Sunday 20 February 2011

AND THE OSCAR GOES TO...

DO JÁ VISTO.


Daniel Piza, Estadão, 20/02/11
Os filmes favoritos para o Oscar deste ano, a ser anunciado no domingo que vem, não prezam pela originalidade. É o ano do “déjà vu”. Na semana passada comentei o romantismo “over” de Cisne Negro, com seus recursos básicos ao contraste de branco e preto e aos espelhos quebrados, e o filme de boxe O Vencedor, na linha “família maluca também é família”. Antes já tinha comentado A Rede Social, que se concentra nas brigas sobre quem criou o Facebook. Nesta semana vi O Discurso do Rei e Bravura Indômita, dois filmes bem-feitos, mas o primeiro lembra outros melhores e o segundo é um remake comportado. O problema não é apenas o esquema binário e o desfecho previsível de cada um, mas sobretudo a superficialidade da visão, o comodismo de argumento e estrutura. Guerra ao Terror, vencedor do ano passado, era muito mais revelador sobre o cotidiano de um soldado e rico em cenas que emocionam e fazem pensar.

Não que não sejam bons filmes, alguma coisa entre três e quatro estrelas. O Discurso do Rei, de Tom Hooper, ganha vida quando Colin Firth e Geoffrey Rush estão juntos. O primeiro faz o rei gago sem cair nos truques rasteiros e mostrando que sua angústia em relação ao problema vem de seu caráter, não de sua vaidade. O segundo, que faz o australiano sem diploma que o ensina a lidar com a gagueira, tem momentos brilhantes, como quando responde à pergunta do rei, “Eu tenho uma voz?”, usando a pausa, o sorriso e o tom como poucos. O bacana do filme é mostrar que encontrar uma voz é muito mais que uma questão de dicas e exercícios; como aprender a escrever, é uma questão de confiar no que se tem a dizer e não sonhar com a solução completa. Há também os enquadramentos de Firth no canto de uma parede descascada, tradução do confronto entre a pompa de sua posição e o tosco da situação em que se meteu.

Mas uma ideia interessante e três ou quatro cenas de boa atuação são pouco para fazer uma grande obra. Sem ser um filme de época ou biográfico, ele se basta nesse conflito ligeiro que sabemos superado ao final. Os personagens do irmão, que renunciou ao trono como Edward VII para se casar com a plebeia divorciada Wallis Simpson, e de Winston Churchill, de longe o autor dos discursos mais poderosos da Segunda Guerra, beiram o patético. Mesmo o método do fonoaudiólogo amador, que envolve perguntas sobre traumas de infância, não dá espaço para autoexames maiores que o de lidar com a timidez de elocução. E em tudo o filme parece sugerir que a monarquia tem o papel de representar uma continuidade – como um teatro esnobe para deleite das massas – sem a qual a nação não seguiria. Nesse aspecto, prefiro a relativa precisão de A Rainha, com Helen Mirren. Mas um filme bem melhor sobre bastidores da realeza é As Loucuras do Rei George, com Nigel Hawthorne, baseado na peça de Allan Bennett.

Bravura Indômita, dos irmãos Coen, é mais cinema. É versão de um western que, apenas por ser mais antigo (1969), é chamado de “clássico”, do diretor Henry Hathaway. Uma sinopse possível diria que se trata de uma refilmagem na qual os Coen colocaram algumas de suas digitais: o humor, sobretudo nas falas, de uma certa eloquência ou formalidade que destoa daquele mundo brutal, e em algumas cenas como aquela em que Rooster Cogburn (Jeff Bridges) empurra com o pé duas crianças de cima de uma varanda; a violência mais gráfica, com mutilações em primeiro plano; e a recusa ao tom lendário, que já aparece na interpretação de Bridges, mais para cão velho do que para John Wayne, com seu andar arqueado e semblante impassível. Mas isso faria o espectador pensar que vai ver uma história criativa e engraçada, como Fargo – ainda o melhor dos irmãos Coen – ou mesmo Onde os Fracos Não Têm Vez.

Mas nem o original é obra-prima nem o remake uma “desconstrução”, como gostam de dizer os críticos. As pitadas de humor e desmitificação não passam disso, pitadas, e o que temos é a história de uma garota de 14 anos (Hailee Steinfeld) que quer vingar o pai e, com o federal e um “Texas ranger” (Matt Damon), atravessa território indígena para achar o assassino. Aos poucos, obviamente, o durão se deixa amolecer e, apesar de já não atirar e brigar bem, luta contra quatro inimigos e cavalga heroicamente sob o céu estrelado. Os Coen parecem querer os dois mundos agora: o das histórias lineares com vitória dos bem-intencionados e o das inquietudes formais e críticas satíricas. Ficaram mais perto do primeiro. Mas, por exemplo, se você pensar no que Clint Eastwood fez em Os Imperdoáveis, ironizando e ao mesmo tempo reavivando os westerns, vai verificar que não é preciso aderir à caretice.

Há nos cinco favoritos ao Oscar um medo do refinamento psicológico, de verbalizar ou dramatizar mais a fundo as mudanças interiores pelas quais os personagens passam, o que não significa perder leveza nem ação. Os protagonistas não são estereótipos; há um esforço de mostrar defeitos, desenhar nuances. Mas é insuficiente. A bailarina paranoica e aclamada, o pugilista que dá um “jab” e depois um “clinch” na família, o nerd antissocial que vira gênio porque inventa uma rede social, o rei gago que comove a nação por rádio, o caubói com coração – todos, apesar das atuações, se encaixam em enredos que contemporizam e consolam e, pior, parece que já vimos antes. Acrescentar maneirismos à tradição não é o mesmo que renová-la.

Friday 18 February 2011

NO ADDICTION IS HEALTHY!

Viciados em exercícios físicos 
não percebem que estão doentes !

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
MARIANA PASTORE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com visão distorcida da própria aparência, maioria dos portadores de vigorexia fica sem diagnóstico.

Questionário ajuda a identificar risco de transtorno que leva ao abuso nos treinos e aos anabolizantes .

A doença que faz a pessoa se achar mais magra ou fraca do que é -enquanto seus músculos incham- vem sendo subdiagnosticada, conforme especialistas.

Essa falsa percepção, característica do transtorno da vigorexia, leva o doente a abusar de exercícios físicos e, às vezes, de anabolizantes.

Diferentemente do paciente anoréxico, o vigoréxico raramente procura ajuda, segundo a psiquiatra Ana Gabriela Hounie, da Associação Brasileira de Psiquiatria.

"Quando um chega ao psiquiatra é porque foi encaminhado por um cardiologista ou urologista, procurado para solucionar problemas causados por uso de esteroides."

Incomodado com a falta de diagnóstico e a proliferação de vigoréxicos ao seu redor, o educador físico e instrutor Marcus Zimpeck, 29, criou um teste para avaliar o risco de o aluno desenvolver o problema (ao lado).

"Metade dos homens que vejo em academias fica exibindo os músculos e gastando dinheiro com suplementos. Muitos vão para o caminho dos anabolizantes", diz.

Segundo o instrutor, detalhes como a frequência dos treinos e a autoavaliação no espelho podem ajudar a pessoa a checar se há risco.

A psiquiatra Hounie diz que o teste não é diagnóstico, mas pode detectar comportamentos suspeitos e levar a pessoa a um especialista.

"O que dirá se a pessoa tem vigorexia é se a percepção do próprio corpo não corresponde à realidade."
Zimpeck aplicou o questionário em dez homens. Um deles, conta, teve a máxima pontuação. "Aconselhei a procurar um especialista."

Mas o instrutor diz que a maioria brinca com o tema. "O pessoal não leva a sério enquanto não surge algum problema no organismo."

AMBIENTE

Academias são complacentes com o problema, na visão de Vladimir Modolo, professor de educação física e pesquisador do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercícios da Unifesp.

"Academias têm a tendência de contratar professores sarados para atrair mais público." Segundo Modolo, muitos instrutores ignoram os danos causados à saúde pela vigorexia.

"Acabam propiciando um ambiente no qual os praticantes são estimulados a cultuar o corpo sem controle."
O psicólogo Niraldo de Oliveira Santos montou um grupo no Hospital das Clínicas de São Paulo para tratamento gratuito da vigorexia.

De 2006 até hoje, ele diz que só recebeu dois pacientes que usavam anabolizantes, mas não se enquadravam no diagnóstico do transtorno. "As pessoas não procuram tratamento."

"Para o vigoréxico, seu único problema é ele não estar malhando o suficiente", reforça Hounie. E os anabolizantes são ferramenta para atingir o corpo almejado.

"Quanto mais doses a pessoa tomar, mais efeitos colaterais terá", alerta o endocrinologista Evandro Portes, vice-presidente da regional paulista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia.
E enumera: pressão alta, insuficiência cardíaca, câncer no fígado, atrofia testicular, infertilidade, convulsões, agressividade.

TRYING TO BELIEVE?


Defendendo a ciência.


 por MARCELO GLEISER


Outros países educam seus jovens sobre a importância da ciência; no Brasil, há uma corrente contrária.


ARECE NOTÍCIA VELHA, mas a ciência e o ensino da ciência continuam sob ataque. Por exemplo, uma busca na internet com as palavras "criacionismo", "escolas" e "Brasil" leva ao portal www.brasilescola.com. Lá, há um texto, de Rainer Sousa, da Equipe Brasil Escola, que discute a origem do homem.
O autor afirma que o assunto é "um amplo debate, no qual filosofia, religião e ciência entram em cena para construir diferentes concepções sobre a existência da vida". 
No final, diz: "sendo um tema polêmico e inacabado, a origem do homem ainda será uma questão capaz de se desdobrar em outros debates. Cabe a cada um adotar, por critérios pessoais, a corrente explicativa que lhe parece plausível". 
"Critérios pessoais" para decidir sobre a origem do homem? A religião como "corrente explicativa" sobre um tema científico, amplamente discutido e comprovado, dos fósseis à análise genética? 
Como é possível essa afirmação de um educador, em pleno século 21, num portal que leva o nome do nosso país e se dedica ao ensino? 




Existem inúmeros exemplos da tentativa, às vezes vitoriosa, da infiltração de noções criacionistas no currículo escolar. Claro, se o criacionismo fosse estudado como fenômeno cultural, não haveria qualquer problema. Mas alçá-lo ao nível de teoria científica deturpa o sentido do que é ciência e de seu ensino. 
Um país que não sabe o que é ciência está condenado a retornar ao obscurantismo medieval. Enquanto outros países estão trabalhando para educar seus jovens sobre a importância da ciência, aqui vemos uma corrente contrária, que parece não perceber que a ciência e as suas aplicações tecnológicas determinam, em grande parte, o sucesso de uma nação. 
Muitos dirão que são contra a ciência apenas quando ela vai de encontro à fé. Tomam antibióticos, mas rejeitam a teoria da evolução. 
Se soubessem que o uso de antibióticos, que aumenta as chances de que os germes criem imunidade por mutações genéticas, é uma ilustração concreta da teoria da evolução, talvez mudassem de ideia. Ou não. Nem o melhor professor pode ensinar quem não quer aprender. 
Os cientistas precisam se engajar mais e em maior número na causa da educação do público em geral. 
Mas devemos ter cuidado em como apresentar a ciência, sem fazê-la dona da verdade. Devemos celebrar os seus feitos, mas ser francos sobre suas limitações e desafios (a teoria da evolução não é um deles!) Não devemos usar a ciência como arma contra a religião, pois estaríamos transformando-a numa religião também. Achados científicos são postos em dúvida e teorias "aceitas" são suplantadas. 
Bem melhor é explicar que a ciência cria conhecimento por meio de um processo de tentativa e erro, baseado na verificação constante por grupos distintos que realizam experimentos para comprovar ou não as várias hipóteses propostas. 
Teorias surgem quando as existentes não explicam novas descobertas. Existe drama e beleza nessa empreitada, na luta para compreender o mundo em que vivemos. Ignorar o que já sabemos é denegrir a história da civilização. O problema não é não saber. O problema é não querer saber. É aí que ignorância vira tragédia. 



MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "Criação Imperfeita"

NEW WORLD, NEW TEACHERS...

O que mudará é que o professor que despeja conteúdos automaticamente será mesmo dispensável 

By Gilberto Dimenstein, Folha de São Paulo


QUANDO ENCONTRA dificuldade para ajudar o filho na lição de casa, Bill Gates aciona o professor Salman Khan. "Tudo fica fácil", diz Gates, que, nos últimos anos, vem gastando dezenas de milhões de dólares em sua fundação para descobrir novos jeitos de educar.
Filho de família da Índia e de Bangladesh, Khan tem um currículo capaz de impressionar qualquer gênio: no MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), fez matemática, engenharia elétrica e ciência da computação; em Harvard, administração. Mas o que impressiona mesmo Gates é o valor das aulas: são de graça e acessíveis a qualquer um -aliás, neste momento, se quiser, você também pode entrar na internet e receber as mesmas aulas.
Khan foi um dos personagens que influenciaram Gates a escrever um texto em que sugere a substituição dos professores convencionais por aulas, acompanhadas de exercícios, gravadas com recursos multimeios por professores como Khan e distribuídas para todos. "É melhor uma boa aula desse tipo do que as dadas por professores medíocres", provoca o criador da Microsoft.

 


Muita gente está levando a sério a possibilidade de as novas tecnologias exterminarem o professor como o conhecemos. Haveria uma radicalização do ensino a distância. Já há recursos para que um curso seja dado sem interferência humana. As aulas são gravadas e todos os debates, exercícios e notas são feitos por um programa de computador.
Autor da ideia de um computador por criança, Nicholas Negroponte me disse que está preparando uma experiência para ser lançada em comunidades da África e da Ásia que têm alto índice de analfabetismo. Quer deixar num lugar público computadores conectados à internet para ver como e se as crianças conseguem aprender a ler e a escrever sozinhas. "Cada vez mais o conhecimento vai ser transmitido fora da sala de aula", comentou.

 


Esse tipo de recurso pode ajudar muito os alunos, especialmente os mais pobres, mas duvido que possa atingir a excelência sem que se viva num ambiente criativo, estimulante, com trocas entre alunos e professores motivados. Qualquer um pode acessar aulas do MIT ou de Harvard, entre outros grandes centros de ensino. Outra coisa é entrar num laboratório e acompanhar, por exemplo, o nascimento de um carro capaz de estacionar sozinho. Esse projeto é desenvolvido no AgeLab, que se dedica a criar produtos e serviços para idosos. Já está criando roupas e acessórios para os mais velhos evitarem acidentes.
Estou aqui em Harvard experimentando uma poderosa combinação do virtual com o presencial, num curso sobre experiências educativas internacionais. Cada aula se transforma num fórum na internet entre os estudantes, conduzido por três monitores. Daí surgem outros fóruns autônomos para cada comentário. Para aprofundar as questões, a classe, separada em três grupos, reúne-se presencialmente.
O professor mistura as aulas expositivas com depoimentos de convidados do mundo inteiro, que, a distância, ilustram os textos curriculares. Um explica como usa a tecnologia para melhorar o ensino em áreas rurais da Índia, outro conta como cria bibliotecas em remotas vilas da Ásia ou da África. Depois da exposição, os convidados respondem às questões dos estudantes. Tudo é gravado e postado na rede.
Tecnologia alguma, porém, supera o entusiasmo de um professor como Fernando Reimers. Ele viaja pelo mundo para conhecer experiências educacionais e participa de algumas delas. Não há software capaz de competir com essa paixão.

 


O que veio para ficar foi o fato de as informações circularem, criando a possibilidade de que o mundo se converta numa imensa comunidade de aprendizagem. Existem sinais por todos os lados.
Um dos negócios que prosperam no mundo digital são páginas abertas a perguntas que são respondidas por leitores. A diferença agora é que empresas estão contratando especialistas para dar respostas quase imediatamente. Há redes sociais em que se podem aprender todas as línguas importantes. Em outras páginas, são ensinadas expressões e gírias que acabam de surgir. Aprende-se espanhol com alguém que está na Argentina ou na China.

 


O que vai mudar é que o professor que despeja automaticamente os conteúdos será mesmo dispensável, pois será mais caro e menos eficiente do que uma tela de computador.

 

PS- Coloquei no www.catracalivre.com.br os links desta coluna: o AgeLab, o MIT, o ensino de línguas, as aulas do professor Khan, as redes sociais para o aprendizado dos idiomas e os cursos gratuitos de universidades.

HAVE YOU EVER BEEN ABROAD?


O melhor momento para estudar fora


Mais de 200 mil brasileiros de todas as idades devem deixar o País em busca de educação em escolas estrangeiras este ano. Com o real forte, o caminho está aberto para aspirações de todos os gostos e bolsos

Claudia Jordão e João Loe, para ISTOÉ
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HARVARD VERDE-AMARELA
Grupo de brasileiros na emblemática universidade americana. O paulistano
Henrique Flory (no fundo, o terceiro da esq. para a dir.) cursa pós em administração
pública. Mariana Simões (na frente, a terceira da esq. para a dir.), de Fortaleza,
faz mestrado em ciência e prática da prevenção.

Passar uma temporada de estudos no Exterior é o sonho dourado de muitos brasileiros. Independentemente da faixa etária e das aspirações envolvidas. Pais acalentam proporcionar aos filhos adolescentes a oportunidade de cursar parte do ensino médio fora, vivenciando outra cultura e afiando uma segunda língua para o cada vez mais concorrido mercado de trabalho. Jovens recém-chegados à maioridade mergulham em testes, formulários e seleções disputadíssimas para obter a chance de se sentar nos bancos de universidades centenárias. Profissionais estabelecidos dão uma pausa na rotina para aprimorar o currículo em pós-graduações ou MBAs. E pessoas de todas as idades se deliciam com o cardápio de cursos livres que salpicam pelo mundo, numa democracia de datas, durações e temas. Os anseios são muitos, mas, até há pouco tempo, só alguns privilegiados conseguiam realizá-los. Pois bem, isso mudou. Estudar no Exterior deixou o terreno da fantasia distante e passou a ser a doce realidade de muitas pessoas, graças ao real fortalecido em relação às outras moedas, principalmente ao dólar.IMG6.jpg
EFERVESCÊNCIA
Victor Bicalho se formou em matemática aplicada
e economia em Harvard. Na época em que
morava no campus, o colega Mark Zuckerberg criou o Facebook
“A moeda forte amplia os horizontes de quem busca o intercâmbio”, diz Samir Zaveri, coordenador da Feira de Intercâmbio e Cursos no Exterior. Hoje em dia, por exemplo, é comum uma família gastar mais para manter um filho estudando numa escola de primeiro time no Brasil do que no Exterior – especialmente se o curso for high school, equivalente ao ensino médio nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se investe alto aqui em escolas particulares, transporte, material didático e demais despesas, quem faz high school na América só paga passagem aérea e infraestrutura, pois escritórios especializados encontram colégio e casa para o estrangeiro e assumem a responsabilidade pela papelada necessária. Um ano nos Estados Unidos sai por US$ 7,5 mil, pouco mais de R$ 12,5 mil, fora o transporte aéreo. 

Tal cenário fez o número de brasileiros que vão estudar fora subir 15% em um ano. Segundo dados da Feira de Intercâmbio e Cursos no Exterior, em 2010 foram 193 mil. E, em 2011, devemos romper a barreira dos 200 mil. O principal destino continua sendo os Estados Unidos, por conta da relevância do inglês e do número de parcerias firmadas entre instituições nacionais e americanas. De acordo com o relatório anual “Open Doors 2010”, 8.786 brasileiros estão matriculados lá em escolas de ensino superior, cursando graduação, pós ou inglês. O segundo principal destino é a França. O país europeu mantém 631 convênios com universidades brasileiras e recebeu 2,9 mil alunos nos níveis de graduação e pós só no ano passado. ISTOÉ fez um levantamento de tudo o que é necessário saber para aproveitar esse bom momento e programar uma temporada de estudos no Exterior – quanto custa, quando ir, melhores cursos e instituições e a alternativa das bolsas de estudo, entre outras orientações.

E MALAS PRONTAS
Letícia Gerola vai fazer seis meses
de high school no Canadá

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O caminho é trabalhoso e cansativo, mas profundamente recompensador. Que o diga o matemático mineiro Victor Bicalho, 27 anos. Ao terminar o ensino médio, ele deixou de lado os livros do vestibular para se candidatar a uma vaga em uma universidade americana, inspirado pelo pai médico, estudante de pós-graduação nos Estados Unidos, e pela lembrança de um curso livre de inglês que fez durante a adolescência na Inglaterra. Excelente aluno, determinado, não só conseguiu uma vaga em uma faculdade americana como alcançou o olimpo: entrou na lendária Harvard, uma das mais conceituadas instituições de ensino do mundo, onde permaneceu de 2002 a 2006. Hoje, formado em economia e matemática aplicada e trabalhando em um escritório de investimentos imobiliários em São Paulo, Bicalho tem a sensação de que a estada em terras estrangeiras o fez crescer como nunca. “Harvard é uma efervescência, lá as coisas acontecem”, diz o mineiro, que presenciou, por exemplo, o nascimento da rede de relacionamentos Facebook, pelas mãos do colega Mark Zuckerberg, em 2004.

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MÃO NA MASSA 
Marina Marques estagiou em
restaurantes italianos com estrelas no “Guia
Michelin”. Hoje trabalha com o premiado Alex Atala

Por mais que o real esteja valorizado, estudar no Exterior continua sendo um alto investimento. Por isso, é fundamental escolher muito bem o que fazer e para onde ir. O paulistano Henrique Flory, 42 anos, que faz mestrado em administração pública em Harvard, tem uma tese interessante. Para ele, na hora de decidir por um curso e por uma instituição é preciso avaliar os três “Cs”. Ou seja, quanto a experiência lhe trará em conhecimento, contatos e credibilidade. “Harvard oferece os três ‘Cs’” em profusão”, diz ele, entre uma aula e outra, no campus da universidade, em Cambridge, onde divide a mesma sala de aula com personagens relevantes do cenário mundial como Vasil Sikharulidze, ex-ministro da Defesa da Geórgia, e Violet Gonda, considerada a voz da resistência contra o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe. 

O aluno que viaja para o Exterior para fazer um curso superior deve, no entanto, estar atento para a revalidação de seu diploma internacional. No caso específico do ensino médio (high ­school), ela é burocrática, porém garantida. Por essas e outras, fazer high school continua sendo uma excelente oportunidade para aprender outra língua e experimentar outra cultura. O paulistano Leonardo Pedro Perrelli Faria, 17 anos, escolheu a Inglaterra e passou dez meses do ano passado na cidade britânica de Worthing. Além do inglês impecável, conquistou autoconfiança e muitas amizades. “Nos feriados e nas férias, eu aproveitava para viajar”, diz ele, que visitou a França, Dinamarca, Suécia, Holanda, Bélgica, Alemanha, Escócia e as Ilhas Canárias. Quando voltou para o Brasil, Faria constatou que tinha melhorado muito em matérias que antes pouco lhe interessavam. “Em história, por exemplo, comecei a tirar nota oito e nove, coisa que nunca tinha acontecido”, diz. Segundo ele, o enfoque e o rigor britânico com a disciplina foram fundamentais para a mudança. “Pretendo cursar parte da faculdade de administração que vou fazer em uma instituição inglesa”, planeja o estudante, confirmando uma tendência apontada por especialistas: quem vai para o Exterior no ensino médio costuma voltar na época do ensino superior.

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São histórias assim que empolgam outros brasileiros a arrumar as malas. A paulistana Letícia Gerola, 16 anos, está ansiosa para passar seis meses na Belleville High School, em Toronto, no Canadá. O embarque está previsto para o final de julho e ela deve começar os estudos já em agosto, início do ano letivo no Hemisfério Norte. A jovem será a primeira dos três irmãos da família Gerola a fazer intercâmbio. “Quero ganhar fluência no inglês e ter mais independência”, diz ela, que ficará em uma casa de família canadense. Os pais se dividem entre a felicidade de poder mandar a primogênita para uma experiência tão rica e a antecipação da saudade. “Se o dólar estivesse alto, não poderíamos bancar a viagem”, reconhece a fisioterapeuta Aparecida de Oliveira, que nunca passou mais de 15 dias distante da filha. Nos últimos cinco anos, o Canadá tem atraído cada vez mais estudantes do ensino médio porque, ao contrário dos EUA, permite que os intercambistas escolham em qual escola estudar e com qual família morar.
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NOVOS RUMOS
O intercâmbio de Stephan Hardt duraria seis
meses. Ele ficou 18, se formou em administração
da engenharia e garantiu emprego

Outra modalidade que cresce é a graduação parcial, em que o aluno matriculado numa universidade brasileira passa uma temporada de estudos numa instituição estrangeira. Para isso, é bom que as escolas envolvidas tenham algum tipo de acordo – assim os créditos do estudante que viaja são com mais facilidade revalidados na volta. Geralmente, quando o brasileiro deixa sua vaga na universidade nacional em aberto, ela é preenchida por um estrangeiro – do mesmo curso e instituição. “É o que chamamos de intercâmbio real”, diz Anelise Hoffman, coordenadora do núcleo de intercâmbios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Nesse mercado há duas décadas, a especialista diz que o setor vive um boom desde 2001 e que ainda são poucas as universidades brasileiras com parcerias no Exterior. Mas quem vai não se arrepende. “Foi uma experiência que mudou os rumos da minha vida”, diz o engenheiro paranaense Stephan Hardt, 23 anos. Aos 20, quando fazia engenharia de produção na PUC do Paraná, ele se candidatou a uma vaga para intercâmbio na Universidade St. Mary, em San Antonio, no Texas (EUA). A ideia inicial, de passar seis meses, logo virou uma estada de um ano e meio e garantiu a Hardt o diploma internacional de administração da engenharia, reconhecido no Brasil. Ainda lá, atento às oportunidades, ele garantiu um estágio e posteriormente um emprego na Brenntag, líder mundial em distribuição de derivados químicos. “Tive que trancar a PUC-PR, mas, com o tempo, volto ao Brasil e concluo o curso de engenharia de produção.” Com isso, o paranaense terá dois diplomas, especialização reconhecida em duas áreas e liberdade para escolher se quer continuar trabalhando nos EUA ou voltar para o Brasil.

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CRESCIMENTO 
Em dez meses de high school na Inglaterra,
Leonardo Faria aperfeiçoou o inglês e conheceu oito países
Mas não são necessárias mudanças tão radicais para desfrutar de uma transformadora experiência estrangeira. Para quem não quer – ou não pode – programar viagens longas, a melhor opção são os cursos livres. Eles são mais despretensiosos, não envolvem esquema burocrático de matrícula nem disputa acirrada por vagas. E, melhor: há sempre uma oportunidade para todas as faixas etárias, níveis acadêmicos e gostos. “O mais popular continua sendo o de idiomas”, explica Samuel Lloyd, coordenador do Student Travel Bureau, uma das maiores organizações internacionais de viagens educacionais. “Mas é possível combinar o país que se quer com o que se pretende estudar”, diz. Em 2010, a cozinheira paulistana Marina Marques, 23 anos, passou seis meses na Itália fazendo gastronomia. “Os quatro meses de prática foram sensacionais”, lembra ela, que trabalhou em dois restaurantes, ambos com estrelas no “Guia Michelin”, o mais rigoroso do mundo. “Esse é o tipo de experiência que faz a diferença na hora de procurar um emprego”, reconhece. Pela empreitada internacional, Marina desembolsou 8,6 mil euros (R$ 19,6 mil). Valeu a pena. Hoje ela trabalha no Dalva e Dito, restaurante do brasileiro Alex Atala, um dos 20 chefs mais influentes do mundo, que também está à frente do badalado D.O.M., em São Paulo.
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As oportunidades são tantas e tão boas que é possível viajar e trabalhar – uma maneira de viver a experiência do intercâmbio, aprender uma língua e experimentar uma atividade, sem estourar o orçamento. Em 2009, a psicóloga carioca Andréa Carolina Lima, 23 anos, foi contratada por três meses pela Disney, em Orlando, na Flórida. Lá ela atuou como uma espécie de faz-tudo, realizando tarefas que iam da faxina a guia de turismo, trabalho pelo qual recebia cerca de US$ 200 (R$ 332) semanais. Com o dinheiro, bancou as próprias despesas e ainda conseguiu fazer uma viagem de uma semana para Nova York, antes de voltar para o Brasil. “Morava com outras seis meninas e conheci gente do mundo todo”, lembra ela, que, antes de começar a desempenhar suas funções, fez um curso de imersão na cultura da Disney, uma das empresas de entretenimento mais bem-sucedidas do mundo, que contrata dezenas de estudantes brasileiros anualmente.

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E se estudar fora ainda parece difícil – é preciso desembolsar mais de US$ 20 mil (R$ 33,2 mil) para um ano de curso superior nos Estados Unidos, por exemplo –, há muitas oportunidades de bolsas de estudo em escolas de excelência acadêmica, que são oferecidas pelas próprias instituições de ensino nos Estados Unidos e na Europa e por fundações no Brasil e no Exterior. “Se o aluno estrangeiro tiver as credenciais exigidas, é possível estudar em uma universidade da Ivy League (liga das oito universidades americanas de maior prestígio científico), sem colocar a mão no bolso”, diz Andreza Martins, da EducationUSA, escritório do governo americano no Brasil para assuntos de educação. A estudante Mariana Simões, 27 anos, entrou em Harvard graças a uma bolsa da Fundação Lemann e outra da própria universidade. “Estudar aqui era o sonho da minha vida”, diz ela. Para chegar lá, foi preciso foco. Mariana prestou as melhores faculdades do País – é formada em psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) –, fez iniciação científica, participou de projetos de pesquisa, foi a congressos, realizou trabalhos voluntários e manteve alto nível acadêmico. Tudo para pavimentar a estrada rumo a Cambridge.
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EXPERIÊNCIA
Andréa Lima trabalhou de faxineira a guia
em seu estágio remunerado na Disney.
Gostou tanto que quer voltar

Também há empresas que bancam o curso de seus funcionários. O administrador André Pedriali, 27 anos, faz MBA na Universidade Columbia, em Nova York, há pouco mais de um ano, com o patrocínio da instituição financeira em que trabalha. “Desde que cheguei, já acompanhei palestras do ex-presidente Bill Clinton, do investidor Warren Buffett e do dono da Microsoft, Bill Gates”, conta Pedriali. Aulas de logística com profissionais do alto escalão de empresas como Walmart, Microsoft e Saks Fifth Avenue também são comuns. “Você circula pelos corredores e esbarra com autoridades internacionais das mais variadas áreas”, diz Everton Silva, outro aluno do MBA da Columbia. “E, além de tudo, temos a vantagem de estar em Nova York, onde tudo acontece antes”, lembra Leão Roberto Carvalho, 27 anos. Pago, subsidiado ou remunerado, o intercâmbio vale a pena. Com a influência brasileira em ascensão no mundo, novas parcerias surgem com rapidez e destinos inusitados passam a figurar entre as opções de quem busca uma experiência internacional. Organizar uma viagem desse porte é trabalhoso, mas as recompensas são incalculáveis. Já escolheu o seu destino?
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I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!