes o número atual, ela estima que teria que promover um aumento de sete vezes na eficiência do uso de recursos. A Índia está diante do mesmo desafio. Independente da natureza da política, ambas precisarão de uma intervenção forte e ousada do governo, especialmente contra os interesses adquiridos. Essas medidas precisariam ser complementadas por regras draconianas, restringindo o consumo de uma série de produtos, particularmente combustíveis fósseis, pesca e produtos florestais.

Grandes investimentos em infraestrutura pública também seriam necessários para dar às pessoas o transporte, água e saneamento, saúde e educação que muito necessitam. A segurança alimentar e a segurança além da agricultura industrial devem ser uma prioridade.

Adotar um panorama que coloque a gestão de recursos no centro de todas as políticas não será fácil para a Ásia, especialmente em sociedades que foram instruídas nas últimas décadas que a prosperidade só pode vir por meio das formas convencionais de crescimento econômico movido pelo consumo.

Mas se os governos da região puderem se erguer à altura deste desafio, serão aqueles que tomam decisões em Pequim, Nova Déli e Jacarta que determinarão se nosso mundo terá um futuro –e não, como tem sido o padrão nos últimos dois séculos, as capitais da Europa e dos Estados Unidos.

(Chandran Nair é fundador e presidente-executivo do Instituto Global para o Amanhã, um centro de estudos pan-asiático, e autor de “Consumptionomics: Asia’s role in Reshaping Capitalism and Saving the Planet”.)

Tradução: Em Hong Kong (China)

Thursday, 2 June 2011

IT USED TO BE THE BEST...


USP muda regras da Fuvest e vestibular 2012 fica mais difícil.

Thiago Minami
Em São Paulo


A USP (Universidade de São Paulo) definiu mudanças no vestibular 2012, elaborado pela Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular). As alterações nas regras devem deixar o processo mais difícil. As decisões foram tomadas na manhã desta quinta-feira (2) em reunião do Conselho de Graduação da USP, com representantes de 42 unidades. O conselho permanece reunido até o final da tarde.

Conselho da USP aprova mudanças na Fuvest

Como era o vestibularComo será a partir de hoje
Nota da 1ª fase não é considerada no resultado finalNota da 1ª fase será aceita no resultado
Nota mínima de corte da 1ª fase é 22Nota mínima da 1ª fase passa para 27
Segundo dia da 2ª fase tem 20 questõesSegundo dia da 2ª fase terá 16 questões
Na 2ª fase, cursos convocam 3 candidatos por vagaNa 2ª fase, cursos vão convocar de 2 a 3 candidatos por vaga
Não é permitido mudar de opção de carreiraA partir da 3ª chamada, será possível mudar de carreira
No próximo vestibular, a nota da primeira fase terá peso na nota final do candidato -- anteriormente, ela era considerada apenas para selecionar o candidato da segunda fase.
A nota mínima de corte subirá de 22 para 27 pontos; de dois a três candidatos podem ser aprovados para a 2ª fase – antes eram três. Caso não seja convocado após a 3ª chamada, o candidato poderá mudar de carreira.
No segundo dia da segunda fase, a prova terá 16 questões – antes eram 20 . Nessa prova, são cobrados conhecimentos do núcleo comum de conhecimento do ensino médio: história, geografia, matemática, física, biologia e inglês e as questões podem abranger mais de uma disciplina.

Polêmica

As mudanças já haviam passado por outras duas outras rodadas de discussões este ano no conselho antes da aprovação final. Representantes discentes apontaram que o vestibular, um dos mais difíceis do país, se tornaria ainda mais "elitizado".
Outro ponto questionado é a mudança de carreira a partir da 3ª chamada. Aqueles que elegeram um curso como 1ª opção terão prioridade sobre os outros? Itens como esse ainda serão discutidos em outras instâncias. 

Bônus

Além dessas mudanças, o conselho já tinha aprovado um aumento no bônus nas notas dos estudantes de escolas públicas de 12% para 15%. Esse acréscimo depende do desempenho do candidato em duas provas do vestibular da 1ª fase da Fuvest durante o segundo e o terceiro ano do ensino médio.
Atualmente, o vestibular da Fuvest é formado por uma primeira fase, com 90 questões de múltipla escolha, e uma segunda fase com três dias de provas dissertativas e redação.
Os interessados em fazer a Fuvest devem se inscrever pela internet, entre os dias 26 de agosto de 2011 e 9 de setembro. A primeira fase será realizada no dia 27 de novembro e a lista dos convocados e dos locais de exames da segunda fase será divulgada no dia 19 de dezembro.

As provas da 2ª fase serão nos dias 8, 9 e 10 de janeiro de 2012. A primeira chamada será publicada no dia 4 de fevereiro, com matrículas nos dias 8 e 9 do mesmo mês.

Matrícula na USP: veja fotos do tradicional trote da Poli

Foto 19 de 55 - A água, neste caso, não é para limpeza. Calouros assistem a trote de colegas na Poli-USP Mais Aline Arruda/UOL

UOL Celular

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I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!