Thursday 14 January 2010

Voici, Edith Piaf!


"Monsieur, monsieur, s´ll vous plait" . Quem me chama nesse deserto povoado só de mortos? Volto-me, ainda confuso e assustado. Um guarda vem ao meu encontro e a minha surpresa é maior quando ele me estende um mapa do cemitério. Mostro-lhe o meu já bem velhinho (não é a primeira vez que aqui venho) e ele pede encarecidamente para ir ver Edith Piaf. Entrega-me o novo mapa onde está sublinhado com destaque o nome da cantora na divisão 97, ou seja, no final do campo santo. Nesse momento, Monsieur L´Argent tira do bolso um calhamaço e desfia sua idolatria pela saudosa Piaf. Começa a ler o poema, jura que compôs e até leu na televisão com sucesso. Decididamente o guarda não é "the right man in the right place". Revela-se, pois sim, um homem ingênuo e romântico, ingênuo demais para ser policial. Prometendo sastifazer-lhe a vontade, la fui eu em demanda pela sepultura da cantora. Não voltaria a vê-lo, pois sairia pela outra rua que fica nos fundos do cemitério e tem o nome de Rondeaux. Nada bonita em vida, tão grande na arte e no sofrimento, como soube amar a pequena Edith. Enquanto caminhava, veio-me à lembrança o seu belíssimo ¨Hino de Amor", que cantarolei em surdina. Caminhei pensando no fadário dos grandes artistas cujas vidas foram sempre pontilhadas pelo drama e pela tragédia. "Voici, Edith Piaf!" - Era assim que a apresentavam, ao som de tambores, nas mais importantes salas do mundo. A voz de Paris, sozinha no palco, de preto, luz no rosto e nas mãos. Fazia as platéias delirarem, conheceu glória e fortuna, fez tudo que quis...Teve muitos homens, entregou-se ao amor e soube cantar: "Eu irei ao fim do mundo, pintarei meus cabelos de loiro,s e você me pedir. Eu renegarei meus amigos, renegarei minha pátria, se você me pedir. Podem rir de mim, eu farei qualquer coisa, se você me pedir." (Hymme a l´Amour). Edith teve vida difícil. Nasceu nas ruas de Paris, abandonada pela mãe, criada pela avó paterna, que era dona de bordel. Foi prostituta, perdeu um filho ainda bebê, era viciada em drogas, teve câncer. O grande amor da sua vida, o boxeador Marcel Cerdan morreu num desastre de avião, indo ao encontro dela, de Paris para Nova York. Cantava a dor humana, escancarava o lado que as pessoas normalmente costumam esconder. Deparei-me alguns minutos diante do túmulo cantarolando suas músicas: "Quando ele me toma em seus braços, e me fala baixinho, vejo a vida cor-de-rosa". Aos 47 anos se casou com Theo Sarapo, um grego de 27 anos. Para cantar um dueto com ele, na sua última apresentação no Olympia, meses antes de morrer, escreveu: "Para que serve o amor?" E ele: "O amor faz sofrer...faz chorar...engana...e, quando acaba, provoca uma grande dor. Para que serve o amor?" Mais que emocionado, vi os portões de saída, criei alma nova e fui mais uma vez ao encontro da vida!

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I am one of those guys with a fat address book - maybe because all my friends tell I'm charming and clever! But as far as I´m concerned, friendship is a club of seven people which was fully by the time I was 25. We all share the same interests, and we don´t make any demands on one another in emotional terms - which is something I would avoid like the plague. It´s not that I don´t like making new friends easily...They have to cativate me at first...We all grew up in the same social, professional and geographical world that we now occupy as adults. The group of seven offers me as much security and intimacy as I require!