Voici, monsieur Gilbert !

Thursday, 24 June 2010

AVATAR II and III?

Entrevista: James Cameron
O visionário de Avatar

O cineasta diz que a sequência do filme de maior faturamento 
da história mostrará a necessidade de encontrar um equilíbrio 
entre desenvolvimento e meio ambiente.
Diogo Schelp
Ethan Miller/Getty Images
"Avatar 2 e Avatar 3 precisam responder: a humanidade pode ser salva? Os Na’vi podem ter uma mensagem de esperança para nós?"

O cineasta canadense James Cameron, de 55 anos, é o criador de alguns dos maiores sucessos do cinema, como O Exterminador do Futuro, Aliens, Titanic e, recentemente, Avatar, uma produção de mais de 300 milhões de dólares que ultrapassou a marca de 2 bilhões de dólares de faturamento em venda de ingressos. Cameron planeja dar sequência a Avatar. Profeta da tecnologia aplicada ao cinema e dono de um dom quase infalível para saber o que fará sucesso entre os espectadores, Cameron também tenta ser um visionário do meio ambiente. Ele esteve no mês passado no Brasil para participar, em Manaus, do Fórum Internacional de Sustentabilidade, realizado pela Seminars e promovido pelo Lide. Aproveitou a ocasião para sobrevoar pela primeira vez a Floresta Amazônica e conhecer a região onde será construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu. Após a visita, decidiu organizar uma campanha internacional contra a usina. Cameron concedeu a seguinte entrevista a VEJA.


Qual foi sua motivação para filmar Avatar? 

O filme surgiu da minha necessidade de dizer algo sobre como a destruição da natureza ameaça o mundo. Gosto de comparar a questão ambiental com o naufrágio do Titanic. Quando foi dado o aviso de que havia um iceberg na rota do navio, não dava mais tempo de desviar. O impacto ocorreu noventa segundos após o sino de alerta ter sido tocado. A questão é: o mundo já se encontra no estágio em que nada mais pode ser feito para evitar o desastre ambiental? Ou estamos em um momento anterior, em que ainda dá tempo de reduzir o ritmo de poluição e de destruição para evitar o pior? Avatar é a minha maneira, como artista e cineasta, de tocar o sino de alerta. Uma das imagens recorrentes em Avatar é a dos personagens abrindo os olhos. Há sempre alguém acordando no filme. A mensagem subliminar é que a sociedade precisa acordar para os problemas ambientais e lidar com eles.

Avatar valoriza experiências sensoriais como entrar em uma floresta cheia de flores coloridas ou sentir a terra sob os pés nus. A humanidade esqueceu como apreciar essas sensações? 
Sim. As pessoas estão se afastando não apenas da natureza, mas do contato humano. Os jovens têm as suas interações sociais on-line, em vez de pessoalmente. As aventuras acontecem em jogos de computador, não mais fora de casa. A interação com a realidade, com outras pessoas e com a natureza está diminuindo. A tecnologia permite isso.

O senhor, contudo, é o diretor de cinema que mais usa tecnologia no mundo. Como explicar esse paradoxo? 
De fato, é um paradoxo. Eu sempre tive uma relação de amor e ódio com a tecnologia. Durante as filmagens de Avatar, os atores tiveram de entrar em contato com o lado mais primitivo de si próprios e, ao mesmo tempo, atuar nas condições mais high-tech possíveis. Para dar uma ideia da tecnologia envolvida, este foi o primeiro filme a demandar uma memória de 1 petabyte (1 milhão de gigabytes) para ser armazenado. Para processar as imagens digitais, na Nova Zelândia, tivemos de desenvolver o computador mais potente do Hemisfério Sul. Ou seja, não podemos ser ludistas e afirmar que toda tecnologia é ruim. A solução para salvar nosso planeta também passapelo uso da tecnologia. Por isso, penso que, antes de construir uma hidrelétrica como a de Belo Monte, no Pará, por exemplo, o governo brasileiro poderia buscar outras saídas para atender à necessidade de energia do país. Todo projeto de represa com um impacto negativo sobre os moradores da região deveria ser evitado. A alternativa, no nível nacional, pode ser aumentar a eficiência no uso de energia nas cidades.

Na construção de um projeto como o de Belo Monte há duas forças legítimas em conflito: o desenvolvimento econômico e a defesa do ambiente.É possível conciliar os dois, desde que se encontre um meio-termo. Em Avatar não existe o meio-termo. Por quê? 
A explicação é simples: a solução moderada provavelmente não é a melhor solução. Imagine um caçador sufocando um animal aos poucos. Ele aperta o seu pescoço, depois solta só um pouquinho – e assim sucessivamente até que o animal para de respirar. Quando a civilização bate de frente com a natureza, não dá para ter meio-termo. Ou o governo constrói a represa de Belo Monte, ou não a constrói.

Em Avatar 2, o meio-termo entre economia e meio ambiente será encontrado? 
Sim. O próximo filme não deverá ser tão preto no branco quanto o primeiro. Durante uma projeção de Avatar no Equador, a anciã de uma tribo indígena criticou o filme por escolher a violência como solução para o conflito ambiental. Por isso, pretendo mostrar, na continuação da obra, que as partes têm de chegar a um acordo. Outras questões a que Avatar 2 e, talvez, Avatar 3 precisam responder: a humanidade pode ser salva? O modo de vida dos Na’vi (o povo azul que habita Pandora, a lua fictícia do filme) pode transformar o planeta Terraou estamos condenados? Os seres humanos serão capazes de absorver as ideias poderosas de Pandora e aplicá-las à própria vida, de maneira a recuperar tudo o que perderam? Em outras palavras, os Na’vi podem ter uma mensagem de esperança para nós, terráqueos? O primeiro Avatar é apenas o tiro inaugural de uma gigantesca batalha de ideias e civilizações.

O que mais haverá de novidade no próximo filme? 
Ele se passará parte em terra, parte em um ambiente subaquático, em um oceano.

O senhor já comparou os índios brasileiros aos Na’vi, que, na ficção, vivem em perfeita harmonia com a natureza. A analogia não é exagerada? 
Eu acredito que os índios vivem em harmonia com a natureza, mas não naquela linha romântica do bom selvagem. A relação dos povos indígenas com a floresta é de vida ou morte. Podemos aprender com eles, no entanto, a compreensão intuitiva que têm do meio ambiente. Trata-se de uma sabedoria desenvolvida ao longo de milhares de anos. Os índios sabem que plantas podem ser úteis e quais devem evitar. Eles vivem firmemente conectados ao seu mundo. Não estou falando de energia de cristais ou outras bobagens new wave, mas de conhecimentos práticos sobre a natureza que os índios adquiriram e que a ciência levaria 150 anos para descobrir.

O senhor sobrevoou a Floresta Amazônica. Consegue se imaginar rodando um filme naquele lugar? 
Com certeza. Eu adoro desafios e acho que fazer um filme em um ambiente como esse é tecnicamente desafiante. Para capturar a beleza e a essência da realidade da floresta, as nossas câmeras 3D em alta definição são perfeitas. Sempre que vejo algo de que gosto, quero filmar em 3D. Eu já fiz inúmeros filmes sob a água, como os documentários sobre os destroços do Titanic e do Bismarck (navio alemão da II Guerra Mundial). Consegui registrar imagens espetaculares de ambientes muito hostis, por isso não vejo a hora de fazer o mesmo na Amazônia. Esse projeto, no entanto, não precisa ter relação direta com uma continuação de Avatar. Penso apenas em fazer um documentário complementar à história de ficção.

Com todos os efeitos especiais disponíveis, faz sentido filmar na floresta? 
Eu já provei que não. Em Avatar, criamos do zero uma floresta tropical extraterrestre com todos os detalhes: as gotas de água sobre as folhas, as plantas e até os insetos. Tudo o que se vê ali jamais existiu fisicamente. A única filmagem de floresta real que fizemos serviu somente como referência, nem sequer foi usada no produto final. Apenas levamos os atores para o Havaí para andar pela floresta e fazer alguns exercícios de interpretação. Dessa forma, quando eles voltaram para o ambiente vazio e asséptico do estúdio, sabiam se movimentar como se estivessem em uma mata fechada. Avatar foi feito desse modo porque uma superprodução em uma floresta de verdade causaria grande impacto ambiental e também porque queríamos criar uma paisagem extraterrestre totalmente diferente de tudo o que conhecemos.

Qual é a sua participação no projeto da Nasa para explorar Marte? 
Pertenço à equipe da Nasa responsável por desenvolver a câmera que será os olhos de um laboratório de 3 bilhões de dólares a ser instalado em Marte, em 2011. Nossa câmera será 3D. Ou seja, eu vou rodar um filme em três dimensões em Marte, sem efeitos especiais. Isso é incrível. Adoro desenvolver equipamentos robóticos, câmeras, veículos submersíveis. Essa é minha outra vida, paralela à de cineasta.

Como o senhor influencia nas invenções? 
Funciona assim: eu estudo um problema e aprendo o suficiente para imaginar uma solução. Não tenho conhecimento técnico para saber que material deve ser usado ou para desenhar o 
circuito elétrico, mas eu consigo imaginar o que é preciso fazer. Geralmente há uma lacuna entre o que eu quero e a tecnologia existente. Então eu reúno os engenheiros e proponho uma saída. Às vezes minhas ideias estão corretas, outras vezes minha equipe encontra uma solução ainda melhor. Minha função é desafiá-los a ir além do que já foi feito antes. Isso vale tanto para a invenção de um veículo submersível para chegar às profundezas do oceano quanto para desenvolver um sistema de câmera 3D para um filme. Ou, no caso de Avatar, para o sistema de captura do desempenho dos atores, que eu imaginei claramente quinze anos atrás. Ao criar o desafio, outras pessoas foram capazes de resolvê-lo. Eu sou um generalista.

O futuro da indústria cinematográfica é o 3D? 
Com certeza. Nos anos 40, as pessoas discutiam se um dia todos os filmes seriam coloridos. Historicamente, o cinema evoluiu no sentido de estar mais e mais próximo da maneira como experimentamos as sensações. Os primeiros filmes eram mudos e em preto e branco. A não ser que a pessoa seja cega para cores e surda, não é assim que ela percebe a realidade. Pois bem, se nós vemos o mundo em três dimensões, por que os filmes têm de ser planos? É simples assim.

As televisões também serão 3D? 
Sim. Inclusive, minha equipe já fez versões da câmera 3D de Avatar que podem ser usadas em programas televisivos, como eventos esportivos. Em breve teremos uma Copa do Mundo transmitida ao vivo e em três dimensões. Mas há uma diferença essencial entre a experiência 3D no cinema e em casa. No nosso lar há um sofá, uma mesa, e do outro lado da sala está a TV. A área do campo de visão preenchida pela TV é pequena. No cinema, é trinta vezes maior. Por isso, o efeito na TV nunca vai ser o mesmo.

Como foi perder o Oscar de melhor filme para Guerra ao Terror, um filme muito mais barato que o seu e ainda por cima dirigido por sua ex-mulher, Kathryn Bigelow? 
Pessoalmente, tive sentimentos contraditórios. Senti alegria e tristeza pela escolha do prêmio. Eu estava desapontado pela equipe do filme, que tinha uma grande expectativa em relação ao prêmio. Por outro lado, Kathryn e eu somos amigos e colaboradores há muito tempo. Emocionalmente, significou muito para mim vê-la ganhar. É a primeira vez que uma mulher ganha como melhor diretora. Foi ótimo que tenha sido ela. Dito isso, os dois filmes abordam de maneira bastante diferente uma questão política: a guerra no Iraque. Avatar tem uma mensagem clara contra o uso militar para fins imperialistas. Não está certo enviar soldados para matar iraquianos a torto e a direito apenas para garantir o fornecimento de petróleo. O filme de Kathryn não discute isso, mas mostra o trauma psicológico que a guerra causa nos soldados. Um grande fator que levou Avatar a perder o Oscar é o fato de o filme ser tão deslumbrante visualmente que os membros da Academia não deram muito crédito à história. 

Posted by Sir Gil at 14:48 2 comments:

Friday, 18 June 2010

HAVE A NICE TRIP, SARAMAGO...


"Escrever sobre a morte é escrever sobre a vida", disse Saramago em 2005

MARCOS STRECKER
DE SÃO PAULO



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Em 2005, José Saramago falou com a Folha por ocasião do lançamento de seu livro "As Intermitências da Morte". Leia abaixo a íntegra da reportagem.
*
"Lamento comunicar-lhe que a sua vida terminará no prazo irrevogável e improrrogável de uma semana, desejo-lhe que aproveite o melhor que puder o tempo que lhe resta, sua atenta servidora, morte."
Mais sobre José Saramago
Veja fotos do escritor José Saramago
Essa é a carta que alguns cidadãos de um país fictício passaram a receber depois que a morte entrou e saiu de uma greve inédita --e antes que tivesse a sua rotina definitivamente perturbada por um violoncelista que gosta da "Suíte nº 6 para Violoncelo" de Bach, opus 1.012, em ré maior.
Assim, em poucas palavras, é o novo romance de José Saramago, 82, "As Intermitências da Morte", que teve lançamento mundial anteontem em São Paulo, com a presença do autor.
Saramago, o único Prêmio Nobel da língua portuguesa, disse em entrevista à Folha que "já esteve na hora" de o Brasil ganhar o prêmio diversas vezes. Ele tem um nome brasileiro em mente para a principal distinção literária do mundo. Mas não revela qual.
Apontado pelo crítico literário Harold Bloom como o maior romancista vivo, Saramago nega que o romance --gênero ao qual retorna agora-- esteja em crise.
O escritor fala da crise política no Brasil, dizendo que o governo Lula passou do imobilismo para a paralisia. E, principalmente, Saramago desmonta o quebra-cabeça tanatológico de sua última obra, uma história de amor cheia de humor e ironia. E diz que tipo de mulher a morte é.
Armando Franca/AP
O escritor português José Saramago
O escritor português José Saramago, que morreu nesta sexta nas Ilhas Canárias, aos 87 anos
Folha - Como surgiu a ideia de um livro sobre a morte?
José Saramago - Eu estava a reler "Os Cadernos de Malte Laurids Brigge", de Rainer Maria Rilke. Ele fala muito da morte, são páginas realmente extraordinárias. De repente, juntou-se isso. Uma situação em que a morte não matasse. O que aconteceria se...? Essa pergunta, aliás, está presente em todos os meus romances. Sempre, em qualquer romance meu, essa questão se põe. E, nesse caso, foi simplesmente: e se a morte deixasse de matar?
A sua morte é bem diferente, por exemplo, da morte de Proust, ou da morte retratada por Bergman em "O Sétimo Selo"...
Ela é diferente, claro. É diferente da visão que se tinha da morte na Idade Média, em que vivia-se dentro dos cemitérios. Na França, as pessoas viviam dentro dos cemitérios. Isso parece completamente absurdo, mas aconteceu. O contrário disso é a preocupação que temos hoje de fazer de conta que a morte não existe. Obliterá-la, tirá-la da paisagem. Isso é o que nós fazemos. Os funerais já não atravessam as cidades. As carruagens fúnebres, puxadas a cavalo, esses cavalos já não puxam essas carruagens. Há para mim essa preocupação com a morte ao longo do tempo. A minha contribuição para essa matéria consiste em olhar para ela com certa ironia. Estou a tentar rir-me de mim mesmo aí, como ser mortal que sou e consciente de que estou a brincar com a pobre, porque, evidentemente, um dia destes ela pega-me.
O senhor tinha alguém em mente quando imaginou a figura da morte?
Não, não tinha. Quer dizer... Teria feito da morte mulher, porque a morte não é masculina. Agradou-me muito a ideia de que, pelo menos no nosso país e nesses do lado de cá, digamos latinos, creio, a morte é "uma" morte. A morte para mim é feminina.
Recentemente Lygia Fagundes Telles e outros escritores reclamaram da falta de distinção de um brasileiro com o Prêmio Nobel. O sr. tem algum "candidato"?
São os critérios da Academia Sueca. Eu não creio que valha muito a pena nos indignarmos e protestarmos. Sim, "está na hora de", claro que sim. "Esteve na hora de" com João Cabral de Melo Neto. "Esteve na hora de" com Jorge Amado, "esteve na hora" no caso de Carlos Drummond de Andrade, "esteve na hora de" com Manuel Bandeira, "esteve na hora de" com Guimarães Rosa... Agora, eu penso que sim, que está. Se me perguntam se eu vejo algum escritor... Vejo, mas não vou dizer... Oxalá que o ano que vem o Prêmio Nobel seja para um escritor brasileiro. Com certeza faríamos um dueto. O dueto da língua portuguesa.
O senhor acompanhou as notícias do referendo que ocorreu nos últimos dias no Brasil?
Acompanhei. Não me chocou. Vivemos num estado de insegurança geral. É natural que as pessoas pensem que, se tivessem uma arma para defender-se, isso lhes conferiria maior segurança. Mas creio que é uma falsa segurança. Por outro lado, [o referendo] foi um disparate. Neste momento, o Brasil numa crise política séria, gravíssima. Como se aqui todas as coisas corressem o melhor possível... O referendo não muda nada na situação em que as coisas se encontravam. Agora, se o Brasil quis imitar os EUA e fazer da posse de arma uma espécie de novo estatuto de cidadania, parece um bocado infeliz, não é?
No Fórum Social Mundial em Porto Alegre, em janeiro, o senhor já fazia críticas à esquerda e ao governo Lula. O que o senhor acha da crise atual?
A eleição do Lula foi uma luz que atravessou o mundo. Mas depois de todo esse fogo de palha, aquilo que assistimos depois justificou que eu tivesse feito alguma crítica em Porto Alegre.
O senhor teve algum contato com alguém do governo depois dessas críticas?
Não, não. Quer dizer, eu encontrei muito recentemente, há poucos dias, em Salamanca, o presidente Lula. Conversamos um pouco, dissemos um ao outro o que gostaríamos de conversar um dia destes, mas não vejo como seja possível. Assistimos a uma espécie de imobilismo na ação governativa. E agora, depois do que aconteceu com o PT e quanto a esse "mensalão" e todas essas coisas, já não é imobilismo, já é paralisia.
Paralisia?
É a sensação que dá, porque é evidente que o campo da ação do presidente está limitado. Depois do que aconteceu nesse processo absolutamente lamentável de uma corrupção vertical e horizontal... Não sei como é que o Brasil vai sair disso. É lamentável. E agora a minha pergunta é essa: servirá isto de lição? Estávamos tão contentes... O balde de água fria, a frustração, a decepção é muito difícil de engolir.
Voltando à sua obra. O senhor transita em vários gêneros. O crítico literário Harold Bloom diz que o senhor é atualmente o grande nome do romance, de um gênero que está em extinção.
Eu não creio que o gênero romance esteja em extinção. O romance extingue-se e renova-se todos os dias. Já não podemos repetir o romance tal como se entendia ele no século 19. Eu às vezes digo que o romance deixou de ser um gênero para passar a converter-se num espaço literário, exatamente para tirar-lhe essa classificação rígida. No romance hoje cabe tudo. Quanto à outra opinião de Harold Bloom a meu respeito, lisonjeia-me muito, mas não sei se é verdade.
O sr. descreve a morte como uma mulher de certa forma charmosa e sedutora. Como ela é fisicamente?
Bem, como diriam os franceses, é uma "fausse-maigre" [falsa magra]...
Por que falar da morte com humor? E como uma história de amor?
Creio que, em primeiro lugar, para falar da morte é preciso estar vivo. Os mortos não falam da morte, embora, em princípio, devessem saber tudo sobre ela. Mas é que nós julgamos, os vivos, que sabemos alguma coisa da morte dos outros. Não chegaremos a saber nada, nem sequer da nossa própria morte. Não creio que venhamos a saber alguma coisa da morte que tenha alguma utilidade para os vivos. Porque, mesmo que soubéssemos tudo a respeito dela, o simples fato de estarmos vivos nos impede de aprender algo que tenha que ver com a morte. Seria necessário uma demonstração racional sobre o que nos acontece. Não o que nos acontece na morte, o que nos acontece depois da morte.
Tenho isso, enfim, bastante claro. Desapareceu a matéria e com ela desapareceu tudo aquilo que, durante um tempo e consensualmente, achamos que não é matéria --que chamamos de espírito, alma ou coisa que o valha.
Às vezes pessoas vivem como uma espécie de enamoramento da morte. Levam a vida toda como que namorando a morte. Eu não pertenço a esse grupo. Não namoro a morte. Escrevi sobre ela. Terei escrito sobre a morte realmente? No fundo, acho que não. Porque, em primeiro lugar --e isso parece bastante óbvio--, escrever sobre a morte, no fundo, é escrever sobre a vida. Porque é desde o ponto de vista da vida que estamos a escrever sobre a morte.
Por outro lado, no caso concreto deste romance, além dessa ironia, desse humor que resulta até da própria situação, eu poderia cair num tenebrismo aflitivo que poderia chegar a tirar o sono dos leitores, ao estilo de Edgar Allan Poe. Parece, nos livros que ele escreveu, que tinha fascinação pela morte. Como quem diz: a morte tem de vir, então que venha já. Para ele, é algo nesse espírito. No meu caso, não. É um jogo. Imaginar que a morte efetivamente está aí, como representação.
Se nós nunca tivéssemos imaginado representações da morte, vivíamos simplesmente com a ideia de que temos de morrer e não "fulanizaríamos" isso num esqueleto ou numa coisa com um lençol branco, posto por cima, essas imagens tópicas. Mas eu creio que, no fundo, isso tem que ver com as circunstâncias em que o livro nasce. O livro não nasceu porque eu tivesse decidido "vou escrever agora sobre a morte".



Veja seleção de frases e trechos de obras de José Saramago (1922 - 2010)

Da Redação
Vencedor do único Prêmio Nobel da Literatura em língua portuguesa, em 1998, o escritor José Saramago morreu esta sexta-feira (18) na ilha de Lanzarote (uma das Ilhas Canárias), onde morava desde 1993, em consequência de uma múltipla falha orgânica.
Abaixo, infográfico compila trechos de entrevistas, artigos e obras do escritor. Todos os trechos foram retirados do blog do autor, "O Caderno de Saramago".

http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2010/06/18/veja-selecao-de-frases-e-trechos-de-obras-de-jose-saramago-1922---2010.jhtm
Posted by Sir Gil at 20:26 No comments:

THEY ARE COMING TO LIVE HERE....

Com nova lei de imigração, brasileiros estão com medo de sair às ruas no Arizona

Thiago Chaves-Scarelli 
Do UOL Notícias
Em São Paulo
  • Jan Brewer, governadora do Arizona, assina lei que transforma imigração ilegal em crime
    Jan Brewer, governadora do Arizona, assina lei que transforma imigração ilegal em crime
Mesmo antes de entrar em vigor, a nova legislação anti-imigrantes sancionada no Estado norte-americano do Arizona já causa pânico e desconfiança entre as comunidades estrangeiras na região. De acordo com relatos ouvidos pelo UOL Notícias, dezenas de brasileiros deixaram o Arizona desde que a lei foi sancionada, na última semana, e os que ficaram têm medo de sair às ruas.
"Há um pânico geral, há medo [entre os imigrantes], porque a polícia já está realizando batidas”, relata o brasileiro Rodrigo Xavier de Camargo, 32, que mora em Phoenix, capital do Arizona.
A governadora do Estado, Jan Brewer, assinou no último dia 23 uma lei que trata o imigrante ilegal como criminoso e confere à polícia o direito de abordar e interrogar qualquer pessoa considerada “suspeita” de estar em situação irregular. Se o suspeito não conseguir comprovar seu status migratório, ele está sujeito à prisão. Quem contratar ou transportar imigrantes ilegais também pode ser punido.
“Os brasileiros já estão deixando o Arizona por causa da lei. Sabemos que cerca de 90 brasileiros já saíram daqui desde a última semana”, relata Camargo, que é chefe de cozinha. “Estamos precisando contratar mais brasileiros para o restaurante, mas não conseguimos encontrar ninguém”.
Na opinião dele, a medida também terá como consequência o enfraquecimento da economia local. “O comércio está fracassando. Não se vê pessoas nos restaurantes, nos shoppings. Durante o final de semana, recebemos entre 600 e 700 pessoas para o jantar. Para esta sexta-feira temos 15 reservas”, afirmou o brasileiro em entrevista realizada na tarde de ontem.
A explicação para isso é a insegurança instalada com a sanção da lei. “A comunidade brasileira aqui costuma realizar um encontro mensal, um churrasco, um acampamento, coisas assim. Mas o encontro desse mês foi cancelado, porque a maioria aqui é ilegal e está com medo de sair na rua”, relata.
  • UOL Arte
“O sonho americano não existe mais, o que existe é a realidade americana, que significa muito, muito trabalho”, acrescenta Camargo. “O americano não tem trabalho, e coloca a culpa no imigrante. Mas o imigrante só está fazendo o trabalho de garçom, de lavador de louças, que o americano não está disposto a fazer”.
Uma brasileira de 24 anos de idade, que pediu para não ser identificada por receio de represálias, confirmou o sentimento de desconfiança. "Com certeza os brasileiros ilegais já estão evitando lugares como aeroportos. Se eu fosse ilegal, não passaria nem perto".
“Aqui o problema do imigrante ilegal é muito sério. Eu entendo por que os Estados Unidos estão buscando um jeito de resolver isso. Mas não acho certo você parar uma pessoa na rua por causa da aparência. Imagina você estar na rua, com seus amigos, e ser parada pela polícia? Isso é racismo”, afirma. “Essa lei só vai piorar o relacionamento entre imigrante e cidadão americano, só vai criar mais tensão”.
“Eu tenho visto permanente, sou legal, continuo saindo de casa normalmente, mas fico apreensiva. Eu tenho aparência latina. Se eu for parada na rua por causa da minha aparência, vou me sentir muito humilhada, vou ficar furiosa”, acrescenta.

"Violação dos direitos humanos"

A legislação, que passa a valer três meses depois da sanção da governadora, já está sendo questionada na Justiça. O próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou que a lei do Arizona ameaça “minar as noções básicas de justiça que prezamos como americanos, assim como a confiança entre a polícia e nossas comunidades, o que é crucial para a manutenção de nossa segurança”.
“Esta lei é claramente uma violação dos direitos humanos”, denuncia Heloísa Maria Galvão, diretora-executiva do Grupo Mulher Brasileira, em Boston. “Estou em Massachusetts, que é um Estado teoricamente mais liberal, e mesmo assim o clima geral de perseguição faz com que as pessoas tenham medo, se escondam, se isolem. No Arizona, com essa nova lei abominável, isso fica muito pior.”
“A lei abre espaço para a discriminação. Muitas pessoas têm comparado o Arizona com a Alemanha nazista, com o tratamento dispensado aos judeus, porque o ser humano passa a ser julgado por sua aparência, por sua pele, por sua origem. A lei tira o sentido humano do ser humano”, afirmou a ativista brasileira, em entrevista ao UOL Notícias.

Se um brasileiro for flagrado em situação migratória irregular nos EUA, ele pode procurar ajuda em seu consulado?

  • De acordo com a o serviço consular, sim, todo brasileiro no exterior tem o direito de entrar em contato com seu consulado para buscar apoio, em qualquer situação. 

    Esse apoio pode ser intermediar contato com familiares no Brasil até proporcionar auxílio jurídico, de acordo com o caso, mas não pode contrariar a legislação do país em que se encontra. 

    “Em caso de prisão, deve ser solicitada autorização para que o detido estabeleça comunicação com o Consulado. Nós poderemos indicar advogado, instar para que seja dispensado tratamento adequado à pessoa detida, acompanhar a evolução do caso e avisar familiares no Brasil”, informa o consulado em Los Angeles, com jurisdição sobre o Estado do Arizona.
“Este é o retrato do que está acontecendo nos EUA atualmente. Desde 2001, os EUA estão andando para trás [em relação aos direitos civis]. O governo passado [de George W. Bush] foi uma ‘ditadura branca’, durante a qual se fazia de conta que havia direitos humanos, mas na prática valia uma política de perseguição. Você era levado a desconfiar do seu vizinho, você deveria desconfiar de todo mundo”, descreve.
Galvão admite que o “clima melhorou” com a presidência de Barack Obama, mas afirma que a nova política do governo nacional, mais sensível aos direitos humanos, não é suficiente para evitar iniciativas como a do Arizona, já que os Estados da federação gozam de relativa independência legislativa.
“O que aconteceu no Arizona pode contaminar o resto do país, é como um vírus”, estima a brasileira. “Enquanto não for feita uma reforma migratória nacional, essa questão não vai se resolver”.
“A mensagem que o governo passa é que este é o país no qual você pode realizar seus sonhos, mas isso é besteira. Os americanos falam de ‘liberdade’ da boca pra fora, o que vale para eles, não vale para os outros”, acrescenta.
Em resposta às acusações de xenofobia, os legisladores do Arizona emendaram a lei na tarde de ontem, estabelecendo que um indivíduo só será questionado sobre sua legalidade no país após ser “parado, detido ou preso” e que as autoridades “não podem considerar a raça, a cor ou a origem da nacionalidade” para aplicar a medida. Para os críticos, essa alteração não toca no ponto principal: a criminalização do imigrante irregular e os amplos poderes concedidos à polícia, cuja ação está autorizada mediante critério genérico da “suspeita”.
Posted by Sir Gil at 20:23 No comments:
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