Saturday 29 January 2011

OLD AND WISE!


Visita aos Incas 

  
     Entro numa espécie de bar ou confeitaria, não sei bem. Sentada junto à registradora uma velha cujos traços não deixam duvida quanto aos seus ancestrais Incas. Ela me olha com um sorriso feliz antevisando com certeza, freguês em dólar, claro. Julga-me americano ou inglês, é o que me dirá depois.

     Sei que não é este um estabelecimento dos mais recomendados, a julgar pela espécie de seus freqüentadores – gente do povo, simples e modestamente vestida. Peço o cardápio, um simulacro de menu, meio engordurado e mal escrito.

     Quero comida típica. O garçom sugere um “cebiche”. O que será isto? O prato vem e agrada de início: está coberto com cebola crua e molho “aji” (a pimenta crioulla). Suponho ser bem popular, pois todos que estão alise debruçam com vontade sobre a comida. Feito de pescado, cortado em pedacinhos quase quadrados, com muito limão, bem cozido, alguns pequenos mariscos nadando no molho. Junto, um pedaço de batata cor de sol, super doce. Na verdade cabe bem ao nosso paladar acostumado a condimentos picantes.

     Para beber, o “Pisco”. Esta é a aguardente dos peruanos e o cocktail “Pisco Sour”, americanizado já, é bastante bom.

     Para arrematar, sobremesa da terra também: uma “mazamorra morada” de que não sabemos de que é feita.

     A saída, a velha, me tomando mesmo por americano, ensaia algumas frases em inglês e me oferece os famosos “torrones de Dona Pepa”.

     Pergunto-lhe se é ela a própria, mas não, simplesmente é a dona do bar e é por isso que senta com um ar senhorial e vigilante junto à caixa, ostentando nos dedos murchos alguns anéis de ouro velho e pedras antigas.

     Na rua inúmeras carrocinhas vendem um refrigerante, parente, suponho, da Coca-Cola, e a que chamam de “Inca-Cola”, além da “Chincha” e da “Piña” deliciosa; fritam em caldeirões a saborosa “papa jelena” apimentadíssima. E servem ainda ali mesmo as “salchipapas”, à base, naturalmente, de salsichas.

     De tudo experimentei, pois quando se vai à um país diferente dos costumes do nosso, deve-se conhecer por sua cozinha, porque é nela que reside a “alma do povo”. Só não me anima, ao aportar a alguns países do oriente, comer cobras escalpeladas na hora ou cachorros fritos.

     Tinham-me recomendado dois restaurantes famosos em Lima, um por localizar-se num verdadeiro palácio do século XVII, todo em estilo colonial, decorado com telas famosas da época: “Trece Monedas”. Ir à Lima e não almoçar lá pelo menos uma vez para conhecer esta obra-prima remanescente de uma era de fausto, é não completar a viagem. A cozinha é francesa, com alguns pratos “crioullos” para dar cor local. Apesar do luxo, da beleza e da arte do Trece Monedas, uma refeição com iguarias francesas não chega a dez dólares, o que é preço irrisório.

     Parti para outro também recomendado como uma das maravilhas do Peru, este chinês: “Lung Fung” – verdadeiro templo mandarim plantado no bairro de São Izidro, coalhado de residências privilegiadas. O restaurante ocupa quase todo o quarteirão de tão grande, em forma de pagode (templo asiático) pintado de laca vermelha dourada, tem até um córrego que o atravessa e compõe a decoração típica, com suas plantas exóticas e carpas brilhando nas águas mansas.

     Para os adeptos da cozinha cantonesa ou chinesa, uma centena de pratos aguça-nos o apetite e o preço é ainda mais acessível do que o do outro. A colônia é vasta e em cada rua encontram-se as “chifas”, denominação dada aos seus restaurantes.

     Lima é acolhedora e o povo, embora nada bonito pelos caracteres indígenas é bastante simpático e educado. Pareceu-me franco e sincero também – pois os que ia encontrando, sabendo-me turista, avisavam logo para vigiar a bolsa pois há muitos ladrões. Como para nós brasileiros isto é fato corriqueiro, não houve espanto, embora, graças a Deus, ninguém tenha me incomodado.

     O encanto da cidade reside todo nas varandas de madeira, de influencia colonial espanhola. A maioria dos palácios e casas ostentam esses varandões que lhe emprestam um ar de mistério, como se por detrás daquelas filigranas se postassem rostos à espreita.


     Assim é toda a Praça das Armas, onde estão o Palácio Arcebispal, o Torre Tagle e oMunicipal, que constituem um harmonioso conjunto.

     Igrejas as há às dúzias, ás centenas, talvez. Ricas em altares de ouro ou trabalhados em madeira, verdadeiras obras de arte. A padroeira é Santa Rosa de Lima e lá está ela na suaIgreja e Convento onde existe um profundo poço que a tradição faz supor milagroso. Inúmeras pessoas, principalmente jovens sonhadoras e velhos doentes, atiram para o fundo do poço papéis com pedidos endereçados à Santa.

     Além da padroeira, há outro canonizado. É San Martin de Porres, considerado pelos peruanos como milagroso também.

     A Rua do Ouvidor de lá é a Jiron de la Unión, de comércio artesanal e rico em objetos de ouro, prata e pedras preciosas. Os camelôs são tantos que já transformaram as suas calçadas em autenticas feiras livres.

     Vende-se de tudo. Cerâmica de Cuzco, artefatos de couro de Puno, pirogravados em cores, roupas e ervas indígenas, ditas milagrosas, capazes de curar bronquites e até males do coração ou do estômago, além de apregoarem os afrodisíacos. Os que as vendem nada dizem, mas a redação de seus históricos em cada embalagem é bastante eloqüente e convence os ingênuos.

     As mulheres ficam acocoradas com os filhos às costas e suas fisionomias impassíveis retratam um povo sofrido qual foi o primitivo Inca. São prematuramente envelhecidas e descem das aldeias para fazer um dinheirinho com aquelas pequenas mesas conhecidas e descobertas pelos seus ancestrais índios.

     Há ainda mendigas que imagino centenárias, tamanha a quantidade de rugas que lhes sulcam o rosto.

     Uns chamam a atenção soprando nas suas “quenas” (pequenas flautas toscas) uma melodia sem sentido e modorrenta como suas caras. Talvez seja o mascar contínuo das folhas de coca que os deixa de olhos parados e estáticos à espera de não sei o que.

     A influencia forte da Espanha ainda se faz sentir na “Plaza de Toros” e no museu taurino onde se conservam troféus, como cabeças empalhas de belos miúras (touro muito feroz), bandarilhas e vestes dos “Dominguins” locais. Entretanto, a praça de touros é bem modesta e a arena não inspira nenhum matador, pela sua extensão e pobreza de acomodações.

     Quanto ao transito é caótico como o de São Paulo ou Rio de Janeiro, mas ainda respeitam os sinais religiosamente. Torna-se quase impossível apanhar um ônibus, pois são tão arcaicos e precários que mais parecem “fantasmas” saídos dos cemitérios de automóveis.

     Esta é a capital Inca vista num “close” rápido de quatro dias bem aproveitados pela beleza da sua arquitetura e de seu patrimônio histórico tão bem conservado pelos peruanos.

 

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I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!