Amor aos animais está em alta porque não tem cobranças, diz especialista
CÁREN NAKASHIMA*
Colaboração para o UOL
O homem tem bicho de estimação desde que vivia nas cavernas. O cachorro, por exemplo, aparece nas mais antigas pinturas rupestres. Hoje, porém, os animais domésticos alcançaram status de membro da família. Existe um mercado voltado para eles, quase como se fossem crianças. "Nós, certamente, estamos vivendo uma época de enorme atenção em relação aos animais", afirma o professor doutor César Ades, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que o que mudou, também, é que a sociedade ficou mais individualista. "As pessoas sentem-se mais sós e os bichos passaram a ser excelentes companhias. Houve, de certa forma, uma humanização dos animais."
Para a psicóloga Malu Favarato, há muitas pessoas cada vez mais satisfeitas com a convivência com seus bichos -e até casais que preferem criar um animal a ter um filho. O amor aos animais é completamente diferente do amor entre humanos: não tem cobrança e é sempre divertido. "Está tão em alta porque é um amor que gratifica e quase não exige", afirma Mirian Goldenberg. "As pessoas percebem mais reciprocidade do que nos relacionamentos convencionais, onde se sentem constantemente cobradas e criticadas."
Não há dúvida de que o animal não pede nada, além de carinho e cuidados básicos. "Conheço muitas pessoas que dizem receber mais amor e compreensão dos bichos do que dos filhos ou amigos. E não é por falta de convívio social", diz a antropóloga. Para a psicóloga Malu, essa troca afetiva intensa entre o bicho e o dono, muitas vezes, supera relações menos positivas estabelecidas entre pessoas.
Juliana Bussab, jornalista de 35 anos, ama os animais, em especial os felinos. Fundadora da ONG Adote um Gatinho, ao lado de Susan Yamamoto, ela se dedica a resgatar, cuidar e encontrar um bom lar para gatos abandonados. "Eu sou mole. Sofro um pouco por cuidar de um bichinho e depois ter de doá-lo. Mas se eu não fizer isso, vai virar colecionismo", diz. A ONG nasceu há oito anos e tem um abrigo na zona oeste de São Paulo. Conta com 40 voluntários e salva cerca de 80 gatos por mês. Desses, por volta de 30 não conseguem ser doados.
Mas Juliana tem os felinos dela. Em sua casa, vivem oito gatos permanentes, mas lá também funciona como lar temporário para os animais resgatados que precisam de cuidados especiais, como os recém-nascidos, feridos ou em recuperação de uma cirurgia. "Claro que o meu marido adoraria ter o banheiro do escritório livre para usar, mas sempre tem uma mãe com seus filhotinhos por lá. Tenho sorte de ele perceber que é isso que me faz feliz e me apoiar."
Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que o que mudou, também, é que a sociedade ficou mais individualista. "As pessoas sentem-se mais sós e os bichos passaram a ser excelentes companhias. Houve, de certa forma, uma humanização dos animais."
Para a psicóloga Malu Favarato, há muitas pessoas cada vez mais satisfeitas com a convivência com seus bichos -e até casais que preferem criar um animal a ter um filho. O amor aos animais é completamente diferente do amor entre humanos: não tem cobrança e é sempre divertido. "Está tão em alta porque é um amor que gratifica e quase não exige", afirma Mirian Goldenberg. "As pessoas percebem mais reciprocidade do que nos relacionamentos convencionais, onde se sentem constantemente cobradas e criticadas."
Não há dúvida de que o animal não pede nada, além de carinho e cuidados básicos. "Conheço muitas pessoas que dizem receber mais amor e compreensão dos bichos do que dos filhos ou amigos. E não é por falta de convívio social", diz a antropóloga. Para a psicóloga Malu, essa troca afetiva intensa entre o bicho e o dono, muitas vezes, supera relações menos positivas estabelecidas entre pessoas.
Juliana Bussab, jornalista de 35 anos, ama os animais, em especial os felinos. Fundadora da ONG Adote um Gatinho, ao lado de Susan Yamamoto, ela se dedica a resgatar, cuidar e encontrar um bom lar para gatos abandonados. "Eu sou mole. Sofro um pouco por cuidar de um bichinho e depois ter de doá-lo. Mas se eu não fizer isso, vai virar colecionismo", diz. A ONG nasceu há oito anos e tem um abrigo na zona oeste de São Paulo. Conta com 40 voluntários e salva cerca de 80 gatos por mês. Desses, por volta de 30 não conseguem ser doados.
Mas Juliana tem os felinos dela. Em sua casa, vivem oito gatos permanentes, mas lá também funciona como lar temporário para os animais resgatados que precisam de cuidados especiais, como os recém-nascidos, feridos ou em recuperação de uma cirurgia. "Claro que o meu marido adoraria ter o banheiro do escritório livre para usar, mas sempre tem uma mãe com seus filhotinhos por lá. Tenho sorte de ele perceber que é isso que me faz feliz e me apoiar."
- "Não me sinto mais sozinho", diz Rafael Martins, publicitário que é dono da Alaska
Rafael Martins, publicitário de 30 anos, é dono da Alaska, uma cadela de raça com nome complicado: west highland white terrier. Ela foi abandonada por um canil, após não ser mais útil para dar crias. Resgatada por uma organização de proteção animal, foi adotada por Rafael. "Como moro sozinho, a minha vida mudou. Acordo mais cedo para levá-la passear, ela assiste à televisão comigo, fica no meu pé enquanto estou no computador ou me observando quando estou cozinhando... Está sempre me seguindo, abanando o rabinho. Não me sinto mais sozinho", conta. "Minha preocupação era exclusivamente comigo. Agora, tenho que me dividir com ela. E isso está me fazendo muito feliz. É bom dar carinho para um animal que, provavelmente, nunca recebeu isso antes."
A fisioterapeuta Egle Della Paschoa, de 29 anos, é noiva e seu futuro marido terá de adotar Beatriz, sua cadela vira-lata, pois, dela, Egle não abre mão. "Ela é minha filha, sim, e não me importo com o que as pessoas pensam disso. Eu não faço questão de manter muita proximidade com quem não gosta de animais", diz.
Segundo o psicólogo Guilherme Cerioni, cuidar de animais é uma forma de receber de volta o amor que doamos. "As pessoas, hoje em dia, sentem dificuldade de se relacionar ou de estabelecer um vínculo social, por diversos fatores da forma de vida contemporânea. Penso que é nesse gesto recíproco, entre animal e seu dono, que encontra-se aquele sentimento de carinho e amor sem quaisquer interesses, puramente sincero e com a ausência de palavras". Ainda assim, lembre-se de que é impossível viver sem o afeto humano. “O animal não pode se tornar uma armadilha de isolamento afetivo e social", afirma a psicóloga Malu Favarato.
*Com colaboração de Jhennifer Moises e Vladimir Maluf