Sunday 22 August 2010

NOT SO EASY AND NOT A MIRACLE....BUT POSSIBLE!

Para aprender outro idioma
Apesar das promessas de métodos “fáceis” de ensino de línguas para adultos, pesquisadores garantem: maioria dos casos é preciso dedicação e coragem de se arriscar a errar, pois esse tipo de aprendizagem requer a formação de novas redes neurais – o que requer tempo e treino.




por Jan Dönges



O domínio de uma língua estrangeira, em especial o inglês, é uma exigência cada vez mais frequente nas empresas. 

A maior parte dos candidatos às vagas, por sua vez, atesta no currículo que fez cursos – o que em geral é verdade. Mas, na prática, são poucos os que sustentam uma entrevista mais detalhada em outro idioma ou mantêm uma conversação em inglês sem grande esforço. Para muitos prevalece a sensação de só cometer um erro após outro. E o pior é que a insegurança quanto à gramática e o medo de cometer equívocos terminam por comprometer as possibilidades de acerto. Em muitos casos, nem mesmo anos de aula mudam essa situação. 



Talvez por isso pareça, para tanta gente, tão sedutora a proposta de eliminar as antigas tradições no ensino de línguas estrangeiras e investir em novos métodos, mais rápidos eficazes.

Os livros, CDs e DVDs para autodidatas ou prospectos de escolas particulares sempre voltam a afirmar veementemente que tudo o que precisamos é uma abordagem correta. E o melhor: podemos nos livrar com certeza das horas de estudo em casa, das listas de vocabulário, do jargão linguístico! Verdade? Especialistas acreditam que não. Principalmente quando se trata de adultos, nada substitui o trabalho duro.

É claro que há o caso de crianças que crescem em um país estrangeiro e aprendem a língua de seu ambiente sem grandes dificuldades. E avanços na psicologia e linguística poderiam ajudar a transferir mecanismos de aprendizagem semelhantes para o mundo adulto. Por trás disso não está apenas o argumento promocional de poupar os alunos do grande trabalho de aprender gramática. Pesquisadores, por sua vez, reconhecem a necessidade de adoção de modelos mais eficazes e menos penosos, já que prevalece o consenso de que nada se ganha apenas com o ensino de regras.



EM ZIGUE ZAGUE



O que precisa ser transformado é o chamado método de gramática e tradução – pelo qual, ainda hoje, boa parte dos livros didáticos se orienta –, que vem dos tempos primordiais do ensino metódico de línguas. Ele é o consenso fundamental, o protótipo da aula de língua estrangeira de qualquer conceito pedagógico. A bem da verdade, em sua forma pura hoje é encontrado apenas em casos de exceção, mais provavelmente nas aulas de latim: devem-se construir frases na língua estrangeira ou traduzir textos para a língua materna com caneta e papel, pois os alunos só vão falar (se isso acontecer) bem mais tarde.

Obviamente o que ainda é sustentável no caso das línguas mortas certamente fracassará com o inglês ou o francês. “Nesse processo, os alunos não absorvem muito mais do que um conjunto de regras abstratas. Isso, porém, não ajuda em nada o uso da língua: dessa forma, os estudantes não conseguem transformar seu conhecimento linguístico em uma forma útil para a comunicação”, diz a pedagoga Susanne Even, da Universidade de Indiana em Bloomington.

Chovem críticas ao método de gramática e tradução – e elas não são recentes. Justamente por esse motivo,já em 1882 o professor Wilhelm Viëtor (1850-1918), em seu panfleto polêmico “A aula de línguas deve ser transformada!”, atacou a prática comum naquela época. Ele obteve grande apoio e, a partir de então, muitos educadores e linguistas passaram a dar mais valor ao domínio oral do idioma. A questão que os intrigava naquela época e de certa forma permanece até hoje é: como é possível ensinar as pessoas a falar outra língua corretamente sem que seja necessário dedicar anos a fio para isso?

A grande busca por alternativas que se iniciou desde então na didática se assemelha à tentativa de atirar em um objeto em movimento. Como quase não há pesquisas próprias e sistemáticas, qualquer mudança na tendência das “disciplinas de base” – psicologia, linguística e pedagogia – cedo ou tarde também culmina em um procedimento didático próprio, enquanto a subestrutura teórica acaba com os antigos conceitos de aprendizagem de línguas. O “método áudio-oral”, por exemplo, no qual frases e estruturas são treinadas à perfeição por meio de sua constante audição e repetição, foi celebrado como uma verdadeira revolução na metade do século XX, levando, entre outras coisas, à divulgação dos laboratórios de línguas. Como, no entanto, ele se apóia em uma psicologia do aprendizado hoje já ultrapassada, a maioria dos pesquisadores se distanciou dele.

Nos anos 70, o “método natural” do professor de espanhol Tracy Terrell e do linguista Stephen Krashen, da Universidade do Sul da Califórnia, fez sucesso. Eles se concentraram completamente na comunicação e tomaram como modelo de reflexão a seguinte questão: línguas estrangeiras devem ser aprendidas como foi aprendida um dia a língua materna por meio da fala – e, principalmente, pela audição. Krashen e Terrell partiram do princípio de que um mecanismo cerebral específico lhes permitia aprender a própria língua materna. A fim de ativá-lo novamente, o planejamento do curso deve se orientar exatamente pela ordem em que as crianças também adquirem novos conceitos linguísticos. Ou seja: segundo os estudiosos, os alunos expandem suas capacidades principalmente quando ouvem construções de frases que sempre estão um pouco acima de sua capacidade momentânea (como uma criança pequena que aprende a falar).

Seria esse então o modelo de um curso de língua mais próximo do ideal, capaz de proporcionar aprendizado fácil e ao mesmo tempo efetivo? Por mais plausível que pareça à primeira vista, o “método natural” de Krashen e Terre mostrou-se ingênuo demais: muitos professores de línguas que o seguiam logo deixavam totalmente de lado o cansativo ensino de regras gramaticais. “Muitas escolas e até universidades optaram por descartar a gramática, mas mesmo depois de anos vários estudantes ainda estavam no nível do ‘eu vai’”, comenta Susanne Even.


A pesquisadora Claudia Riemer, que realiza estudos na Universidade de Bielefeld na área de didática de línguas estrangeiras, também reconhece o problema: “Aprender uma língua estrangeira é uma situação de enorme complexidade para o cérebro. Não é possível fazê-lo sem nenhuma atenção focada em determinadas regras”. Outros métodos não tiveram melhor destino. Assim, entre os pesquisadores foi se estabelecendo cada vez mais a idéia de que, infelizmente, praticamente todos os conceitos que deixavam explicações gramaticais de fora, em algum momento, se mostravam inadequados. Apenas sair falando funciona, no máximo, para os primeiros passos em uma nova língua.

Por enquanto, ninguém descobriu o método com o qual a aprendizagem de línguas finalmente se tornará uma agradável brincadeira de criança para qualquer pessoa. Mas sejamos sensatos: é bastante improvável que algum dia exista um truque assim, já que as pessoas têm formas diferentes de apreender informações e resolver problemas. As demandas também são diversas. Uns querem apenas falar e se comunicar sem grandes vexames, outros têm excelente memória para vocábulos, mas fracassam ao construir uma frase – e, por fim, há as pessoas que encontram prazer em folhear os livros de gramática, sentem-se mais seguras assim. Além disso, o aprendizado (e consideramos aqui que aprender é mudar formas de comportamento e compreensão de si e do outro) requer formação (ou ativação) de redes de neurônios. Adquirir conhecimento complexo, como um idioma, significa, portanto, alterações da anatomia cerebral.

Por isso, a didática de línguas estrangeiras tem se concentrado, nos últimos tempos, nos estilos pessoais de aprendizagem. E para não perder (tantos) alunos os cursos buscam, cada vez mais, atender a essa diversidade.
Os mais velhos, muitas vezes, já estão acostumados, desde crianças, a declinar e conjugar. “Após alguns anos de aulas na escola, a maioria tem pelo menos uma idéia bastante exata daquilo que constitui uma boa aula”, diz Riemer. Esses alunos não confiam apenas em exercícios de conversação e exercícios de grupo, preferem tentar sanar seus problemas orais com lições de gramática – e quase sempre acabam caindo em um círculo vicioso, diz Sylvia
Fischer, da Universidade de Modena, que estudou o tema em seu doutorado
e entrevistou estudantes italianos sobre a causa de sua inibição em aula. Ela percebeu que a fixação em regras linguísticas estimula uma postura mais
dura em relação aos próprios erros. Uma aula que, em grande parte, se compõe de exercícios de conversação em grupo, é proveitosa quase que exclusivamente para pessoas com pouca dificuldade em conversação.

Como saída para esse dilema, existe uma estratégia dupla que associa abordagens especificamente comunicativas às formas clássicas, que valorizam a gramática. Alega-se que essa estratégia deixa espaço suficiente para ensinar todo o conhecimento teórico necessário e também ajuda a “soltar a língua” dos
alunos e a eliminar o medo de se expor –e errar. A chamada aprendizagem
voltada para situações práticas (como se comunicar com o garçom, conversar
com funcionários do aeroporto, pedir informações sobre pontos turísticos
etc.) segue esse princípio na medida em que – em cada situação relevante do cotidiano – é possível aprender. O conceito central aqui é deixar claro que as formas gramaticais não têm um fim em si é fundamental que tenham aplicação prática.



Experiência lúdica



Susanne Even dá um passo à frente ao mandar seus alunos da Universidade
de Indiana fazer teatro. O “gramaticodrama” se baseia na abordagem pedagógico-dramática desenvolvida por Manfred Schewe, da Universidade de Cork, na Irlanda. “Não apenas representamos, buscamos formas próprias e corretas de dizer ‘o que o outro disse’, trabalhamos com o discurso indireto e exercitamos as construções de frases em variadas situações.” A proposta privilegia também a experiência lúdica: os alunos se preocupam com vários aspectos como expressão corporal e a interação com os outros, deixando de lado a timidez. A pesquisadora ainda não tem dados comparativos sobre o método, mas tem esperança de que, de forma mais descontraída, os estudantes finalmente aprendam uma língua estrangeira de maneira prazerosa e efetiva.




QUAL O CURSO MAIS ADEQUADO?




Cinco perguntas que todos deveriam se fazer:

• A escola promete eliminar totalmente as aulas de gramática? Então você deve desconfiar; as chances de sucesso são duvidosas.

• 
O significado das regras é valorizado? É bom que seja, pois a gramática como matéria de aprendizado é praticamente tão inútil quanto
nenhuma gramática.

• 
A conversação é priorizada? É fundamental que seja, pois sem a prática
nem uma mochila cheia de teoria pode ajudá-lo.

• 
Qual a postura dos professores em relação aos erros? Mesmo quando
algumas frases ainda saem erradas, eles devem estimular o aluno a falar;
em fases iniciais do aprendizado a supervalorização da gramática não
ajuda, mas inibe.

• 
O curso se concentra em apenas um tipo de aprendizagem? O ideal é
que não. Quanto mais variada for a aula, mais provável será a possibilidade de a pessoa descobrir a melhor forma de aprender.


Jan Dönges É linguista e jornalista.

LET´S KEEP WALKING...

A arte de caminhar
Desde a antiguidade movimentar o corpo ajuda as pessoas a pensar, tomar decisões e expressar indignação; na literatura artistas e apaixonados são andarilhos.

A consciência da necessidade de praticar exercícios físicos é recente. “No começo, era o pé”, diz o antropólogo Marvin Harris. 


O pé, não a mão. A mão nos fez humanos – mas antes de sermos humanos somos parte do reino animal, e o nosso corpo precisa atender às necessidades que os animais enfrentam, entre elas a do deslocamento. O ser humano evoluiu, tornou-se bípede, mas continuou caminhando. E passou a usar a caminhada para outros fins que não o de chegar a um lugar específico: o de buscar determinada coisa. Praticar exercícios físicos é algo relativamente recente, mesmo porque, no passado, o sedentarismo era a exceção antes que a regra; caçadores, agricultores, trabalhadores em geral jamais pensariam nisso. Mas muito cedo o ato de caminhar adquiriu um significado psicológico, simbólico. O protesto político muitas vezes se fez, e ainda se faz, sob a forma de marchas, de caminhadas; foi o caso da Marcha dos 100 Mil (1968), um dos primeiros protestos organizados contra a ditadura no Brasil. Os filósofos gregos muitas vezes ensinavam a seus discípulos caminhando. “Levanta-te, toma teu leito e anda”, diz o Evangelho (João, 5:8), ou seja, vá em busca de seu destino, de seus objetivos. E Santo Agostinho cunhou uma expressão famosa: Solvitur ambulando, caminhar resolve (os problemas, as dúvidas). Por quê?


No livro Wanderlust: a history of walking (A ânsia de vagar: uma história da caminhada), de 2000, Rebecca Solnit diz que andar permite “conhecer o mundo através do corpo”, ou, nas palavras do poeta modernista Wallace Stevens (1879-1955): “Eu sou o mundo no qual caminho”. Trata-se, pois, de uma experiência cognitiva, muito necessária nesses tempos em que as pessoas se deslocam sobretudo utilizando carros, trens, aviões. Mas caminhar também envolve um processo de autoconhecimento, quando não de inspiração. “Os grandes pensamentos resultam da caminhada”, diz o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), uma ideia que Raymond Inmon expressa de forma mais poética: “Os anjos sussurram para aqueles que caminham”. O escritor francês Anatole France (1844-1924) faz uma comparação interessante: “ É bom colecionar coisas, diz ele, mas é melhor caminhar. Porque caminhar também é uma forma de colecionar coisas: as coisas que a gente vê, as coisas que a gente pensa”. Esse processo é facilitado pela renovação da paisagem, seja ela rural ou urbana, e pelo próprio automatismo do ato de caminhar.

Não é de admirar, portanto, que muitos escritores tenham abordado o tema da caminhada. Foi o caso do filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), figura marcante do Iluminismo francês e precursor do romantismo – os românticos, sobretudo os alemães, eram grandes andarilhos. Em suas Confissões, disse Rousseau: “Só consigo meditar quando caminho. Minha mente só trabalha junto com minhas pernas”. À obra (publicada postumamente) que resume muito de sua biografia e de sua filosofia, Rousseau deu o título de Os devaneios do caminhante solitário (Lês rêveries du promeneur solitaire). Os dez capítulos são denominados promenades (caminhadas). Finalmente, temos um termo analisado tanto pelo poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) como pelo escritor alemão Walter Benjamin (1892-1940). Trata-se de flâneur, que vem do verbo flâner, vagar (em português temos o galicismo flanar). O flâneur, do qual Benjamin era um exemplo, vagava por Paris, observando o que se passava a seu redor, num claro desafio à moral burguesa então vigente, que via isso como vagabundagem. Uma vagabundagem da qual resultaram, contudo, textos admiráveis. Caminhar, como diz o escritor americano contemporâneo Gary Snyder, é a grande aventura.


AMAZING NEWS FROM OUTSPACE...

Buscando pistas na atmosfera de um planeta distante

Der Spiegel
Hilmar Schmundt

Pela primeira vez, cientistas foram capazes de analisar diretamente a atmosfera de um planeta distante. Este sucesso poderá ser um marco pioneiro na jornada rumo à descoberta de vida além do sistema solar.

A atmosfera do planeta é sufocante, com temperaturas geralmente superiores a 800ºC - à sombra. O ar é repleto de nuvens pesadas de gás altamente tóxico.
NASA/ESA
A busca por novos planetas no sistema solar ganhou fôlego nos últimos anos. A maioria daqueles encontrados foram bolas gigantes de gás, como esta da foto - criação de um artista para o planeta que recebeu o nome de RH 8799b. O planeta foi descoberto recentemente pela re-analisar os dados recolhidos pelo Telescópio Espacial Hubble em 1998.

Quem pisasse na superfície desse planeta distante teria uma morte rápida. Entretanto, o estudo feito recentemente sobre o HR 8799 c é um marco pioneiro na busca de vida extraterrestre.

Na semana passada astrônomos revelaram uma façanha inédita no campo da metrologia. Por meio da análise do espectro da luz proveniente do HR 8799 c, eles foram capazes de determinar a composição química da sua atmosfera. "Pela primeira vez, nós obtivemos diretamente o espectro de um planeta fora do nosso sistema solar", diz Wolfgang Brandner, do Instituto de Astronomia Max Planck, em Heildelberg, um dos autores do trabalho.

Atualmente, a descoberta de planetas fora do nosso sistema solar tornou-se praticamente uma rotina. Nos últimos anos, cientistas descobriram mais de 400 destes astros, que são chamados de exoplanetas. Mas, na maioria dos casos, a existência deles só pode ser comprovada de forma indireta, por exemplo, devido ao fato de eles provocarem um ligeiro enfraquecimento da luz emitida por uma estrela muito mais brilhante.

Balé mecânico
Somente com o auxílio do observatório mais avançado do mundo, o "Very Large Telescope" (VLT, ou "Telescópio Muito Grande"), ficou possível capturar diretamente a luz fraca proveniente de um planeta e analisá-la por meio da espectroscopia. O telescópio maciço está localizado no alto de um pico de 2.600 metros de altitude no Deserto de Atacama, no Chile.

Após o anoitecer, os olhos robóticos do telescópio começam a funcionar na montanha, conhecida como Cerro Paranal. Quatro cúpulas gigantes, tão estranhas ao cenário quanto as esculturas em pedra na Ilha da Páscoa, fazem silhueta contra o céu noturno. Os gigantes de metal começam a mover-se silenciosamente, à medida que as cúpulas, cada uma delas consistindo de um labirinto de 400 toneladas de cabos, apoios, escadas e degraus, executam um balé mecânico.

Cada um dos quatro espelhos principais do VLT possui um diâmetro de mais de oito metros. Eles são os dispositivos mais sensíveis para perscrutar o céu já construídos pelas mãos humanas, sendo tão poderosos que seriam capazes de identificar um farol de automóvel instalado na superfície da Lua. Um dos seus objetivos mais importantes é a busca por uma segunda Terra - e por vida extraterrestre no espaço.

"O que estamos presenciando atualmente é a emergência de um novo conceito de mundo comparável à enorme mudança ocorrida quando Copérnico descreveu como a Terra gira em torno do Sol", afirma Michael Sterzik. O astrofísico desce as escadas do VLT e tranca a porta por fora. A presença dele só prejudicaria as imagens. Ele é o diretor de operações do Observatório Sul-Europeu (ESO, na sigla em inglês), que opera o VLT como parte de um consórcio de 14 países europeus.

Vida no Universo
O Deserto de Atacama é um dos locais mais secos do planeta, o que o torna ideal para que se obtenha uma visão clara do espaço. Para evitar interferências nas medições feitas pelo observatório, exige-se dos motoristas que desliguem os faróis e dirijam de forma extremamente lenta, utilizando apenas os faroletes, ao subirem pela sinuosa estrada de acesso, que é ladeada apenas por refletores. Em outubro, o caçador de planetas Brandner passou quatro horas no observatório para alinhar os telescópios com o HR 8799 c. "Agora é possível controlar várias observações através da Internet", diz ele. "Mas o nosso projeto era tão experimental que tivemos que estar no local o tempo inteiro". 

Wolfgang Brandner

  • Der Spiegel
    Wolfgang Brandner, do Instituto Max Planck de Astronomia em Heidelberg e co-autor do novo estudo sobre o planeta HR c 8799, disse que "pela primeira vez, temos obtido diretamente o espectro de um planeta fora do nosso sistema solar."

O calor tardio do verão atualmente paira sobre o olho gigante artificial. Os espelhos do telescópio precisam receber uma nova película a cada 18 meses devido ao efeito abrasivo das tempestades de areia. Não há sons de pássaros cantando, e o único sinal vida consiste de plantas do deserto de aspecto ressecado que abrem caminho penosamente através do cascalho. O ar extremamente seco, com índices de umidade às vezes inferiores a 4%, queima os olhos e provoca rachaduras na pele.

O deserto pedregoso e avermelhado à volta do VLT parece estranhamente familiar, lembrando as imagens feitas em Marte, um planeta estéril e de aparência desértica. Ironicamente, é neste local inóspito que os cientistas estão procurando por vida no universo.

Um túnel conduz à casa de hóspedes, metade da qual fica no subsolo como forma de proteção contra o clima brutal do deserto. Caminhões tanques transportam todos os dias 55 mil litros de água para o local. A instalação tem a aparência futurista de uma estação espacial.

Viver no Cerro Paranal está longe de ser fascinante. A equipe trabalha à noite e dorme durante o dia. A cidade mais próxima fica a várias horas de distância, e o consumo de álcool é proibido.

Resultados surpreendentes
Inicialmente os caçadores de planetas que trabalham com Wolfgang Brandner foram perseguidos pela má sorte. Primeiro o céu ficou nublado, e depois camadas de ar úmido obscureceram a visão. Foi só durante a última noite no Cerro Paranal que os cientistas tiveram sorte. Durante cinco horas, o espelho do telescópio acompanhou o planeta distante à medida que este se movia pelo céu na constelação de Pégaso, invisível ao olho nu.

Após uma longa noite de observação, Brandner acumulou dados suficientes para criar um retrato do planeta. A equipe dele fez as malas, voou para casa e se pôs a trabalhar na análise dos dados. Os resultados foram surpreendentes.

O HR 8799 c é um planeta jovem, quente e gigante, um adolescente cósmico de idade inferior a 60 milhões de anos, sendo mais de 3.000 vezes mais pesado que a Terra. Mas, nas imagens de Brandner, o gigante incandescente parece mais um ponto minúsculo perdido no espaço. O planeta fica a 130 anos-luz da Terra, o que significa que a sua luz que é capturada hoje está viajando rumo a nós desde 1880, tendo se enfraquecido desde então.

"Obter uma imagem dele foi quase impossível, porque a estrela em torno da qual o planeta gira é vários graus de magnitude mais brilhante do que ele", explica Sterzik. "Para cada partícula de luz proveniente do planeta, há milhares de outras que vêm da sua estrela central". O astrofísico compara este desafio à observação de uma vela acesa ao lado de uma lâmpada de 300 watts situada a dois quilômetros de distância.

Há muitos anos a análise química de um gigante gasoso por meio do VLT já é possível, mas os cientistas não haviam encontrado um objeto apropriado cuja observação valesse à pena - até cerca de um ano atrás, quando uma equipe concorrente do Canadá descobriu o promissor sistema planetário que inclui o HR 8799 c.
  • Der Spiegel
    O coração dos esforços europeus para analisar planetas distantes está localizado no meio do deserto de Atacama, no Chile, longe da civilização. O "Very Large Telescope" recentemente foi capaz de capturar a luz fraca emitida de um planeta conhecido como HR 8799 c. Por meio da espectroscopia, os cientistas foram capazes de analisar sua atmosfera
Evidência de tempestades de gás
Quando pesquisadores do ESO analisaram a assinatura química do jovem gigante gasoso, eles fizeram uma descoberta surpreendente: o metano no escudo gasoso parece estar combinado a níveis inusitadamente elevados de monóxido de carbono. "O monóxido de carbono é normalmente encontrado apenas em camadas atmosféricas inferiores, sendo, portanto, invisível para nós", explica Brandner. "O fato de o enxergarmos em torno do HR 8799 c poderia significar que há tempestades violentas abatendo-se sobre o planeta".

A evidência de tempestades de gás no planeta gigante seria um passo importante na busca por formas de vida extraterrestres. Ela possibilitaria aos cientistas visualizar o clima e até mesmo as estações de um exoplaneta. Mas o objetivo de longo prazo ainda é o estudo de um pequeno planeta com temperaturas agradáveis que lembre as da nossa Terra. Somente quando os cientistas forem capazes de descobrir traços denunciadores de, por exemplo, ozônio ou vapor d'água na atmosfera de um planeta, eles terão encontrado sinais da possível existência de vida.

Mas quanto menor e mais frio for um planeta, mais difícil é captar a sua luz. Até mesmo o VLT ainda só é capaz de detectar objetos quentes e gigantes.

Para fazer frente a esta necessidade, cientistas da sede da ESO, em Garching, perto de Munique, já estão planejando a construção de um sucessor do VLT que seria cinco vezes maior do que este e muito mais poderoso: o "Extremely Large Telescope" (ELT, ou "Telescópio Extremamente Grande"). Estão em andamento negociações neste sentido com o Chile e os países membros do ESO.

O pico de uma montanha que pode ser vista do Cerro Paranal já está sendo sondado como um possível local para o ELT - um monte de rocha árido e varrido pelo vento que poderia ser o ponto de partida para a descoberta de vida na vastidão do universo.

Tradução: UOL

IT´S SUCH A BIG MISTAKE!


Por que professores e escolas não caem nas redes sociais?

Simão Marinho, da PUC-MG, fala sobre as dificuldade de integrar educação e sites

Nathalia Goulart
Thinkstock(Thinkstock)
Uma pesquisa realizada pelo Ibope revelou que 87% dos usuários de internet do país utilizam uma rede social - 83% deles usam esses serviços para finalidades pessoais. É legítimo supor que estudantes e professores também se relacionam por meio daqueles sites. Contudo, se as redes são hoje território da amizade, da diversão e da paquera, ainda é difícil pensar em usos pedagógicos para a ferramenta. Pelo menos é isso que conclui Simão Marinho, coordenador do programa de pós-graduação em educação da PUC-MG e assessor pedagógico do programa Um Computador por Aluno, do governo federal. “A escola é como uma cidade com muros que a limitam. Já o Facebook ou o Orkut são inverso disso – são praças públicas onde podemos encontrar todo o tipo de elemento”. E isso, segundo o especialista, assusta escolas e professores. Confirma a seguir os principais trechos da entrevista com Marinho, convidado a falar sobre o tema em um painel especial da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que se encerra neste domingo.
As redes sociais já fazem parte da educação?
Do ponto de vista pedagógico, acredito que ainda não há nenhum impacto das redes sociais virtuais na educação. Fora da escola, ou mesmo para entrar em contato com os amigos da escola, os alunos fazem uso das redes – Orkut, Facebook, MySpace –, mas elas ainda não são usadas para outros fins.

Quais os entraves à aproximação entre escolas e redes digitais? 
A primeira dificuldade está na estrutura da escola e na postura do professor. Dificilmente, eles chegariam ao modelo ideal de rede, que é aquela que não tem centro, não tem comando nem poder. Dentro dessa estrutura, vejo uma enorme dificuldade para a escola fazer uso dessas redes porque seria preciso que os que os professores não se sentissem comandando alunos, determinando tarefas. Além disso, existem alguns riscos nas redes sociais que a escola não quer assumir, como o da segurança, do bullying e da pedofilia. Por tudo isso acredito que hoje a escola não está na rede, e a rede não está na escola.

A liberdade característica das redes sociais é um empecilho?
Sim. A escola é como uma cidade com muros que a limitam. Já o Facebook ou o Orkut são inverso disso – são praças públicas onde podemos encontrar todo o tipo de elemento, do mais benigno ao mais nocivo. Isso sem dúvida é um complicador, porque nem todos que estão ali são os parceiros de escola.

Se a escola ainda não está na rede, o senhor sente uma demanda dos alunos para que ela esteja? 
Acho que os alunos não estão interessados nesse envolvimento. Se você descola da questão educacional, eles se envolvem nas redes e até abordam questões ligadas à escola, mas não são questões ligadas ao aprendizado. Tive acesso a uma pesquisa nos Estados Unidos onde a maioria dos alunos pedia aos professores que não estabelecessem contato nas redes sociais. É como se dissessem: ‘Acabou a hora da aula, não quero mais falar com você’. Isso acontece, em parte, porque os alunos usam essas redes inclusive para criticar os professores. O Orkut, por exemplo, tem aquelas comunidades ‘Eu odeio o professor fulano’. Então os alunos não querem o professor na rede. Com esse tipo de uso, a escola fica ainda mais desconfiada em usar as redes.

Fora da sala de aula, os alunos e até os professores fazem uso das redes sociais por lazer. Transformar esse lazer em aprendizado é um desafio? 
É um grande desafio. O ideal seria que o aprendizado tivesse o mesmo gosto saboroso do lazer e fosse uma fruta tão tentadora e suculenta quando a fruta da diversão. Porque os alunos e professores vão atrás disso nas redes sociais, eles querem a conversa afiada com o amigo, trocar ideias, fazer planos para o fim de semana. Algumas escolas isoladamente já conseguiram superar esse desafio, mas são poucas. Não estou dizendo que não funcione, mas acredito que ainda não encontramos a fórmula para isso.

Quais seriam as vantagens de uma escola integrada às redes sociais?
A vantagem maior seria que as escolas, os professores e os alunos conversassem entre si e trocassem experiências. Mas a discussões deveria girar em torno da educação ou a rede social vira apenas um playground, uma área de lazer e entretenimento. E para que isso aconteça é preciso que cada nó dessa rede tenha uma importância e contribua para a discussão, porque a comunicação por esse meio pressupõe igualdade, sem ninguém controlando as cordinhas da rede. E acredito que esse seja um complicador para as escolas.

O que escolas e educadores devem evitar em matéria de redes sociais?
Os professores não devem reprisar na virtualidade aquilo que está acontecendo na sala de aula, ou seja, devem buscar expandir na internet os conteúdos ensinados na escola. Os conteúdos são importantes, mas tratar de assuntos que extrapolem o aprendizado também pode ser interessante. Por exemplo, professores e alunos podem discutir o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nas redes sociais. Podem – e devem – discutir o vestibular, dificuldades, carreira. Se a escola começar a criar essas espaços e fóruns, pode ser que a rede funcione. 

Alguns entusiastas defendem que o bom uso das redes sociais pode funcionar como catalisador da reinvenção da escola. O senhor acredita nisso?
Isso é coisa de entusiasta! Não podemos jogar na ferramenta o peso da inovação pedagógica. Nenhuma máquina muda a escola. O que muda a escola é o professor e não acredito que apenas o fato de ele se integrar a uma rede social mude alguma coisa. Antes disso, ele precisa entender que a educação hoje tem um outro significado. Hoje o professor já não é a única fonte de informação que ele aluno tem. Ele precisa entender que o papel dele é criar estratégias para que o aluno aprenda, seja com a escola, com a internet, com o celular ou com o livro.

O senhor é assessor pedagógico do programa do governo federal Um Computador por Aluno (UCA). O que de fato os alunos desenvolvem com a ajuda do computador?
Com o computador, eles têm acesso a fontes de informações diversas, além de ter nas mãos a possibilidade de se expressar por linguagens multimidiáticas. O laptop do UCA é computador, comunicador, telefone, câmera de vídeo e fotográfica, gravador digital, entre outros. Ele é fundamentalmente um instrumento para a linguagem múltipla que eu utilizo quando preciso. E junto com a discussão da inovação tecnológica tentamos discutir a inovação pedagógica. E só assim poderemos transformar a escola.

THE FINAL FRONTIER...

Terra alienígena
Planetas parecidos com a Terra são encontrados apenas na região "habitável" em volta de uma estrela. Uma região onde a temperatura na superfície do planeta permita a formação de água e vida (Latinstock)

"Na última década descobrimos quase 500 planetas fora do sistema solar."
"Existem obstáculos sérios para atingirmos velocidades que nos levariam até esses planetas em algumas centenas de anos"
Universidade de Standford
Roger Blandford
O astrônomo Roger Blandford chefiou o comitê de cientistas que definiu a pesquisa espacial para a próxima década
Se tudo der certo, a Nasa vai passar os próximos 10 anos ligada no centro da Via Láctea. Por causa da grande concentração de estrelas, a comunidade científica americana acredita que lá é o lugar mais provável para encontrarmos planetas parecidos com a Terra e, quem sabe, seres extraterrestres. Mas para isso, o relatório feito pelo comitê de cientistas da academia de ciências dos EUA precisa receber o aval do congresso americano e da Nasa.
A cada 10 anos, a academia de ciências dos Estados Unidos faz uma triagem de todos os projetos envolvidos com astronomia e astrofísica do mundo e faz um relatório para governo americano recomendando em quais pesquisas deve investir na próxima década. O relatório de 2010-2020 foi entregue na segunda-feira (16) pela Academia Americana de Ciências.
VEJA.com conversou com o britânico Roger Blandford, diretor do instituto de astrofísica e cosmologia da Universidade de Standford nos EUA. Ele teve a homérica tarefa de chefiar o comitê que redigiu o relatório e que, na prática, apontou a direção que a nação mais poderosa do mundo deverá seguir nos próximos 10 anos dentro do campo da pesquisa espacial. 

O comitê chefiado pelo britânico sugeriram à Nasa e ao governo dos EUA gastar 1,6 bilhão de dólares em um telescópio que já tem até nome, WFIRST, previsto para ser lançado em 2020. Se for aprovado, vasculhará o centro da Via Láctea atrás de planetas parecidos com a Terra. Blandford conta como esses planetas podem ser localizados e o que faremos se encontrá-los.

O que seria um planeta parecido com a Terra?
Seria um planeta que provavelmente tem o mesmo tipo de massa que a Terra. Na verdade, usamos o termo "habitável". Isso significa que a estrela que ilumina o planeta seria parecida com o nosso Sol ou um pouco mais fria - o que o faria mais fácil de ser encontrado. E outra característica é que, se ele for habitável, gostaríamos de ver sinais de água e possivelmente oxigênio e gás carbônico. Ele precisaria ter condições físicas — gravidade, pressão, atmosfera — semelhantes aos da Terra. Um lugar onde a vida poderia se desenvolver de uma maneira análoga ao que acontece em nosso planeta.

Por que é tão importante encontrar planetas parecidos com a Terra? Por que agora?
É um assunto que fascina o homem e algo que combina o interesse popular-científico para responder a pergunta "estamos sozinhos nesse universo?". O momento é agora porque houve uma explosão de descobertas nessa área durante a última década. Há mais ou menos 10 anos, começamos a identificar os primeiros planetas fora do sistema solar, depois de muito esforço e muitos anos tentando.

Algum planeta parecido com a Terra já foi identificado?
Não. Na última década descobrimos quase 500 planetas fora do sistema solar. Nos últimos meses, 300 candidatos foram apresentados a nós, observados pelo telescópio Kepler. Nem todos os candidatos serão considerados verdadeiros, mas acreditamos que uma boa parcela será.
Algum está em um sistema parecido com a nosso?Já conhecemos um grande número de planetas fora do sistema solar e duas mensagens estão bem claras — uma é que eles são comuns e a outra é que os sistemas planetários em volta de outras estrelas são muito diferentes. Eles não são cópias do que acontece em nosso sistema solar. Longe disso. Vemos muitos tipos de planetas e muitos tipos de ambientes diferentes. Ainda não encontramos, mas estamos chegando perto.
E por que é tão difícil identificar planetas fora do nosso sistema solar já que eles são comuns?Eles são comuns, mas são muito apagados. A metáfora mais fácil para entender a dificuldade que encontramos em identificar esses planetas seria procurar por um mosquitinho voando bem próximo de um poste que emita bastante luz enquanto se observa de muito longe. Imagine uma estrela muito brilhante e um ponto muito pequeno que reflete essa luz, o planeta que estamos procurando. O problema pode nem ser o brilho da estrela, que pode ser filtrado até certo ponto, mas pode existir tanta poeira espacial na região que fica difícil identificar esses planetinhas. É só você lembrar que a Terra possui um trilionésimo da massa do Sol — e a trilhões de quilômetros de distância desses sistemas fica dificílimo realizar essas análises.

E como vamos fazer isso agora?
Uma das funções do telescópio WFIRST será executar as tarefas que outro telescópio, o Kepler, não consegue fazer. Ou seja, ele não vai procurar por planetas habitáveis por meio de imagens — isso o Kepler já faz —, mas ele irá estabelecer a frequência desses planetas. Isso vai nos dizer quantas estrelas como o nosso Sol possuem planetas parecidos com Saturno, Júpiter e a própria Terra. Além disso, quantos desses estão orbitando próximos à estrela ou longe e assim por diante. Queremos saber se haverá uma órbita parecida com a da Terra — se o planeta estiver muito longe da estrela, será muito frio, e muito perto, bastante quente. Nenhum desses casos resultaria em um planeta parecido com a Terra. Temos que encontrar um que esteja orbitando uma estrela parecida com o nosso Sol a uma distância semelhante a Terra.

E se encontrarmos um planeta assim, o que vamos fazer?
A ideia é conseguir imagens desse planeta e estudá-lo esgotando todas as formas possíveis. Além de tirar fotos detalhadas, teremos que tirar um espectrograma completo do planeta [Espectrograma é o levantamento das características físico-químicas de determinado corpo celeste por meio da análise da energia que ele emite]. Vamos tentar descobrir se existem moléculas desconhecidas para o homem. Mas antes de prepararmos essas observações temos que saber o que estamos procurando. E para isso, ainda é preciso desenvolver muita pesquisa.

Quais são as chances de encontramos uma outra civilização humana vivendo em um planeta parecido com a Terra? É isso que estamos procurando?
Acredito que a procura de inteligência extraterrestre causa uma grande fascinação pública e científica. Já temos alguns telescópios capazes de identificar algumas classes de sinais extraterrestres. Existem muitos telescópios que fazem um tipo de pesquisa passiva. Eles realizam as tarefas normais e dentro delas é possível extrair certas classes de sinais. Se considerarmos seriamente que há vida inteligente fora da Terra e que ela envia algum sinal — são duas coisas diferentes — que tipo de sinais eles nos enviariam? Como eles iriam tentar entrar em contato conosco? Existem tantas respostas possíveis para essas perguntas que é difícil pensar sobre o assunto. Na minha opinião, a melhor estratégia é estar sempre alerta. Ter isso sempre ocupando algum lugar em nossos pensamentos. Não existem muitos telescópios desenvolvidos para encontrar sinais estranhos, eles não teriam muita utilidade científica. Basta que fiquemos de olhos bem abertos.

Existem missões específicas para identificar esses sinais?
Não acredito que seja fácil desenvolver um programa coerente para procurar e reconhecer esses sinais, se é que eles existem. Existem muitas pessoas tentando fazer isso, mas não sei dizer se elas vão conseguir. É um dos grandes mistérios da vida, tenho a mesma curiosidade que qualquer pessoa, mas não acredito em nenhuma das duas coisas — que existe ou não existe — eu realmente não sei! Mas essa é a graça, teremos que esperar e ver o que acontece.

Os humanos enviam sinais que poderiam ser reconhecidos por alienígenas?
Com certeza! Enviamos sinais o tempo todo. Todos esses programas de TV são transmitidos para o espaço. A TV é o tipo de sinal mais comum, mas pode ser qualquer outro. Existem muitos outros tipos de comunicação acontecendo localmente e a maioria das ondas vai parar no sistema solar e até fora dele. Não sei se existem alienígenas tentando detectá-las, mas estamos emitindo sinais o tempo todo.

Se a comunidade científica não tivesse que se preocupar com dinheiro, quais missões seriam adicionadas ao relatório?
O número de missões que gostaríamos de incluir no relatório é 10 vezes maior do que qualquer orçamento poderia suportar. Contudo, é justo dizer que os 90% que ficaram de fora requerem um desenvolvimento tecnológico pesado.

Quais são os projetos que poderão ser escolhidos a partir de 2020?
Eu diria que existem dois candidatos muito fortes — um telescópio focado na espectroscopia, chamado IXO — e uma missão principal concentrada no estudo de planetas habitáveis próximos ao sistema solar.
Depois que encontrarmos um planeta habitável, será possível viajar até ele?
Bem, acho que a resposta é não. Trata-se de um problema com as leis da Física. Se eu disser, por exemplo, que o planeta habitável mais próximo está a 10 anos luz de distância da Terra, isso significa que, viajando a velocidade da luz, a jornada duraria 10 anos. Se viajássemos a metade dessa velocidade, levaríamos 20 anos. Agora, se considerarmos a velocidade máxima que conseguimos atingir no espaço com a tecnologia atual, ou seja, um milionésimo da velocidade da luz, é possível perceber como é difícil ter esperanças. Além de desenvolver uma nova tecnologia de viagem no espaço teremos que transcender as leis da Física. Não estamos lidando com tecnologia especulativa — de ficção científica ou coisas do tipo. Muitas pessoas têm ideias malucas sobre como vamos conseguir isso. As leis da Física são implacáveis e tudo que fazemos precisa ser extremamente bem entendido e testado. Dito isso, existem obstáculos sérios para atingirmos velocidades que nos levariam até esses planetas em algumas centenas de anos. Por isso, eu diria que não. Não vamos visitar esses planetas tão cedo, mas vamos trabalhar duro para que isso aconteça.



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I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!