Saturday 29 January 2011

YERUSSHALAIM - THE CITY OF PEACE!


Pelas ruas de Jerusalém  


     Após 19 séculos, Jerusalém (Yerushalaim – cidade da paz) voltou a ser a capital de Israel quando da criação do novo Estado. Uma das quatro cidades santas (as outras são ­Safede, Hebron e Tiberias), o misticismo que a envolve nos faz participar de um silencio reverente ao caminharmos pelas suas vielas seculares.

     Jerusalém dista de Tel-Aviv apenas 61 quilômetros e a estrada é circundada de eucaliptos (Trazidos da Austrália), pinheiros (do Canadá) e sobretudo por grandes plantações de laranjas, abacates e até bananeiras. Israel exporta em larga escala os seus produtos cítricos e flores para o mercado europeu, além da lapidação de diamantes que tem seu comércio mais acentuado e constitui a principal indústria de Netanya – cidade próxima de Tel-Aviv.

     A maior estação meteorológica do Oriente fica localizada á direita da estrada, à esquerda, logo à saída de Tel-Aviv, a cidadezinha de Ramla, com seu casario modesto, ao mesmo tempo em que passamos também por uma pequena comunidade Yemenita (os maiores dançarinos e artesãos de Israel).

     O Hotel Diplomat em Talpioth está quase oculto no final de um belo caminho florido que vai terminar numa arborização luxuriante e que torna o local pitoresco, pastoral, embora num flagrante contraste com as suas instalações luxuosas e modernas.

     Entre os hóspedes estão Lotte e Mollie. Ambas são turistas judias e moram no Brooklyn, em New York. Por demais comunicativas, gosto de sua aproximação que vem ao encontro da simpatia que me inspiraram no inicio. Lotte traz a mãe, uma velhinha adorável que se chama Clara.

     Mostraram-me os braços e cada uma tinha o número do campo de concentração onde estiveram: Bergen-Belsen Auschwitz. Mollie era o número A-24.851 e Lotte A-8.276. Não obstante o tenebroso passado derramam uma alegria enorme e a única recordação de fogo que jamais poderão apagar são aqueles números, como uma chicotada de “Knut” na alma.

     Convidaram-me para conhecer o Muro das Lamentações e tomamos um guia para levar-nos a todos os lugares santos. Entramos pela Batei Mahse St., que conduz ao que resta do segundo templo. Lotte me estendeu um pequeno pedaço de papel e me disse para pedir por mim e meus amigos. Faço uma relação dos que consigo me lembrar e dobrando o “bilhetinho”, introduzo-o nas fendas do Muro. É esta a tradição entre os judeus que o visitam.

     Vejo milhares de papeizinhos incrustados nas gretas daquele local santificado. As mulheres, para rezar, tomam seu lugar à direita e os homens à esquerda, ficando separados apenas por uma grade baixa.

     Partimos em seguida para o Santo Sepulcro, subindo a Via Dolorosa que tem inicio naTorre Antonia e abrange a distancia de uns 500 metros. Tocamos no túmulo daquele que constituiu a base de uma das três grandes religiões que fazem com que Jerusalém seja considerada três vezes santa.

     A Via Dolorosa é estreita e melancólica e de ambos os lados proliferam lojas de artesanato em couro, peles e metais e quase todas são de árabes.

     Há rumor de prece no ar, enquanto um padre da Igreja Ortodoxa grega vela diante do túmulo. Turista vão entrando aos borbotões, acompanhados de seus guias que utilizam um “pot-pourri” de línguas para satisfazer a curiosidade de todos.

     No Sepulcro propriamente dito, só entram oito pessoas de cada vez, pois o espaço é restrito. Mais tarde dirigimo-nos ao Cenáculo (Sala da Última Ceia) que fica por cima doSarcófago de David. Logo descemos e divisamos o túmulo coberto com um pano de cetim vermelho e encimado por coroas de prata com rolo da Tora. Ouço os guias lembrar aos homens que cubram a cabeça bem como às mulheres que verifiquem se estão vestidas com decoro. Um dos turistas de tez trigueira e olhar vulturino protesta com veemência e se recusa a usar o “kepar”, a mitra judaica, dizendo-se cristão.

     O guia alvitra educadamente que é só por uma questão de respeito e que também não seria normal se ele, o guia, entrasse de chapéu numa igreja católica. O homem de olhar de abutre quase cria um caso ali, diante do lugar sagrado. De muito má vontade decide estender o lenço sobre a cabeça e assim fica resolvido o impasse.

     Jerusalém antiga é bela e tocante e oferece um contraste anacrônico com a moderna no lado ocidental e imponente sede do governo de Israel, pois aí é que ficam os edifícios públicos, como o Kinesset (Parlamento) que se destaca soberbo numa colina. Mais além o monumento símbolo: “Menorá” – enorme candelabro de sete braços.

     As revivescências amargas do aviltamento da pessoa humana, ou seja, as atrocidades praticadas contra judeus durante o nazismo estão em Yad Vashem, no Monte da Saudade, e expostas ali através de “pôsteres” gigantescos e fotos nítidas em cenas horripilantes de dantescas. Fujo daquilo tomado por uma depressão momentânea tão cruciante que me sinto meio judeu.

     Uma coisa é ler e ouvir sobre esse ou tal fato e outra é ver, embora através do documentário de um passado extinto, a comprovação de uma época das mais negras que a humanidade presenciou. Antes dispersos, acumularam-se no meu potencial afetivo, argumentos de passagem, talvez conceitos imediatos e precipitados sobre o povo israelita, mas ainda assim, sempre tocados de grande admiração.


     Agora, diante de tudo isso, cresce a admiração e a certeza de que realmente são o povo de Deus.

     O “Memorial Yad Vashem” tem no centro uma enorme pira que arde sem cessar e arderá eternamente em memória dos 6 milhões de vitimas que constituem a página vergonhosa da história contemporânea e que há de ficar na consciência dos povos que crêem num Deus.

     Ao redor, o nome de todos os campos de concentração e a quantidade numérica de imolados. Decididamente este não é um lugar em que se consiga ao menos sorrir ao se escutar a mais hilariante das piadas.

     O Museu de Israel é um conjunto que compreende o “Museu Nacional de Arte Bezalel”, o “Museu Bíblico e Arqueológico Samuel Bronfman” e o “Jardim da Arte de Billy Rose”, e é neste jardim aprazível que conseguimos suavizar um pouco a lembrança daquelas visões macabras.

     No “Shrine of the Book” (relicário do livro), que tem a forma redonda, ficamos admirando numa redoma uma cópia do livro de Isaias e no subsolo os pergaminhos dos manuscritos doMar Morto.

     Creio que precisamos divertir-nos muito esta noite para tentar anular aqueles momentos. É o que vamos fazer. Clara, a doce velhinha fica quieta no seu repouso no Hotel Diplomat. O “Khan Club” na David Remetz Sq. É uma espécie de caverna sombria toda construída de pedra bruta e parece mais um calabouço da idade média. O ambiente começa a esquentar com a chegada de um bando de turistas e gente do lugar: é fácil distinguir os nativos.

     Num palco improvisado ao pé das mesinhas toscas muito juntas, os cantores vêm apresentar suas canções de uma beleza tão pungente que desperta reminiscências nostálgicas. Observo as expressões fisionômicas de Lotte e Mollie a ver se vislumbro algum sinal de angustia, mas, qual, elas estão assanhadas e acompanham o coro cantando, também batendo palmas.

     Admirável povo este que consegue sepultar um tempo não muito remoto: o passado deAuschwitz e Bergen-Belsen.

     Anunciaram agora uma dança do folclore Yemenita e a leveza das figurinhas que surgem em trajes característicos e inebriam e enchem a alma. São perfeitas e sincronizadas nos seus movimentos de uma graciosidade sem par, não sugerem senão pensamentos de paz e amor.

     Consigo então, no ponto alto do espetáculo de danças folclóricas, reentrar na minha individualidade normal para sentir a beleza da noite artística.

     Saio reconfortado e Jerusalém parece já sonolenta, convidando-nos a voltar à cama macia do Hotel Diplomat.

     No outro dia, numa visita rápida, penetramos pelos corredores do Hospital Hadhassa com o objetivo único de atingirmos a sinagoga, onde estão as Doze Janelas de Chagal, cada uma delas representando uma das doze tribos de Israel. O pintor, que era judeu russo mas radicado em Paris, trabalhou vinte e sete meses nestas janelas que seriam um presente ao seu povo. Na verdade, elas refletem na policromia de seus vitrais a riqueza exuberante da arte de Chagal. Não é permitido fotografá-las.


     Nossa incursão pelas terras de Jerusalém não parou ai e até o cemitério militar foi visto e estranhamente não me deixou nenhuma depressão: achei-o até um recanto bucólico e agradável pela grama verdinha e bem cuidada e pelo arvoredo enflorescido a perder de vista.
     Por ultimo uma visita ao “Mea Shearim” – o bairro dos judeus ortodoxos – nos dá uma dimensão do seu radicalismo e agressividade contra o Sionismo: casas carcomidas pela sujeira e desgaste, muros batidos pelo sol dos séculos trazem em suas paredes frases como esta: “We are against Zionism”, “Zionism is not Judaism”.

     As roupas bizarras dão-lhes um aspecto sinistro e até as crianças que vimos transitando pelo bairro vestiam o horrendo casacão e calças negras, chapéu preto de abas largas ou e peles e os enormes cachos dependurados de cada lado das orelhas.

     São arredios e parecem nos olhar com desprezo ou desconfiança. Percebe-se que não desejam ser incomodados, tão pouco fotografados. O bairro é pobre e mal-cuidado e as lojinhas de quinquilharias quase sempre de uma porta só, o casal de velhos que nos atende numa delas não fala uma palavra de outro idioma a não ser o lidiche que usam na vida diária, sendo que o hebraico é reservado para as cerimônias religiosas.

     Por que teimam em permanecer herméticos e recolhidos ao seu mundo interior, tão estranhos na sua roupagem, parados no tempo como se vivessem ainda em plena idade média, sem se integrarem à vida hodierna?  Porque se revoltam contra o Sionismo que não é uma realidade política do momento, se teve sua origem muito antes da era cristã, quando os romanos ocuparam Jerusalém?

     A partir do século XIX os judeus retomaram a empreitada do restabelecimento de um estado autônomo na Palestina e que culminou com a criação do Estado de Israel, em 1948. Este é um problema a ser analisado, abrindo perspectivas para estudo e reflexão dos estudiosos da sociologia.

     Despeço-me de Jerusalém, ou melhor seria dizer-lhe: “leitra òt” (até logo) tamanho o desejo de retornar um dia para saboreá-la com mais vagar.
Belém é uma cidadezinha tranqüila que a gente fica conhecendo logo. Impregnada de poesia, nos sugere uma écloga (poesia pastoril) virgiliana. O interesse maior evidentemente é percorrer o lugar santo onde Jesus Cristo nasceu: foi lá edificada a Igreja da Natividade e, apesar de não nos transmitir a mesma imagem que conservamos da infância – a dos presépios onde o pequeno “Menino Jesus” estava sempre deitado entre palhinhas – ainda assim é com reverente unção que olhamos a estrela de prata plantada no chão que marca o ponto exato, segundo a tradição.



     Pela estrada poeirenta, numa quase reconstituição das páginas da Bíblia vão desfilando diante de nós pacientes jumentos que carregam no lombo árabes barrigudos com seus “khefiya” e albornozes ensebados. Um pouco além um pastorzinho apascenta as suas ovelhas que debalde procuram naquela aridez algum tenro raminho.



     As mulheres vêm e vão, caminhando lentamente, devido talvez ao estarem completamente cobertas por aquele véu – dissimulador de seus encantos, ou, quem sabe, escamoteador de suas imperfeições... Pareceu-nos que pelas aquelas paragens subdesenvolvidas a mulher ainda não abdicou da posição que a situa na família e na sociedade apenas como um veiculo destinado à procriação e aos trabalhos domésticos, além da cega obediência ao seu senhor, no caso, o marido.

     Em Hebron (aproximadamente 70 mil habitantes), bem próxima de Belém e segunda cidade santa para os judeus, mencionada até no Antigo Testamento, verificam-se os mesmos hábitos orientais, o mesmo ritmo de vida pacata e provinciana. É la que, na Gruta de Mahpela“habitam” os patriarcas Abraão, Jacob, Isaac, Sarah, Rebecca e Lia, num monumento pomposo.

     Não tivemos permissão para penetrar na Tumba dos Patriarcas e ficamos observando de fora a espécie de fortaleza.

     Na volta uma parada importante: é Rachel que dorme para sempre na estrada de Belém e o seu túmulo, em que estamos, lá ficou a recordar-nos a passagem bíblica de sua morte.

     Estou no alto dessa fortaleza tão cheia de significação para os judeus. Aliás, é difícil percorrer estes lugares todos e derramar a vista sobre estas colinas, estes mares e lagos, sem se tropeçar a cada passo na História Sagrada. Cada canto, cada rua, cada ruína guarda o vestígio das idades nos sinais de corrosão e injuria do tempo.

     Massada ressurgiu das escavações, trazendo para os arqueólogos poderosos subsídios científicos quanto aos aspectos da vida na época: lá foram encontradas 4 mil moedas e dezenas de outras em prata do período da Revolta, objetos de arte, arquitetura, cerâmicas, utensílios, fragmentos de rolo de papiro referentes ao Sagrado Templo e muitos outros manuscritos. Tudo isso veio lançar mais luz nas pesquisas históricas.

     Os Zelotes constituíam um partido judeu que não aceitava o jugo da dominação romana e foi em Massada que ficaram sitiados. Resistiram quanto puderam e eram apenas 960 pessoas entre homens, mulheres e crianças; quando o seu fim estava iminente, o líder reuniu todos propondo que se imolassem para não cair escravizados nas mãos dos romanos. E foi assim que cada um saiu massacrando a própria família e em seguida a si mesmo, restando então um único homem que, ao verificar bem se todos estavam realmente mortos, apanhou a espada e a mergulhou no próprio peito.

     Com os olhos da fantasia, “reconstituo” essas cenas que vão desfilando no écran (tela de cinema) da memória!

     Ao palmilharmos essa terra basáltica, pisando estes seixos que agridem os pés, mesmo calçados, talvez estejamos sobre uma plataforma que encerra nas suas profundezas os esqueletos dos 960 heróicos Zelotes, ainda não encontrados.

     Foi Herodes que decidiu construir a Fortaleza de Massada para preservar-se e aos seus do perigo e, segundo Josephus Flavius, o historiador, por dois motivos: o primeiro era que os judeus poderiam depô-lo e pôr outro rei no trono, e o segundo, por ainda, era o medo deCleópatra, a bela e não menos magnífica Rainha do Egito.

     As ruínas de seu Palácio estão ainda diante de nós evidenciando o luxo e o conforto de suas instalações: a grande piscina, a residência da família real que, segundo a planta, vimos ser o edifício numero doze, os armazéns, a casa de banhos, o columbário, as cisternas, as cozinhas; restos da Igreja Bizantina com um mosaico de desenhos em arabescos e asSinagogas, tudo isto atesta a magnificência de uma época.


     Lá embaixo um cenário de estranha beleza – o Mar Morto com suas águas quase imóveis, sem ondas, como um espelho refletindo a amplidão do céu tranqüilo.

     A escalada a Massada já se faz mais suavemente, pelo menos numa parte: um teleférico nos transporta até a primeira etapa e dali sobe-se na rocha, 80 degraus toscos, até atingir o enorme platô.

     Voltamos pela mesma estrada que atravessa o Deserto da Judéia. Não raro vêem-se algumas tendas de beduínos em repouso. Os seus camelos soltos vagueiam pachorrentos, mas de vez em quando quebram o silêncio, atroando os ares com seus bramidos.

     Do outro lado, o Mar Morto ladeia toda a estrada. Nenhuma vegetação em derredor senão a vastidão arenosa da Judéia e os depósitos salinos ao longo desse mar cuja água é sete vezes mais salgada que a de qualquer oceano. Ponto mais baixo na superfície da Terra (1.292 pés abaixo do nível do mar), apesar do nome, corre para restaurar a saúde dos mortais: sulfatos, carbonatos e vários cloretos dos reumáticos, artríticos, herpéticos,daí a razão de vermos dezenas de anciãos banhando-se nas suas águas miraculosas.

     A praia de Ein Ged é ponto obrigatório para turistas. Está coalhada de gente de todas as procedências e vejo em preparativos na areia alguns rapazes que se besuntam com uma lama quase tão escura como carvão antes de “flutuar” (é este o termo exato, pois não se afunda naquele enorme reservatório de sais).

     Qual a finalidade desta lama que lembra a de Araxá? A mesma é medicinal e restaura as forças, cura doenças da pele e outras, enfim, segundo depoimentos de uma dos enlameados, cura TUDO...
     Levo aos lábios algumas gotas de água do Mar Morto que paradoxalmente ajuda a viver e tenho que sair correndo para um bar próximo, a fim de dissipar o travo de fel que me fica na boca, tamanha a quantidade de sal.

     Depois de sentir na pele e no paladar aquela “salmoura” toda, apanho o ônibus de volta e meus olhos não cansam de observar através da janela panorâmica a paisagem agreste do Deserto.

     A primeira cidade que se avista é Arad, que não desperta muita atenção. Logo depois vemBersheva, que me pareceu mais cheia de vida e movimento.

     Lá atrás ficou Massada – símbolo do heroísmo e da coragem dos Zelotes. Nem religiões nem regimes através das idades podem mudar o caráter e o temperamento de um povo e este é o povo de Israel.

1 comment:

  1. Amigo,
    Shalom!!!

    Faz parte do meu sonho de consumo...esta semana comprei a revista "Viajar" tem uma ótima matéria sobre Israel "foi uma viagem". Um dia eu chego lá. Eu tenho um filme chamado "Promessas de Um Novo Mundo" que fala sobre a guerra entre palestinos e iraelenses visto através de 07 crianças muito bom eu recomendo.
    abs

    Will

    ReplyDelete

Search This Blog

Followers

About Me

My photo
I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!