Friday 31 December 2010

TIME´S OVER!

E se ninguém morresse?

por Paula Soares

Viver para sempre não é sonho assim tão distante. Já tem muito cientista ambicionando a imortalidade - e com resultados significativos. Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas da Espanha injetaram uma enzima em ratos que, ao melhorar a eficácia da divisão celular, aumentou em 50% a expectativa de vida das cobaias. Outros investigam as células-tronco e têm esperança de que elas ajudarão na renovação eterna das células. Mas, não importa por qual caminho vier, assim que o remédio da imortalidade estiver desenvolvido, ele será privilégio de gente milionária. Já existem remédios que custam R$ 1 milhão ao ano (como o que trata uma síndrome rara, em que o sistema imunológico destrói os glóbulos vermelhos do doente durante a noite), e talvez uma pílula da vida eterna não saísse por menos dinheiro. Ainda assim, uma parte dos 9 milhões de milionários do mundo toparia comprar o medicamento. E, daqui a 20 anos, quando a patente do remédio expirasse, o genérico da pílula da imortalidade ficaria acessível a todos. Isso quer dizer que, em poucas décadas, mais da metade das pessoas que morrem todos os anos de doenças cardíacas ou câncer - males que serão evitados com o remédio da imortalidade - deixariam de bater as botas. São 32 milhões de pes-soas ao ano que continuarão vivinhas - e superpovoando o planeta. Com tanta gente, dificilmente escaparíamos do controle de natalidade, da legalização do aborto, da crise ambiental e da escassez de alimentos. Mas nem tudo seria desgraça. Num planeta de imortais, à beira de um colapso ecológico, é possível que as soluções ambientais surgissem mais rapidamente. Afinal, quando a ameaça de destruição deixar de ser um problema só para as gerações futuras, todos vão ter de se mexer. Ninguém vai querer estar vivo quando o mundo acabar, certo?

Tudo novo de novo

Os imortais vão encarar um planeta lotado e trabalho duro para sempre 

1. Remedinho mágico
Nos primeiros anos, só os ricos vão usufruir da pílula da vida eterna. Sem mortes por doenças cardíacas ou cânceres, males diretamente ligados ao envelhecimento, o planeta deixaria de perder anualmente 32 milhões de pessoas - e ainda receberia os 150 milhões que já vêm naturalmente ao mundo todos os anos.

2. Bilhões de vizinhos
Se hoje já exploramos o planeta além da sua capacidade de renovação, com os imortais, o jeito seria controlar a natalidade e liberar o aborto. Assim como nos países populosos, cada casal só poderia ter um filho. Irmãos, tios e primos seriam extintos. Mas as famílias aumentariam: conviveríamos até o fim da vida com avós, bisavós e tetravós.

3. Mão na consciência
Com o acréscimo dos imortais, o desastre ecológico será inevitável. Mas a ameaça pode ser boa. Se todo mundo estiver vivo quando o planeta entrar em colapso - ou seja, quando o futuro distante se tornar realidade -, é possível que a cons-ciência ambiental e a preservação do planeta sejam levados a sério. 

4. Vai trabalhar
A previdência, que sustenta os velhos com o trabalho dos jovens, já está em crise com o envelhecimento da população. "Se todo mundo viver 100 anos com aposentadoria, vai ficar caro", diz o professor de economia da PUC-SP, Antonio dos Santos. Ou seja, as pessoas vão viver para sempre - mas também vão passar o resto da eternidade trabalhando.

5. Uma mente sem lembranças
O cérebro humano tem limite de armazenamento. "Hoje já esquecemos de informações que não usamos quando aprendemos coisas novas", explica o gerontologista Aubrey de Grey. Nos imortais, aconteceria o mesmo: séculos inteiros seriam apagados da memória limitada. Vão viver, mas não vão lembrar para contar a história.

6. Adeus, deus
"Há tempo de nascer e tempo de morrer", diz a Bíblia. A Igreja não aprovaria uma droga que prolongasse a vida por tempo indeterminado. E não espere manifestações só dos católicos. Sem a ameaça de morte, para muita gente não faria sentido se manter religioso - até porque as religiões se baseiam na ideia de recompensar o ser humano no pós-morte.

7. Reinvenção constante
Com tanto tempo nas mãos, os humanos vão querer novas experiências. Engenheiros se tornarão médicos, que se tornarão bombeiros, que vão ser astronautas. O mesmo vai acontecer com os casamentos. O "até que a morte os separe" não vai fazer sentido. Ex-mulheres e ex-maridos vão pipocar por aí - e haja pensão para pagar todo mundo.

8. Cansei dessa vida
Depois de séculos, ser imortal será um fardo. Quem já viu de tudo não terá motivo para continuar vivo. Sem essa motivação, o ciclo natural da vida será tentador. O suicídio seria uma alternativa. Mas o mais provável é que as pessoas simplesmente parassem de tomar o remédio da juventude e voltassem a envelhecer.

Superinteressante Edição 281 - Como pensam os bebês

Pas de fête sans Moet et Chandon, of course !


Bebidas

As últimas são feitas a partir da destilação de líquidos fermentados, resultando em produtos de teor alcoólico bem mais elevado, como a cachaça e o uísque.


por Marco Aurélio Merguizzo


As bebidas alcoólicas se dividem em duas grandes categorias: as fermentadas e as destiladas. Nas primeiras, em que se incluem o vinho e a cerveja, ocorre um fenômeno semelhante à fermentação do pão – a transformação de carboidratos em álcool e gás carbônico. As últimas são feitas a partir da destilação de líquidos fermentados, resultando em produtos de teor alcoólico bem mais elevado, como a cachaça e o uísque

Como a uva se transforma em vinho?
vinho, por definição, é o resultado da fermentação de uvas. Ela ocorre quando as cascas de uvas se rompem, permitindo que fungos microscópicos, chamados leveduras, penetrem no fruto. Eles transformam os açúcares da uva(glicose e frutose) em álcool e gás carbônico. Ao mesmo tempo, outras reações bioquímicas vão acontecer, de acordo com os tipos de uva, de levedura e de fermentação. Tal processo só cessa quando o açúcar termina ou quando o álcool atinge uma concentração mortal para as leveduras, cerca de 16%. Os vinhos tintos são feitos de uvas pretas com cascas e talos. Os brancos podem usar uvas brancas ou pretas – neste caso, cascas e talos ficam de fora para não tingir a polpa, que é branca. Os rosés são produzidos a partir de uvas pretas, sem os talos. O sumo é separado das cascas logo que começa a ficar rosado.
Uvas escuras podem produzir vinhos tintos, brancos ou rosés. Nos dois últimos, cascas e talos são descartados em algum estágio da vinificação
Por que a champanhe tem bolhas?
As bolhas dos vinhos espumantes são nada mais que o dióxido de carbono (gás carbônico) resultante da fermentação – ocorre que, nos vinhos comuns, os métodos de produção deixam que esse gás se desprenda da bebida. Para fabricar champanhe, os fabricantes recorrem à fermentação dupla. Na primeira fermentação, se faz o vinho branco normal. Em seguida, adicionam-se açúcar e leveduras do tipo Saccharomyces bayanus ao vinho, que é engarrafado, selado e guardado. Dentro da garrafa ocorre uma segunda fermentação. Como a garrafa está lacrada, o gás carbônico resultante dessa segunda fermentação não tem como escapar. Aí se formam as celebradas bolhas.
A seguir, o espumante descansa por um a três anos. Esse é o chamado método champenoise, que consagrou os produtores da região de Champagne e a partir do qual se obtêm os espumantes melhores e mais caros. Mas há também outras formas de conseguir as tais bolhinhas. No charmat, ou método de tanque, a segunda fermentação ocorre em uma cuba de inox, lacrada para evitar o escape do gás. Desse processo resultam espumantes mais simples e baratos. Há ainda espumantes conseguidos por carbonatação artificial (injeção de CO2), considerados os de pior qualidade. Em todos os processos, porém, as rolhas de cortiça são um item fundamental na conservação do gás carbônico. Impermeáveis e elásticas, elas dificultam a entrada de ar na garrafa, impedindo a fuga das bolhas.
No champanhe, as bolhas resultantes da fermentação são aprisionadas na garrafa
Onde os especialistas encontram tantos aromas numa taça de vinho?
Em uma degustação de vinhos, os participantes descrevem uma grande variedade de aromas – das especiarias, como noz-moscada e canela, ao cheiro de couro, passando por café, manteiga e frutas vermelhas, entre outros cheiros. Isso se deve a um coquetel químico de mais de 500 substâncias encontradas no vinho, entre alcoóis, açúcares e ácidos, que sofrem uma infinidade de combinações, produzindo uma enorme variedade de odores e sabores. Entre as substâncias mais comuns dos vinhos estão a vanilina (que dá à bebida o gosto de baunilha), o linalol (aromas florais), o paraetilfenol (de couro), o metilantranilato de etil, o paravinilfenol e as octolactonas (compostos extraídos pelo vinho dos barris de carvalho que dão odor característico de madeira). Todas essas substâncias são conhecidas pelos químicos e sintetizáveis em laboratório.
Então, por que não adicioná-las em quantidades controladas em vinhos de qualidade inferior (e baratos) para conferir-lhes aromas de bebidas nobres (e muito caras)? O químico e jornalista francês Hervé This realizou experiências do tipo e as descreve no livro Um cientista na cozinha. “Seduzido pelos Bordeaux? Tente o n-octanol e a 2-metoxi-3-isobutilpirazina”, escreve This. Mas, segundo ele, tais experiências resultaram em frustração: em testes de degustação, verificou-se que os vinhos tinham gosto de “produto químico”. Na conclusão do autor, os “produtos oferecidos por honestos viticultores não são imitáveis com essas trucagens simplistas.” E
Por que deve-se beber vinho branco com pratos de peixe?
Porque a combinação de peixe com vinho tinto é, na maioria dos casos, incompatível. Culpa de uma desagradável reação chamada metalização. A explicação é simples: o iodo dos peixes (os de mar, em especial) reage com o tanino (presente em dose maior nos vinhos tintos), resultando em uma substância de sabor acre, metalizado. O tanino é uma substância elementar dovinho. Encontrado principalmente nas cascas, hastes e sementes das uvas, ele é o responsável pela adstringência – aquela sensação de aspereza na boca, semelhante à sentida ao saborear uma fruta verde. Além disso, a força do tanino tende a “matar” a delicadeza do sabor do pescado. Mas há exceções. Alguns peixes, caso do atum e do salmão, ambos de “carne escura” e com menor concentração de iodo, costumam casar bem com tintos de baixa concentração de tanino, como os elaborados com as uvas das variedades Pinot Noir e Merlot.
Outro caso à parte é o bacalhau. Seu preparo exige que o sal seja retirado do peixe seco por meio de sucessivas trocas de água. Isso faz com que a concentração de iodo também diminua bastante. Por isso, também pode ser apreciado com um bom vinho tinho com pouco tanino. Algo que os portugueses, mesmo os que não têm nenhuma noção de química, já sabem há séculos.
Vinho branco é a bebida mais indicada: os tintos, com maior concentração de tanino, produzem um gosto metálico ao reagir com o iodo presente na carne do peixe
Por que alguns vinhos causam dor de cabeça?
Não é necessário se embriagar para sentir na cabeça os efeitos de um vinhovagabundo. Isso acontece por causa de um produto que a indústria utiliza para conservar a bebida: o anidrido sulfuroso, ou dióxido de enxofre. Trata-se de uma substância antioxidante que mata leveduras, fermentos e bactérias indesejáveis e sem a qual o vinho viraria rapidamente vinagre. O anidrido sulfuroso está presente, legal e obrigatoriamente, em todos os vinhos, inclusive nos vinhos orgânicos (elaborados com uvas plantadas sem defensivos agrícolas). Ocorre que alguns produtores exageram na quantidade do aditivo. E um efeito colateral do excesso de anidrido sulfuroso é, justamente, a dor de cabeça.
É possível se embriagar com comidas feitas com álcool?
Não há a mínima possibilidade de embriagar-se, mesmo que alguém se empanturre de comida. Mas a concentração de álcool residual no prato varia de receita para receita, dependendo do método e do tempo de cocção (altas temperaturas, cozimentos longos, panelas largas e destampadas em geral aumentam a evaporação), do teor alcoólico da bebida e dos demais ingredientes. Experiências em laboratório comprovam que o álcool, ao ser misturado à água não evapora por completo aos 78ºC, uma vez que cada um deles afeta a temperatura de fervura do outro. Logo, a mistura de álcool e água ferve numa temperatura que oscila entre 78ºC e 100ºC, terminando aos 100ºC se ela contiver mais água, e pouco acima de 78ºC , caso contenha mais álcool.
No caso dos flambados, há a crendice de que todo o álcool se queima nas chamas. Isso não ocorre porque, quando a concentração de álcool baixa a um determinado nível em uma solução com água, deixa de ser inflamável. Tente atear fogo em um copo de cerveja: nada vai acontecer, mas isso não significa que não haja álcool ali.
Em pratos flambados, apenas o álcool queima nas chamas
Como é feita a cerveja sem álcool?
Cerveja sem álcool é algo que só existe nos rótulos porque a legislação brasileira permite que quantidades irrisórias de álcool sejam qualificadas como nulas. A cerveja é resultante de uma fermentação alcoólica, não podendo desse modo, por definição, existir sem álcool. Se retirarmos dela essa característica por centrifugação, osmose reversa ou outro método qualquer, teremos um outro líquido, potável, mas que não pode ser chamado decerveja. No Brasil, é chamada cerveja sem álcool aquela que, segundo a nossa lei, “contém menos de 0,5% de peso de álcool em relação ao peso total (massa) do produto analisado”. Logo, é uma cerveja de baixíssimo teor alcoólico – uma pilsen, por exemplo, possui entre 3% e 3,5% de álcool. Para elaborar tal cerveja, são utilizadas várias técnicas de controle de produção.
A mais conhecida delas é o método de interrupção do processo fermentativo, feita pelo controle de temperatura, pressão e tempo de contato dos levedos com o mosto (a cerveja não-fermentada) para diminuir a produção de alcoóis. Tal processo, porém, permite que outros componentes, como aldeídos, ésteres e gás carbônico, que são fundamentais na composição da cerveja, sejam normalmente produzidos e preservados. O resultado final, no entanto, apontam alguns críticos desse método de produção, nem sempre reproduz, infelizmente, o sabor natural das loirinhas.
O que ocorre com a bebida dentro dos barris?
Enquanto repousa nos tonéis de madeira, a bebida passa por uma série de diversos fenômenos físico-químicos. O principal é a ocorrência simultânea da microoxidação (feita graças aos minúsculos poros da estrutura da madeira), das transferências de substâncias da madeira para a bebida e das reações entre substâncias que se encontraram devido a essas transferências. Em umabebida envelhecida, estão presentes produtos que atendem por nomes estranhos: eugenol (tem aroma de cravo-da-índia), vanilina (de baunilha), octolactonas e compostos de lignina, responsáveis pelo sabor abaunilhado característico da madeira. Trata-se de um processo muito lento, por isso o tempo é fundamental – e, por isso, uísques envelhecidos por pelo menos 12 anos são mais apreciados que seus primos mais jovens.
Por que a cerveja congela na mão do garçom?
cerveja, composta basicamente de água – 95% do seu peso total – tem uma temperatura de congelamento que gira em torno de –2OC. Mas um fenômeno chamado superfusão permite que ela permaneça líquida mesmo um pouco abaixo dessa temperatura, desde que fique quietinha no seu canto. A mão que tira a garrafa da geladeira destrói esse equilíbrio frágil. Resultado: a água forma cristais de gelo e a cerveja vira raspadinha. Vale lembrar que tal fenômeno não tem nenhuma relação com o choque térmico gerado pela temperatura ambiente ou pelo calor da mão do garçom. Uma última dica: apesar de ser refrescante, a cerveja estupidamente gelada perde muitos de seus aromas, pois o frio amortece a língua e inibe a liberação de compostos voláteis. O ideal é bebê-la entre 5OC e 9Oc.
O movimento pode transformar uma cerveja muito gelada em raspadinha.
Superinteressante Edição 188d - A Fantástica Ciência da Comida

HAPPY NEW YEAR...


Festa de arromba: os efeitos do réveillon no corpo humano

O que acontece no organismo do homem numa festa de réveillon.


por Lúcia Helena de Oliveira

Os efeitos do<br> Réveillon no<br>corpo humano

Dezembro é mês de festejar e isso significa submeter a saúde a uma maratona. Quanto maior a animação, maior o desafio: cérebro, fígado, estômago, células defensoras, até coração trabalham cada vez mais freneticamente, enquanto o festeiro se diverte. O folião nem desconfia que o maior agito não está ao seu redor e sim dentro dele próprio. Veja aqui o que acontece em um réveillon e tenha boas festas, quer dizer, agüente firme!

21h30 Pronto para fugir
A campainha da casa do anfitrião é um alarme para o cérebro do convidado, que dispara mensageiros químicos rumo a duas glândulas acima dos rins, as supra-renais. Ao receber o aviso, elas despejam os hormônios do estresse: a adrenalina, que acelera o coração, e os glicocorticóides, que retiram nutrientes das células. Tudo para mandar mais sangue e combustível aos músculos, deixando o corpo preparado para dar no pé, caso encontre uma surpresa desagradável do outro lado da porta. É um mecanismo de defesa inevitável.
21h40
Água na boca
Os olhos captam a imagem perturbadora de uma bandeja de salgados. A boca, então, fica cheia de saliva, que é 99,5% água, para transformar o petisco numa papa fácil de ser engolida. O líqüido contém ainda enzimas para quebrar as moléculas de amido, presentes na massa de uma empadinha, por exemplo. Mas esses preparativos podem ser em vão, se a oferta do garçom é recusada. “Adigestão é acionada só de se ver comida, mesmo quando não estamos com fome”, explica o fisiologista Francisco Gacek, professor da Universidade de São Paulo.
21h45
Primeiros goles
No estômago, a bebida alcoólica estimula a secreção do suco gástrico, quebrador de proteínas. Por isso, ela ajuda na digestão. Mas se a barriga está vazia o suco gástrico ataca o próprio estômago, provocando uma azia. E a pessoa fica tonta depressa, pois o álcool logo vai parar no sangue. Circulando, as moléculas alcoólicas confundem os neurônios do cérebro, antes de serem destruídas lentamente pelo fígado. Se o convidado come tira-gostos gordurosos, agüenta mais tempo sem sentir tontura, porque a gordura retarda a absorção do álcool.
21h50
Bate-papo
No cérebro, a circulação sangüínea fica mais intensa na área do hipocampo e na superfície escura chamada córtex. Isso porque é preciso resgatar a memória de filmes, livros, situações curiosas, viagens, enfim, tudo o que possa servir de assunto para alimentar uma conversa. Existem recordações gravadas em todo canto cerebral, mas a gente só tem consciência delas quando alcançam o córtex. Já o hipocampo participa da gravação de novos arquivos, como a lembrança do rosto de quem participa da discussão.
22h00
Depois da piada
Será que a brincadeira agradou? Segundo o psicólogo Ailton Amélio da Silva, da Universidade de São Paulo, na gargalhada legítima os cantos da boca sobem, empurrando as pálpebras inferiores para cima. “Os músculos em torno dos olhos também se contraem, deixando-os semi-fechados.” Já na risada falsa, a boca se estica para as laterais da face, sem apertar os olhos, que continuam arregalados. Só o riso verdadeiro, porém, faz as células cerebrais reagirem com uma descarga de endorfinas, calmantes naturais.
22h30
Sinais de paquera
Os olhos flagram alguém atraente e, sempre que é surpreendido, o coraçãobate mais forte. O corpo, então, bota para rodar o seu programa de charme, que é diferente conforme o sexo. “As mulheres tocam bastante os cabelos e mostram as palmas da mão enquanto falam. Já os homens estufam o peito”, diz Ailton Amélio da Silva, que observou quase 200 casais nessa situação. Olhos nos olhos são outro sintoma do casal paquerador. As pupilas se dilatam, obedecendo involuntariamente as ordens do cérebro seduzido.
23h00
Efeitos da gula
De novo, o olhar aciona a digestão, agora diante da ceia. O estômago começa a se movimentar. A chegada de comida acelera o rebolado estomacal, que serve para misturar tudo com o suco gástrico. Mas ao se exagerar no prato o estômago lotado fica com as paredes tão esticadas, que mal podem se mexer. Resultado: peso na barriga. O alívio demora, porque não é fácil para o intestino quebrar as gorduras, comuns nos cardápios de fim-de-ano. Assim, ele fecha a sua entrada e só passa um pouco de comida por vez.
Meia noite
Feliz ano novo...
Todos cantam e começam a falar alto. O som captado pelos ouvidos deve ser decifrado na região temporal do cérebro. Esse não quer nem saber se toda a barulheira é sinal de alegria. O sistema nervoso gosta que falem baixinho. Volumes altos são interpretados como sirenes de alerta. Outra vez caem no sangue os hormônios do estresse. Os batimentos cardíacos aumentam e o pulmão passa a trabalhar mais rápido para fornecer oxigênio. O desgaste só tem fim quando a poluição sonora termina.
2h00
Nariz confuso
O ar está saturado de moléculas odoríferas desprendidas de pessoas e objetos. Elas são analisadas por 25 milhões de células no fundo do nariz, que enviam sinais elétricos ao bulbo olfativo no cérebro. Mas, cansadas, as células mandam mensagens confusas e, por isso, nessas alturas só se decifram cheiros fortes, como o do cigarro. A fumaça desse, aliás, carrega moléculas de nicotina para o sangue de todos os presentes, por meio da respiração. Aumenta a trabalheira do fígado incumbido de liqüidá-las.
2h30
Faxina interna
Enquanto dura a folia, as células defensoras do sistema imunológico não têm sossego. É assim sempre que se enfrenta uma pequena multidão: o corpo entra em contato com micróbios alheios e partículas de poeira que os sapatos levantam do chão. Calma, raramente alguém começa o ano doente, porque as defesas são recrutadas para fazer uma limpeza mal um agente estranho entra nos pulmões, na boca ou numa brecha da pele. A célula macrófago é a que mais trabalha, engolindo e derretendo os invasores.
4h00
Fim de festa
Por mais que se tente vencer o sono, o sistema nervoso cansado fala mais alto, espalhando sinais de fadiga no corpo. Os ombros ficam
caídos e as pálpebras, idem.
A voz perde a força.
A memória não registra os acontecimentos direito.
O estômago continua quase paralisado. O fígado não consegue ter folga, principalmente por causa do álcool e das gorduras. Os músculos estão tombados.
O sistema imunológico, à beira do esgotamento. O corpo termina em frangalhos, mas quem festejou
sai delirantemente feliz.
Para saber mais:
Ciência e magia dos fogos de artifício
(SUPER número 12, ano 4)
Superinteressante Edição 099 - Animais meiofauna - Os donos da praia

Thursday 30 December 2010

BRAZUCAS ABROAD...


Brasileiro viaja mais e abre mercado para quem fala português



EDUARDO GRAÇA
LÚCIA MÜZELL JARDIM

Direto de Nova York e Paris

Brasileiras fazem compras na Benlux, em Paris
Brasileiras fazem compras na Benlux, em Paris
Foto: Lúcia Müzzel Jardim/Especial para o Terra

O gasto dos brasileiros no exterior bateu recorde em setembro, segundo os dados mais recentes do Banco Central (BC). Segundo a instituição, foram gastos pelos brasileiros em viagens internacionais US$ 1,5 bilhão em setembro. Com o real atingindo os maiores patamares desde 2008 ante o dólar, os turistas brasileiros ganham espaço entre os que mais consomem em viagens para fora do País. Com isso, fomentam também um fenômeno nos países que mais visitam: a demanda por trabalhadores no comércio que falam português.
Em Paris, foi-se o tempo em que os comerciantes faziam de tudo para atrair a atenção dos turistas americanos e árabes. O setor de turismo da luxuosa capital francesa está tendo de se adaptar ao aumento inesperado dos turistas brasileiros na Europa. Em apenas um ano, a visita dos "brazucas" subiu 10%, obrigando os franceses a providenciar um atendimento mais personalizado a essa nova clientela.
A atitude mais imediata para fazer face à demanda foi a de contratar funcionários que falam o português, a fim de facilitar a estadia e as compras dos brasileiros. Em uma terra onde qualquer francês torce o nariz se tem de falar em inglês, a solução caiu como uma luva para os brasileiros, que não são dos mais adeptos da língua de Molière.
"Faz toda a diferença poder falar a própria língua. A gente se sente mais seguro ao perceber que o vendedor está entendendo exatamente o que a gente quer dizer. Tudo fica mais fácil", disse o dentista paulista Tiago Mariutti, enquanto circulava com o esposa pela Benlux, perfumaria em frente ao Museu do Louvre que está se tornando conhecida por ter pelo menos seis funcionários prontos para atender o cliente em português. No verão europeu, o número de funcionários contratados temporariamente pela loja para atender o aumento da demanda de brasileiros passa de 10.
"O que aconteceu neste ano de 2010 foi inacreditável. Nunca vi tanto cliente brasileiro antes", atestou Caroline Pierquet, com a autoridade de quem trabalha há 32 anos no estabelecimento e verificou nas vendas o aumento de 35% da presença de compatriotas. "Eles não apenas estão mais numerosos, como gastam muito mais do que há cinco anos. Para os brasileiros, ficou barato vir passar boas férias em Paris."
Caroline tem razão: conforme um relatório da Global Refund, especialista em comércio internacional, o volume de dinheiro gasto pelos brasileiros na França aumentou 5,1% de 2008 a 2010, chegando à soma de 37,8 milhões de euros (R$ 8,78 milhões). O mesmo relatório aponta que os brasileiros hoje são a quinta nacionalidade que mais visita a França - há 10 anos, eles sequer ocupavam uma posição entre 10 primeiros. Fenômeno semelhante acontece também com outros países emergentes, como a China e Índia, que jamais mandaram tantos turistas para o exterior como agora.
A mudança nos parâmetros foi sentida pelo setor hoteleiro: em um dos estabelecimentos mais luxuosos da cidade, o hotel George V, a presença de brasileiros subiu em 50% em cinco anos - 20% apenas no último ano. Resultado: de 2009 para cá, o número de funcionários que falam português passou de oito para 14. "Estamos apostando nesta clientela e acreditamos que ela será ainda 10% maior nos próximos anos", disse Caroline Mennetrier, diretora de Relações Públicas do hotel. "Os brasileiros já ocupam a oitava posição entre os nossos clientes estrangeiros e é um mercado com um forte potencial."
Pela primeira vez na cidade, o ginecologista brasileiro Sérgio Vieira disse que não teve problemas para se comunicar nos estabelecimentos franceses - mas reconheceu que não há nada como receber o atendimento de um funcionários à la brasileira. "Eles são bem mais atenciosos. Não achei os franceses tão grosseiros, como dizem, mas nada se compara com o atendimento dos brasileiros", afirmou, acrescentando que a facilidade da língua é fundamental quando se procura um produto específico, como foi o caso dele em busca de um óculos de sol.
Já no ramo dos transportes, jamais a empresa de locação de veículos de luxo Duga teve um faturamento tão volumoso quanto neste ano. Fundada por dois brasileiros há cerca de 13 anos, a empresa constata que o bom momento econômico do País está levando as pessoas a experimentar viagens que sonhavam fazer há muitos anos. "Temos muitos clientes habituais, que vêm todos os anos. Não apenas eles decidiram voltar a Paris no mesmo ano como o que número de novos clientes aumentou de uma maneira espetacular", explica Rodrigo Perozzo, diretor técnico da Duga. Perozzo ainda conta que, neste ano, foi procurado por "diversos" hotéis querendo contratar os seus serviços para melhor atender os brasileiros. "Essa explosão da clientela é fácil de explicar: dólar baixo, o euro caindo e viagens podendo ser pagas em até 10 vezes, só não vem quem não quer", disse o empresário.
Brasileiros ajudam combalida economia americana
Em Nova York, chama atenção o título no site especializado em propaganda gratuita Craigslist: Precisa-se de Atendente que fale Português e Inglês. Uma "grande loja de departamentos" localizada em Midtown West precisa de atendentes que falem português para lidar com o público. Salário: de US$ 9 a US$ 11 por hora. Uma rápida caminhada pelo SoHo, a meca das compras em Manhattan, onde estão localizadas as lojas da japonesa Uniqlo, Banana Republic, Victoria's Secrets, H&M e Guess, constata-se que uma das línguas mais ouvidas já é o português.
De acordo com a prefeitura de Nova York, em 2009 (dados mais recentes divulgados) 338 mil brasileiros visitaram a cidade, catapultando o país para o 11º mercado de turistas estrangeiros na cidade e o maior da América Latina, à frente do México. Para se ter uma ideia do aumento de turistas brasileiros na cidade, em 2006 eram apenas 151 mil, um aumento de 123% em três anos.
A.Moreno, 29 anos, que prefere não ser identificado pelo primeiro nome, é o queridinho das brasileiras desde que foi contratado pela Bloomingdale's do SoHo, em setembro. Um de seus principais atributos? Fala português. Moreno, que faz faculdade de Moda e Estilismo, é cabo-verdeano. "Mas a maioria das clientes é brasileira, muitas de São Paulo e do Nordeste", conta, com um sotaque típico das ilhas colonizadas por Portugal. Moreno fica baseado no quarto andar, onde estão as coleções femininas de Donna Karan, uma das favoritas das brasileiras. "Em pouco mais de dois meses já percebi que o perfil das brasileiras é o da compradora exigente, que quer algo mais prático, para usar no trabalho, que se adapte à realidade mais tropical do País, com temperaturas médias mais altas do que as de Nova York. Em menor escala, temos as socialites, que chegam com as amigas e estão mais preocupadas com exclusividade, querem algo que não será muito usado no Brasil", conta.
Marilla Maia, 45 anos, trabalha como vitrinista na Ariella, a poucos passos da Bloomingdale's, na West Broadway, e conta que com o dólar barato o aumento de brasileiros comprando em Nova York já é motivo de alegria no comércio da cidade, sofrendo com dois anos de recessão e a retração do consumo interno. "Mais uma brasileira trabalha aqui e a nova loja da Guess, na Broadway, deveria contratar urgentemente uma funcionária que fale português, porque todas as brasileiras que baixam por aqui querem comprar bolsas lá. Hoje mesmo conheci um brasileiro que foi contratado por uma joalheria em Midtown. E uma outra conhecida, também brasileira, especializada no mercado imobiliário, conta que o aumento de brasileiros alugando apartamento por temporadas na cidade também é recorde", contou.

Search This Blog

Followers

About Me

My photo
I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!