Saturday 29 January 2011

ALIVE HISTORY!


Istambul, Felina e Mágica   


     Face a face os dois continentes se encaram – Europa e Ásia – separados pelo pequeno mar de Mármara, ligados pelo Estreito de Bósforo cuja importância econômica e política impulsionou o progresso da exótica Istambul. A Turquia é o único país que abrange dois mundos.

Pierre Loti, um apaixonado pelos mistérios do Oriente, escreveu um romance cujo cenário é a Turquia dos sultões e seus haréns povoados por centenas de mulheres que não passavam de escravas de seus instintos lúbricos. “As Desencantadas” retrata a vida confinada, amarga e infinitamente infeliz dessas mulheres.

Já não há mais sultões e os serralhos são hoje tristes reminiscências do passado, fazendo parte dos museus palacianos e despertando agora apenas a curiosidade dos turistas.

Kemal Ataturk, o fundador da república turca, expulsou esses poderosos tiranos, donos absolutos da vida e da alma do povo e aí instalou seu governo, tornando-se um herói cuja efígie pode ver-se nas notas de 100 liras.

É uma excursão vadia e solitária através dos labirintos dessas vielas que parecem envolver ainda a sedução do desconhecido e de onde, quem sabe, pode surgir um otomano com suas calças bufantes, o turbante imenso, na mão um alfanje pronto a decapitar alguém...

A imaginação escamoteia a realidade para viver uma fantasia onírica das “mil e uma noites”, transmitindo a sensação de estar-se vivendo um dos contos de “Sheraazade”.

Nada disso aconteceu, claro. A Istambul atual, com suas mesquitas resplendendo ao sol como símbolo da religião dominante – é uma metrópole moderna que se assemelha a qualquer cidade da Europa.


A vetusta Bizâncio, depois Constantinopla, e por ultimo Istambul, nos revela logo um aspecto insólito, um “habitante” permanente das ruas: gatos vindos de todos os cantos, gatos que dormem embalados em grupos, embaixo das árvores dos parques, malhados, pretos, amarelos, brancos, enfim, isto por aqui deve ser o paraíso dos bichanos. 

Ouso afirmar que é o paraíso dos felinos porque todos apresentam pelo luzidio, brilhante e são muito gordos, o que mostra que são bem tratados, embora pertençam, suponho, à espécie dos “alley-cat”, isto é, vira-latas sem dono.

Ao inquirir um turco sobre esta “invasão” ele simplesmente conta que todo mundo os alimenta e não lhes faz mal algum.


Ainda bem que moram aos milhares de quilômetros dos malandros da Central do Brasil que cultivam o péssimo hábito de transformá-los em churrasquinho ou utilizam seu couro em tamborins na época do carnaval. Portanto, viva o gato turco.

Com o advento da era de Ataturk desapareceram aquelas detestáveis vestes que ocultavam totalmente as formas de uma mulher. O uso do “tcharchaf” foi quase abolido. Digo quase porque ainda se vê, aqui acolá, no interior ou até mesmo na grande Istambul, uma ou outra “submissa” ao pai ou ao marido retrógrados e rebeldes. Isso, entretanto, em proporção mínima.

     Ordeira a população flui tranqüila na sua luta cotidiana em rumo ao trabalho. Nenhum distúrbio, nem mesmo aquele “falatório” característico e exagerado dos egípcios e marroquinos que conversam tão alto quanto os brasileiros.

     No que concerne à religião observa-se resquícios do machismo ferrenho e ignaro no rigor com que discriminam os sexos nas mesquitas: um lugar especial para as mulheres.

As leis do Islã são severas e os adeptos de Mafona as respeitam “in totum”: antes de penetrar nos templos faz-se obrigatória a cerimônia do “lava-pés” e mãos. Para tanto, de espaço em espaço que varia de meio metro entre cada uma, torneiras de água fria são usadas pelos muçulmanos, sem o que não entram para a oração costumeira.

     Essas orações são anunciadas cinco vezes ao dia, pelo “muezzin” do alto dos minaretes, numa cantiga monótona agora feita através de alto-falantes e ainda assim, suponho, penosa para o pobre sacerdote. Ele tem que galgar essas torres altíssimas em escadinhas estreitas e íngremes.


     Os turistas não são obrigados a lavar os pés antes de pisar o templo sagrado para eles, mas existem, do lado de fora, pequenas prateleiras onde se deve descalçar e deixar os sapatos até o retorno. Além disso pode-se guardar ali os pacotes de compras, pois não há perigo de ladrões.

     Nunca se viu tanta gente exibindo jóias preciosas e cordões de ouro maciço pelas ruas ou nos cafés e lojas.

     Já as mesquitas deslumbram pelo luxo e beleza: a de Santa Sofia foi transformada em museu, mas as outras continuam como casa de oração. A mais importante, chamadaSuleymanie não se pode dizer que seja a mais imponente. A preferência vai para a do Sultão de Ahmet, denominada de Mesquita Azul, onde essa cor predomina. 


Uma visita ao Grande Bazar impõe-se quando muito para apreciar a enormidade de lojas (quase 5.000) e o gosto variegado (sortido, variado) do comércio oriental. Caminhar peloGrande Bazar é tarefa para um dia inteiro sem se conseguir visitar tudo e é como se meter no labirinto de Creta sem descobrir o fio de Ariadne. Perde-se muitas vezes a saída. Trata-se pois do mais antigo mercado coberto do mundo!

     Quem se lembra do filme de Melina Mercuri, “Topikapi”, onde o “leit-motiv” era uma adaga cujo cabo era decorado com três esmeraldas do tamanho de um ovo, toda trabalhada em ouro, brilhantes, rubis e outras pequenas esmeraldas? Há outra esmeralda encaixada num escrínio (escrivaninha) enorme, iluminada a “spots” e que pesa mais de três quilos.

     Vai-se dar na sala do trono e a vista se confunde com esse trono de onde os pilantras dos sultões ordenavam as execuções e davam suas audiências aos diplomatas estrangeiros: todo em ouro cravejado com 25.000 pérolas e outras pedras preciosas. Nos cantos candelabros também de ouro maciço e dominando a todos um que pesa uns 48 quilos e que tem como adorno 6.666 diamantes, cada um correspondendo a um versículo do Alcorão. Uma “Besta Apocalíptica” multiplicada por mil.

     Em cada salão que se penetra o assombro toma conta da gente e a imaginação mais uma vez faz-nos regredir às “mil e uma noites” que por aqui existiram mesmo. Dá quase para se ver os eunucos trazendo pelos cabelos mais uma “presa” para dessedentar a sede lúbrica de um daqueles sicários (assassino pago para cometer toda sorte de crimes). Ele larga-a no chão a um gesto “magnânimo” e os olhinhos cúpidos (ávidos de dinheiro ou bens materiais) e bestiais examinam a nova habitante do serralho (palácio do sultão).

     Uma observação: em meio a tudo isso de suntuoso e irreal, o que choca e deixa abismado o turista: o quarto do toalete que parece uma aberração entre tanta riqueza.Trata-se de um cômodo modesto, cimentado com uma “boca de boi” no centro. Para quem não conhece a gíria carcerária, ai vai a explicação: um buraco rente ao chão, “tout cort”. De um dos cantos do quartinho sai uma torneira ordinária, para perto do buraco. Mais curioso ainda, pregado acima dessa torneira, um pequeno espelho. Para que? Espero que me ajudem a decifrar tamanho “luxo”.

     Esta é uma visita ao Palácio Topikapi, que os turcos ensinam a pronunciar como “Topicapêu”. Além desse palácio há inúmeros, hoje transformados em museus e entre os quais vale uma visita o Dolmabahçe (285 quartos e 42 salas), e o Beylerbeyi, igualmente abarrotado de ouro, diamantes e preciosidades em porcelanas de várias dinastias chinesas, tudo isso, com certeza. Resultado das pilhagens dos terríveis sultões, felizmente liquidados por Ataturk.

     Além do Grande Bazar um outro, talvez único no gênero, no mundo, é o “Spice Bazar” ou bazar das especiarias onde se pode conhecer e comprar os mais variados e exóticos tipos de condimentos. O cheiro acre típico da pimenta do reino, da páprica, etc. penetra nas narinas e chega a provocar espirros. Nas prateleiras vê-se misteriosos pós em frascos bem lacrados e que anunciam “afrodisíaco do sultão”, o que não deixa de ter o seu lado hilariante.

     Não se vê mendigos e as crianças que andam pelas ruas defendem uns trocados numa tarefa “sui generis”: estacionam nos pontos mais freqüentados, como por exemplo, à porta das mesquitas ou grandes edifícios, usando uma balança portátil para pesar os transeuntes, cobrando a módica quantia de 20 liras; enquanto outras vendem postais da cidade, mas jamais pedem esmola ou incomodam o turista. Existe também uma quantidade enorme de engraxates, mas esses, curiosamente, são todos anciãos que exibem suas caixas decoradas, e mais ainda, devem se orgulhar de suas “obras de arte” porque a todo momento se põem a lustrar, não os sapatos alheios, mas as próprias caixas em que guardam o material. Concurso de artesanato em que vence quem tem a caixa mais decorada em filigranas e bordados de cobre?

     Junto ao Estreito de Bósforo, a imponente Ponte da Gálata ou do “Corne D’Or” à noite constitui um espetáculo deveras deslumbrante, por onde se pode atravessar para a parte asiática, para quem não quiser usar os excelentes barcos que saem do ancoradouro de minuto a minuto, bem junto ao cais onde se localiza o “Spice Bazar”.

     A palavra “turco” ainda hoje cá no Brasil é usada pejorativamente, devido aos mascates que apareciam nas nossas cidadezinhas com seus baús às costas vendendo bugigangas que iam desde as peças de “chita”, espelhos, pó de arroz, sabonetes e perfumes ordinários.

     Daí a surpresa ao se defrontar com uma cidade de gente educada e acolhedora, cujos hábitos civilizados podem ser cotejados com os de toda a Europa.






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I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!