Friday 15 January 2010

Gentlemen´s land II


Sim, caminhar é a atividade cultural de minha predileção, por que não existe coisa mais sem graça do que ficar entrando e saindo de museus (que já vira antes várias vezes, of course), checando tudo que os britânicos roubaram das colônias. A cidade de Londres já é um museu. È muito mais inteligente andar pelas ruas observando as casas velhas e seu moradores jovens, os prédios baixos e os ônibus de dois andares, os músicos nos corredores do metrô e a leitura silenciosa nos vagões, ou o ar de enterro dos “pubs” à tardinha. À noite a pedida são ainda os musicais, depois de ter tomado um chope e jantado um “grub” , a comida do pub. A “Opera House” anda pouco recomendada, vez que está abarrotada de japoneses e latinos que mal sabem o enredo de “Madame Butterfly”. Pouco mais de duas horas depois, Frederico me esperava na Waterloo station. O tempo pareceu não passar para este que era o queridinho na Faculdade de Letras da UERJ e que ainda guardava nas faces rosadas o frescor da adolescência. Homem de inteligência acima da média e sempre encantadoramente elegante, era sempre um prazer imenso estar em sua companhia, fosse no Rio, São Paulo, Paris ou Londres! Anos atrás evitei de questioná-lo a respeito da sua opção de viver solitário. Certa feita, num restaurante de Paris, sem que eu nada perguntasse, apresentou-me a um rapaz um pouco mais novo, como o grande amor da sua vida! Frederico não poderia escolher melhor lugar para tentar ser feliz à sua maneira. Na Inglaterra, se o “gentleman” leva jeito de entendido e até tenha tido o seu “toma lá dá cá” no internato, o gay, por ser muito mais sofisticado, não se fecha ao sexo oposto, embora isso não signifique que goste de mulher. O elemento gay sempre fez parte da cultura britânica, mas é preciso, para se enquadrar, ser gay com atitude, sem alarde ou ânsia de “aparecer”. Oscar Wilde já questionou todas as convenções e muito mais, cento e tantos anos atrás. Nossos encontros, até hoje, são sempre cercados de gentilezas e afagos. Naquele dia fomos almoçar no “Le Caprice” e entre licores e risadas, pusemos a fofoca em dia para concluir, ao final de quase cinco horas, que estávamos lindamente solitários. Quer dizer, altos amores e viagens intelectuais, mas nada de sexo! “Temos que encontrar alguém que nos estimule também intelectualmente” , dizia. “Meu último namorado, aquele que te apresentei em Paris, lembra? Três anos atrás! Meu Deus...Três anos sem ninguém! Brigamos lá em Paris mesmo...” Quando fui falar de mim não foi diferente. Séculos sem um beijo na boca. E este é sempre o final de nossos almoços e jantares. Um a lastimar a solidão do outro e a confirmar o juramento de que cuidaremos um do outro quando a velhice chegar. Contei-lhe o episódio do “Mago do Cemitério” e seus olhos arregalaram-se, talvez como prenúncio de grande sofrimento ou grande felicidade. Era o que me dizia secretamente o seu doce e instigante olhar. Depois passeamos pela City até o cair da noite. Camden High Street, Charing Cross Road, minha preferida por causa das livrarias antigas e modernas, Cork Street, Fulham Road, Old Compton Street, Oxford Street, Regent Street. Lá pelas seis adentramos no primeiro pub com a idéia de saciar a sede e aquecer o espírito com um bom vinho branco, francês, de preferência. “Now and Forever” , fomos ver o musical CATS, por sinal recomendável, já que libera as emoções e o felino que há dentro de cada um de nós mas que infelizmente saiu cartaz depois de mais de trinta anos de apresentações em Londres. (acredito que ainda esteja em New York e em turnê pelo mundo, eu soube). A compensar o frio de Londres, a conversa se prolongou noite adentro até que na manhã displicentemente ensolarada de domingo, ele me deu carona até o aeroporto de Gatwick, prometendo-me uma vista em breves dias. Ainda bem que aprendemos a viver longe das pessoas que amamos. Ainda bem que podemos chorar quando a saudade dói. Já no ruidoso check in preparo meu espírito para a longa viagem de volta, onze horas nas quais revivi cada momento de encontro comigo mesmo...

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I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!