Thursday 14 January 2010

"Pére Lachaise" - Começo ou fim? Ato segundo...





Sobe-se mais um pouco, mas sempre orientado pelo providencial mapa, e na divisão 44, o mausoléu formado de dólmens, cercado de flores de todos os matizes e igualmente de uma pequena multidão que ora, acende velas e traz mais flores. Dizem que é o túmulo mais visitado: Allan Kardec. Encimando os dólmens, a base da sua doutrina: "naitre mourir renaitre encore et progresser sans cesse telle est la loi" e mais abaixo, "as devise preferée: hors la charité, point de salut". Todos rezavam em recolhimento e concentração absoluta, uns mais fervorosos se aproximavam para tocar o busto como se daquele bronze frio pudessem emanar fluidos benéficos do seu espírito. Na mesma divisão quem fica na companhia desse iluminado ser, senão a excêntrica Sarah Bernhardt? Continua "dormindo" no caixão em que repousava em vida. Dizem que Sarah odiava o Brasil porque foi aqui que sofreu o acidente culposo no palco e que a deixou mais tarde mutilada (amputaram-lhe uma perna). Outra alma que "curtia" a excentricidade como gênio que era, também "vive" no "Pére Lachaise". Nascido na Irlanda, cumpriu o seu carma na terra num processo que abalou a era vitoriana - Oscar Wilde - o esteta de Dorian Gray, com seu ardente "affair" Lord Douglas. Imagino-lhe a figura bizarra passeando a sua exagerada elegância pelo Picadilly. Em decorrência do processo que abalou a Inglaterra, ele veio terminar seus dias em terra estranha e aqui está (?) nesta tumba faraônica como convinha à sua excentricidade. Enquanto isso, no "L´Hotel" onde morou, seu quarto vem sendo disputado até hoje por artistas e gente recheada de dólares à espera de terem a honra de dormir na cama do infeliz irlandês, hoje glória da literatura universal. Vai-se caminhando por essas paragens de eterna morada que são repousantes também para aquele que se dispuser a passar umas tantas horas entre esses mortos ilustres que entraram para a história. Rossini e Bizet estão próximos e quem sabe à noite se juntam para reviver suas óperas imortais, ou será que Chopin, nas vizinhanças de Cherubim, troca inspirações sonoras com o italiano, enquanto o poeta Musset tece louvores a "Mimi Pinson"? Alí está Balzac. acrescentará ele à sua "Comédia Humana" mais alguns tipos no afã de conseguir dinheiro para pagar as dívidas que o afliogiram sempre?
O cemitério é um bosque arborizado e muito florido e como estávamos no outono, as folhas já amarelavam e iam coalhando o chão, tecendo um imendo tapete dourado.Era uma quarta feira de trabalho que não atraira visitantes, a não ser no túmulo de Kardec, o que faz supor que o espiritismo acolhe cada vez mais adeptos, já pela necessidade que as pessoas têm de, neste mundo de fim e de começo de milênio conturbado pelas desigualdades sociais, marcado pela violência e pelas doenças misteriosas que vão surgindo (sem falar de economia...), se apegarem a algum tipo de crença; e a verdade é que todos buscam esperança naqueles que deixaram exemplos de amor e bondade. Volto sempre a esse oásis de tranquilidade todas as vezes que vou a Paris, com a mesma intençao de, reverenciando sempre , os apóstolos do bem, renovar-me para a vida diante desse jazigo simples que guarda o corpo de um homem diferente do comum dos mais, vem-me à lembrança meus verdes anos, que me trazem de volta grandes mulheres e momentos, como quando mamãe (ainda cheia de vida...) e vovó (sentia sua presença lá comigo), cujas presenças norteadoras da minha existência - tem toda razão quando diz (e dizia...) - os mortos não morrem, passam sim, para outro lado, mas continuam. Mas o que levou o professor de Lyon a codificar a nova doutrina? Segundo se conhece de sua biografia, Allan Kardec recebera a missão de entidades do espaço que também lhe comunicaram esse pseudônimo, que usara na penúltima encarnação, como sacerdote dos druidas que fora. Seu nome verdadeira era: Léon Hippolyte Denizard Rivail. Encaro a placidez do seu semblante no busto que encima a lápide. Braçadas de flores frescas, reveladoras dos muitos que ainda cultuam sua crença, estão espalhadas em derredor. Choro por dentro lembrando meus motos queridos, mas a mesmo tempo conforta-me a certeza que eles "vivem" e poderiam estar naquele momento ali, aplaudindo o meu gesto: espíritos não têm fronteiras!

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I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!