Saturday 29 January 2011

MADE IN PARAGUAY...


Paraiso del Turista 

   
     O elemento humano fascina. A paisagem da “natureleza” e a arquitetônica ficam sem segundo plano. “Cada povo com seu uso, cada roca com seu fuso” – o brocardo (axioma, aforismo, máxima) justifica a diferença dos povos, de país para país. Essas diferenças podem ser nos hábitos e costumes, no temperamento e... no espírito civilizado e urbanístico.

     Recebo na minha primeira compra um calendário onde se vê, além da vista parcial da cidade, um jovem em trajes típicos folclóricos na dança das garrafas. Paraguay – “paraiso del turista”, a frase completa o brinde.

     No Brasil quando se ouve falar em Paraguay as pessoas se referem a um país “paupérrimo, insignificante”, quase um acidente mínimo na geografia sul-americana.

     Depois de conhecer boa parte do mundo, fui dar com os costados na vizinha terra. Que belíssima surpresa! Nem é um país paupérrimo, nem é insignificante, apesar da limitação do seu território.

     Pasmem, nós os brasileiros teríamos muito que aprender com o povo guarany num certo sentido: educação e ordem.

     Em meio à multidão, desde os mais sofisticados elementos aos mais humildes, todos tratam os seus semelhantes com a mesma gentileza, foi o que se observou. Uma senhora está prestes a tomar um ônibus? Lá vem o trocador (sem roleta nem banqueta) estender-lhe a mão, tendo o cuidado de fazer-lhe antes uma pequena reverencia como se, num recuo fantástico de tempo, estivesse na corte de Versailles. A senhora vai saltar, lá vem de novo o trocador dar-lhe a mão delicadamente para auxiliar-la no degrau que não é tão alto como o dos nossos coletivos.


     E note que são “guapos caballeros” e não maricas. Só isto bastou para despertar a minha admiração pelo nosso vizinho de fronteira.

     Cadê os mendigos, cadê os pivetes e... maravilhoso como num “reino de fantasia”, cadê os assaltantes, os marginais que nos tornam cada dia mais inseguros e indefesos, à sua mercê? Simplesmente não os há!

     E por quê? Porque lá existe um Governo que pode ser demasiado severo, drástico até, seja lá o que for, mas que zela pela integridade e a segurança de seu povo.

     Já o brasileiro com a sua reconhecida e ingênua megalomania diz que Deus é brasileiro. “Uma ova” que é. Se assim fosse, o Eterno já teria se suicidado ou trocado de cidadania.

     A verdade é que flanar por aquelas ruas torna-se um prazer despido de qualquer receio em qualquer situação, a qualquer hora. Não há também atropelamentos, embora o trânsito seja intenso e os Lincoln e Mercedes locupletem as artérias imaculadamente limpas. Não se vê um pedacinho sequer de papel atirado. Cães os há as centenas (vadios, suponho) mas não se sabe onde se deitam os seus excrementos porque as ruas e calçadas continuam brilhando de limpeza.

     E a alma do povo? Extrovertidos, os paraguaios nos acolhem sorridentes com um “bienvenido” a seu país. Onde foram aprender educação? Em que fonte foram haurir princípios requintados da civilização européia, tão distantes do Velho Mundo que estão?

     Ao contrario do observado no Peru, recentemente visitado, as pessoas são bonitas e mais avantajadas, sem a característica indígena do “fácies” peruano. Os índios autênticos que oferecem seu artesanato (bolsas,cintos, arcos e flechas), estes sim, se assemelham ao peruano comum. A mulher paraguaia se veste bem e mesmo sob o sol escaldante de um calor “carioca”, passeiam suas toaletes quase clássicas, usando sapatos altíssimos.

     Mas o objetivo principal de um turista que vai ao Paraguay é comprar. O “slogan” Paraiso del Turista naturalmente se refere a mais este aspecto. O comercio é, na verdade, uma tentação difícil de resistir, principalmente quanto ao preço e qualidade. As blusas bordadas (belíssimas, por sinal), as toalhas e jogos completos de “ñhanduti”, os conhaques franceses e o Scoth, e toda espécie de bebida importada deixam a gente louco a rebuscar nos bolsos os últimos dólares e... cruzeiros (!) para aproveitar o “the bargain”.

     A colônia chinesa, como no Peru, é vasta e suas lojas oferecem de objetos de marfim e jade, até túnicas, lenços, leques, enfim, uma enorme variedade de bijuterias delicadas – imitações perfeitas de jóias verdadeiras.

     Há hotéis, “residenciales” e pensões e todo tipo, e o mais luxuoso dos hotéis é o Ita-enramada, com cassinos, piscinas, sauna, etc. Este, naturalmente, fica reservado aos miliardários e “nouveau riches”, porque seria rematada tolice gastar cem dólares só para dormir.

     Assunción, pequena, limpa, cuidada ao extremo, não tem jamais o aspecto de pobreza de que falam os que lá nunca foram. A Avenida Marechal López, enorme, só tem de um e outro lados, mansões dos mais variados estilos, desde os “cottages” aos modernos em estilo colonial espanhol. Nas garagens, dois ou três carros, sempre de luxo. Volkswagen lá se pode contar nos dedos, de tão raros.

     Contrastando com tudo isso, apenas as precárias instalações do Aeroporto, lotado de lojinhas que, por mais estranho que pareça, vendem os mesmos artigos da cidade por preços mais acessíveis ainda. Quando se volta, ainda se faz a tentativa de descobrir algum dinheirinho escondido para acabar de vez com a angústia oniomaníaca que nos consome, olhando aquelas camisas e blusas indianas fenomenais e o “Courvosier” legítimo, “tax free”, no Aeroporto.


No comments:

Post a Comment

Search This Blog

Followers

About Me

My photo
I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!